Por: Marcelo Constantino

Até eu sair de férias, cerca de uma semana antes do fim da temporada, havia uma dúvida sobre quem arrebataria as vagas finais na Conferência Leste. O NY Rangers estava fora, mas ainda tinha chances. Boston Bruins e Philadelphia Flyers estavam logo acima. O Montreal Canadiens estava mais acima.

Eis que os Rangers não entraram e o Montreal foi despencando até a oitava posição. Era quase um prelúdio de eliminação, visto que enfrentariam o Washington Capitals, o grande time da temporada (Troféu dos Presidentes), do grande jogador da NHL (Alex Ovechkin). Raríssimos foram os que apostaram contra os Caps.

Mas os Canadiens surpreenderam.

Verdade que, enquanto a Conferência Oeste seguia sem surpresas, todos os três principais cabeças de chave da Leste caíram. Um deles, o New Jersey Devils, era considerado forte candidato à Copa, depois de ter alugado o craque Ilya Kovalchuk. O Philadelphia Flyers destruiu o suposto candidato em meros cinco jogos.

Outro era o Buffalo Sabres, que vinha de uma bela temporada, embora seus próprios torcedores não estivessem tão empolgados assim para os playoffs (a situação era um tanto semelhante às expectativas em relação ao Phoenix Coyotes nos playoffs). Ainda assim, os Sabres eram francos favoritos frente ao cambaleante Boston Bruins. Os Bruins venceram em seis jogos. E o maior do cabeças de chave era o Washington de Ovechkin.

Precisando desesperadamente de algum sucesso nos playoffs, o time de Ovechkin era considerado pule de dez para estourar dessa vez. E até que a equipe começou fazendo por onde.

Apesar de terem perdido o jogo inicial, os Capitals abriram 3-1 na série de abertura contra os Habs. Dali por diante, não conseguiram marcar mais do que um gol por jogo, graças em grande parte a atuações espetaculares de Jaroslav Halak. O Montreal derrubava o primeiro gigante.

A vitória dos Habs na primeira fase pode não ter sido a mais surpreendente — acho que menos gente ainda esperava os Devils perderem tão facilmente —, mas seguramente foi a mais guerreira, a mais sensacional. Foi de virada. Foi encarando três jogos de eliminação seguidos, e com Ovechkin chutando de tudo quanto era maneira. Mas Halak estava lá, e os Habs seguiram adiante.

O próximo adversário seria justamente o atual campeão, Pittsburgh Penguins, favorito de muitos para repetir a dose este ano, quarto colocado na conferência. A série foi ótima, com jogos nervosos (lembro-me especialmente do final do jogo 2, quando os Habs me pareceram um tanto fora do ponto na hora de partir para cima no fim do jogo, já sem goleiro) e disputadíssimos – com exceções para o primeiro e o último. Os times alternaram vitórias sucessivamente, até que o Montreal quebrou a rotina no jogo 7.

Deixar uma série para um jogo 7 é sempre alto risco, para quem quer que seja. Pode ser um dia ruim, pode haver um desvio ruim, pode existir um mero lance que muda toda uma temporada — e depois não tem mais volta. Foi um pouco disso que aconteceu com os Penguins: um mau dia, um lance ruim, uma falha fatal... O fato é que os Habs estavam num ótimo dia e não deixaram por menos: acabaram com os campeões já no segundo período, assim que abriram 4-0 no placar.

Se até ali ainda havia alguma dúvida, precaução, etc., o gol marcado por Travis Moen em desvantagem numérica selou de vez a classificação. Pior ainda, queimou o filme do ótimo defensor Sergei Gonchar, facilmente batido no lance (as situações são diversas, mas lembrei-me do gol de Jordan Staal no jogo 6 das finais do ano passado, que mudou o panorama da série; na ocasião Brian Rafalski também fora facilmente batido). Em mau dia, o goleiro Marc-Andre Fleury foi sacado. Era o fim da linha para os Pens. Dali por diante, os Habs administraram a vitória, com a natural ajuda de Halak. Seria mais um capítulo de sucesso na espetacular empreitada de 2010.

As estrelas Sidney Crosby e Evgeni Malkin, os dois grandes jogadores da conquista do ano passado, marcaram apenas uma vez cada um em toda a série. Amarelaram? Não, dizer isso é injusto com o excelente trabalho defensivo da equipe do Montreal, que simplesmente não os deixava em paz. Por outro lado é certo que os dois não estiveram no patamar em que deveriam para que o time seguisse adiante.

Um time que vence a melhor equipe da temporada em sete jogos e a seguir vence o atual campeão também em sete jogos, e reagindo em ambas as séries, é definitivamente a grande sensação desses playoffs. O oitavo colocado derrubou nada menos que os dois maiores favoritos da conferência. E pensar que esta era uma temporada que não se esperava muito do Montreal, que andou renovando seu elenco (talvez tenha sido melhor mesmo desfazer-se de grandes nomes, inclusive do grande capitão Saku Koivu) e indicando que esta seria uma fase transitória. Coisas do hóquei.

Teoricamente os Habs pegarão um adversário mais fácil nesta final de conferência. Apenas teoricamente, porque nem Boston nem Philadelphia (esta matéria está sendo escrita antes jogo 7 de sexta-feira) estarão ali por acaso. E o pior dos cenários para os Canadiens é justamente acreditar que o mais difícil ficou para trás.

Marcelo Constantino não crê em reação após mais um Maracanazzo.

Gene J. Puskar/AP
Travis Moen e Dominic Moore celebram o gol que enterraria de vez os Penguins no jogo 7: era o 4º gol dos Habs, em desvantagem numérica, e abrindo uma vantagem de 4-0 na partida.
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Página publicada em 14 de maio de 2010.