Por Igor Vasconcelos

Jogo 1: Carolina 1-6 Montreal — o massacre de Raleigh
Parecia que a história se repetiria. Desde 2001-02, quando os Habs foram eliminados pelos 'Canes nas semifinais de conferência, viramos fregueses do outrora conhecido merecidamente como Horrorcanes. Nessa temporada foram 4 jogos e 4 derrotas, todas por placares elásticos. Parecia... Nenhuma delas foi por um placar tão elástico como o de hoje!

Com menos de um minuto de jogo, Matt Cullen parecia que ia selar mais uma vitória dos 'Canes com certa facilidade. Parecia... Francis Bouillon empatou a partida aos 8:23, aproveitando a primeira vantagem numérica dos visitantes. Ainda no primeiro período Radek Bonk fez o que seria o gol da vitória canadense. Mas não pensem que foi fácil! Enquanto o Montreal fez seus dois gols dando apenas sete chutes a gol, o Carolina bombardeava a meta de Cristobal Huet, o goleiro-sensação da temporada que pode carregar os Habs em vôos mais altos, a exemplo de Giguere nos Ducks e de Théodore nos próprios Habs.

No primeiro período, foram 16 chutes sofridos, tendo entrado apenas um. No segundo período, 19 chutes. No terceiro, parecia que os americanos se desiludiram e cansaram de chutar a gol, tendo tentado vazar o quentíssimo Huet apenas em oito oportunidades. No total, 43 chutes dos americanos contra apenas 21 dos canadenses. Analisando os números, parece até que a defesa Hábitant estava um queijo suíço, mas os bravos e destemidos "zagueiros" Habs bloquearam 22 tentativas do Carolina, "facilitando" um pouco a vida do goleiro.

Com a pontaria bem mais certeira, os Canadiens ampliaram a vantagem no segundo período, com Kovalev e Higgins. De novo, sete chutes no período. De novo, dois gols. Essa estatística se repetiu também no terceiro período. O gol de Higgins praticamente selou a vitória, pois veio num momento crucial da partida. E o de Kovalev foi, segundo o próprio, como se ele estivesse treinando, tamanha a facilidade que teve para concluir a jogada.

Após três vantagens numéricas seguidas dos Hurricanes, sendo a última com quase um minuto de 5-contra-3, a torcida local estava vaiando seu time. A situação piorou ainda mais para os donos do RBC Center quando o capitão Saku Koivu pegou o disco, passou para Niklas Sundstrom (que estava saindo do banco de penalidades), que chutou. No rebote, o bom novato Chris Higgins botou pra dentro, fazendo 4-1 na partida.

O capitão do Carolina, Rod Brind'Amour, confessou que, quando se está num 5-contra-3 e não consegue marcar o gol, fica uma frustração muito grande no time, um sentimento de que algo está dando errado: se o time não consegue marcar com dois homens a mais no gelo, o disco vai entrar de que jeito? Méritos para Huet!

Depois dessa, os Canes voltaram desanimados para a conclusão do jogo. Isso piorou quando Kovalev aproveitou uma vantagem numérica para fazer o quinto do Montreal e segundo dele no jogo.

Para fechar a noite com chave de ouro, o excelente defensor Sheldon Souray deixou sua marca, fechando a contagem em 6-1. No total, 12 jogadores do Montreal marcaram ponto no jogo, o que mostra que este time não é dependente de um jogador apenas para obter sucesso, a exemplo dos Caps de Ovechkin. Esse, com certeza, foi o dia esportivo mais feliz da minha vida, mais até do que a final da UEFA Champions League contra o Milan (primeiro, o Liverpool mostrou pro Chelsea quem é o gigante da Inglaterra. Depois, os Habs estraçalharam com os Hurricanes lá na Carolina!).

Fechando a "reportagem", as três estrelas da partida: Huet, Kovalev e Sundstrom.

Como Kovalev bem disse: "O primeiro jogo não significa nada". Então, que venham os próximos!

Jogo 2: Carolina 5-6 Montreal (2OT) — com emoção é mais legal!
Segunda partida começando como se fosse uma continuação da primeira. Os canadenses fazem 3-0 só no primeiro período, com a diferença que dessa vez não sofreram milhões de chutes proferidos pelo ataque dos 'Canes. O primeiro zero saiu do placar eletrônico com menos de 5 minutos, quando Jan Bulis fez soar a buzina. Aos 13 e 14 min, dois gols num intervalo de menos de 50 segundos, cortesias de Michael Ryder (em vantagem numérica) e Radek Bonk, contrariando as expectativas, já que ele no Ottawa passou séculos para conseguir marcar seu primeiro gol em playoffs (agora, pelos Habs, são 2 gols em 2 jogos).

Depois dessa, foi demais para o técnico do Carolina, Peter Laviolette, que tirou o goleiro Martin Gerber para Cam Ward estrear em playoffs. Ward, que foi a primeira escolha do Carolina no recrutamento de 2002, 25ª escolha no total, fez uma belíssima temporada na AHL ano passado, antes de chegar à NHL para esta temporada.

No segundo período, o ímpeto dos Canadiens se arrefeceu, enquanto que o dos americanos foi crescendo, até o momento em que Matt Cullen tirou o shutout de Cristobal Huet e Rod Brind'Amour, em vantagem numérica, encostou no marcador. Durante esse período, o jogo viveu um flashback da primeira partida: Carolina chutando a gol, Montreal se defendendo. Com o diferencial que Huet levou 2 gols em apenas 8 chutes.

Já o estreante Ward teve a vida bem mais fácil que Gerber. O austríaco viu a borracha por 13 oportunidades antes de ser retirado. E Ward, apenas 6 nos 25 primeiros minutos de sua atuação, até o fim do segundo período. Esses números se devem ao fato dos Habs terem sido extremamente faltosos no segundo período. Foram sete penalidades, sendo uma delas de 4 minutos para Richard Zednik, por high-sticking.

O que eu acho mais interessante é que, se o jogador joga o disco por sobre as bordas, recebe uma penalidade de 2 minutos! No meu NHL 2004 não tem isso não... Na verdade, eu acho esse tipo de penalidade um absurdo! E se o jogador atirou errado e o disco saiu voando pro meio da multidão, o time vai ser penalizado por isso? Em plenos playoffs, onde uma penalidade pode ser decisiva para a série? O cúmulo do exagero!

Dessa vez o jogo chegou ao terceiro período totalmente indefinido. Não havia vantagem grande por parte dos Hábitants, muito menos um Huet tão fenomenal como no domingo (também, depois de defender 42 chutes de 43 possíveis, levar 5 gols em 46 é apenas "razoável").

O período derradeiro começou em forma de blitzkrieg por parte dos 'Canes. Aproveitando-se das inúmeras penalidades cometidas pelo Montreal no segundo período, ainda computadas no início do terceiro, Ray Whitney (voltando de contusão) e Brind'Amour (de novo) protagonizaram a virada com menos de um minuto, ambos em vantagem numérica. O primeiro, inclusive, marcou durante a penalidade por disco que foi por cima das bordas, "cometida" por Bouillon. Além disso, esse gol de Whitney foi na verdade um gol contra de Andrei Markov que, tentando interceptar um passe de Whitney para Doug Weight — que escapou do fiasco dos Blues na hora certa —, jogou o disco contra seu próprio gol!

No último jogo da temporada regular o Montreal também abriu 3-0 e também sofreu uma virada pra 4-3! (Está pior que o Palmeiras, naquele jogo em que fez 3-0 no Vasco e levou 4 no segundo tempo...).

Mas eis que surge o craque, o mito, o homem, a lenda, o monumento nasofálico Alexei Kovalev, o melhor jogador da série até agora, para novamente empatar o jogo! Quase sem ângulo, o russo encheu o taco e soltou a bomba, fazendo o gol depois de duas tentativas defendidas pelo goleiro adversário. E, quando mal eu escrevia sobre o empate, Richard Zednik fez mais um para o Montreal, espantando o fantasma do 4-3, após passe preciso de Alexander Perezhogin — o melhor do time, segundo Carlos Eduardo Lopes, desta conceituada revista de hóquei TheSlot.com.br!

E os Habs voltam a chutar mais que os 'Canes, tanto no período quanto no jogo. Até que Cory Stillman ressurge das cinzas, para empatar o jogo em gols e em chutes a gol, após o técnico ter tirado Ward do gol para arriscar tudo com um atacante a mais no gelo. E o jogo, equilibradíssimo, vai para a prorrogação!

O Carolina, sentindo sua torcida, vai para cima com tudo, dominando as ações ofensivas. Apesar de o Montreal ter conseguido duas vantagens numéricas (nenhuma por disco por cima das bordas), até os 12 minutos da prorrogação não havia conseguido dar sequer um chute a gol, contra oito dos Canes. Ao final da primeira prorrogação, 14-6 pro Carolina no quesito chutes a gol, mesmo com os Canadiens tendo três vantagens numéricas contra apenas uma do time da casa.

Na segunda prorrogação, Ryder deu números finais ao jogo, precisando de apenas um chute: 6-5 Montreal, nessa emocionante partida, acompanhada por mim pelos sempre atrasados sports.yahoo.com/nhl e www.livescore.com — e 2-0 na série! Belo trabalho de Koivu, Kovalev, Ryder, Huet & cia. O ponta-direita bateu para o gol em um slapshot de primeira, após passe açucarado de Chris Higgins, que fez boa jogada por trás do gol de Ward. Fim de jogo!

Panorama do início da série

Agora, o Montreal, que tinha um ataque de questionável em produtividade durante a temporada regular, já tem 12 gols nos dois primeiros jogos. Kovalev está finalmente jogando como era esperado, mas Koivu não está como deveria. Apesar de ter duas assistências nesses dois jogos, não deu sequer um chute a gol na segunda partida! Muito pouco para quem liderou as Olimpíadas em pontos pouco tempo atrás...

Já Huet, após uma estréia fenomenal no "Massacre de Raleigh", não obteve números tão impressionantes, é verdade, mas foi imprescindível para o time nos momentos mais cruciais, como na primeira prorrogação, por exemplo.

Para a continuação da série, a franquia de maior sucesso da história do hóque pode ter um desfalque importantíssimo: Sheldon Souray, que jogou apenas cinco minutos no primeiro período, não retornando mais ao gelo. Ele marcou um gol no primeiro confronto e tinha +2 de saldo no segundo jogo. Será preocupante jogar sem ele, que, junto com Rivet, é o zagueiro mais consistente dos Canadiens.

Já para o Carolina a dúvida está em Martin Gerber. O ex-reserva de Giguere em Anaheim chegou à Carolina do Norte no início da temporada para ser finalmente titular. E não decepcionou! Estabeleceu o recorde de vitórias da franquia (38), tendo atuações excelentes. Entretanto, no seu primeiro jogo em playoffs, levou seis gols em 21 chutes, fator determinante para a derrota, posto que seu adversário debaixo das traves levou só um em 43... No segundo, foram 3 gols em 13 chutes, com menos de 15 minutos. O suficiente para Peter Laviolette perder a paciência e tirá-lo, deixando no ar a dúvida para a continuação da série: Gerber ou Ward?

Para o Montreal Canadiens, é só garantir seus jogos em casa, com a vibrante torcida de Quebec lotando o Centre Bell para dar apoio ao time, ao som de "Go, Habs, go!". E que venham os Sens!


Igor Vasconcelos está jogando esses playoffs no seu NHL 2004. Curiosamente, no dia da goleada, ganhou dos ‘Canes por 6-2, com hat trick de Kovalev e gol de Higgins... Ah, e a série terminou 4-2 pros Habs. Seus Habs virtuais pegarão os Sens na próxima rodada.
HUET O melhor goleiro da temporada mostra seu valor nos playoffs.
(Karl DeBlaker/AP - 2006)
KOVALEV A maior contratação dos Canadiens nos últimos anos brilha no início da série. Que nariz! Que monumento!
(Karl DeBlaker/AP - 2006)
GOLEADA Merecidamente, o Montreal comemora após o fim do Massacre de Raleigh.
(Karl DeBlaker/AP - 2006)
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Página publicada em 26 de abril de 2006.