Ales Hemsky conduz o disco pela zona neutra, se desvencilhando dos jogadores dos Red Wings. Já no campo de ataque é atacado por três adversários e perde o disco, mas Sergei Samsonov, sozinho, o recupera, patina na diagonal e dá um passe perfeito até a segunda trave, onde estava Hemsky para finalizar. Gol dos Oilers, 4-3. No relógio, 1:06 por jogar.

Os jogadores comemoram pulando no gelo, erguendo seus tacos para o alto, se abraçando. Manny Legace, goleiro dos Wings, não vê nada: de cabeça baixa, olhos fechados, espera pelo derradeiro momento em que todo aquele pesadelo terá se acabado.

Desespero. E sem goleiro os Red Wings buscam o empate. Com 15 segundos por jogar Mathieu Schneider desfere um chute e Ethan Moreau, sem ter seu taco em mãos, sacrifica seu próprio corpo e se atira para desviar o chute para longe do gol.

Restavam apenas 5,5 segundos. Mike Babcock, treinador de Detroit, pede tempo. Conversa com os jogadores e a imagem da TV focaliza Steve Yzerman. Quando os jogadores retornam ao gelo estranhamente Yzerman permanece no banco de reservas. Não se sabe o motivo, mas neste momento o Capitão balançou a cabeça em sinal de negação. Robert Lang, ao seu lado, fez o mesmo.

A última jogada não resultou em milagre. Fim de jogo, os Oilers invadem o gelo. Fim da linha para os Red Wings.

...

Sucessivamente a história se repetiu ao longo dos anos. Em 2001, 2003 e 2006 os Wings foram eliminados na primeira rodada. Em 2004 caíram na segunda rodada. A exceção se deu em 2002, quando foram campeões.

Ao contrário do que a capa desta edição afirma — que os Red Wings caíram frente à zebra —, está cada vez mais fácil acreditar que a zebra verdadeira foi a conquista da Copa Stanley em 2002, porque é isso que os fãs estão pensando após ver o time ser eliminado ridiculamente pela terceira vez seguida.

E analisada friamente, a campanha de 2002 teve três momentos que poderiam ter mudado o desfecho daqueles playoffs. Na primeira rodada, contra o Vancouver Canucks, os Red Wings perderam os dois primeiros jogos em casa, para somente com um gol histórico de Nicklas Lidstrom virar a série no jogo 3. Se aquele disco não entra, era provável que a virada nunca acontecesse. Nas finais, o Carolina Hurricanes venceu o primeiro jogo na prorrogação e os Wings somente venceram a partida seguinte graças a outro gol de Lidstrom no terceiro período. No jogo 3 os Hurricanes caminhavam para a vitória quando no último minuto Brett Hull desviou um chute e empatou. Claro que à época esses fatos não passaram pela mente dos fãs, mas hoje é possível identificar tais momentos como determinantes entre uma campanha de “amarelões” ou de “vencedores”.

Os números provam que o grande problema do time nunca foi o goleiro — embora essa seja a mais importante peça do jogo — e sim a incompetência em marcar gols. Sabe qual é a média de pontos por partida dos Red Wings nos últimos 22 jogos de playoffs, desde 2003? Seis. O que são seis pontos? Dois gols e quatro assistências, por exemplo.

Como vencer jogos marcando míseros dois gols?

E então você tem Pavel Datsyuk, sem dúvida alguma um dos melhores jogadores da liga em temporada regular — porque agora se faz necessário diferenciar a “pré-temporada de 82 jogos” da verdadeira temporada chamada "playoffs". Foram nove assistências em 21 jogos. Nenhum gol.

Brendan Shanahan, três gols e dez pontos. Nicklas Lidstrom, três gols e 11 pontos. Mathieu Schneider, dois gols e 11 pontos. Henrik Zetterberg, nove gols e 11 pontos.

E a lista continua, com números medíocres para o time todo. Zetterberg se salvou nessa série contra Edmonton, mas seu passado também é "amarelo". Robert Lang, alvo de muitas críticas, também se salvou, ao lado de Steve Yzerman, o único que parece não sentir qualquer diferença entre disputar um jogo 6 fora de casa prestes a ser eliminado ou brincar com um de seus filhos no quintal.

Ponto final para as exceções. Adaptando o que foi dito por Franz Beckenbauer durante a última Copa do Mundo de Futebol sobre a Seleção da Alemanha, os demais jogadores dos Red Wings, salvo Yzerman, poderiam ser colocados dentro um saco e espancados, que sempre seria acertado alguém que merecia.

Mas não foi apenas a incapacidade de fazer gols que derrubou os Wings. É inadmissível que um time repleto de veteranos tenha atuações tão abaixo da média. Em todos os jogos foram muitos os momentos — quase todos — em que o time aparentemente não se esforçava como deveria. Apatia total.

Tome como exemplo o próprio Edmonton. Em um dos jogos, no mesmo lance três jogadores dos Oilers se atiraram no gelo para bloquear um chute. Não foi algo como se um estivesse tentando fazer o que o outro deveria ter feito mas não fez. Não. Eles estavam mesmo dispostos a se oferecerem dessa forma pelo sucesso da equipe.

Esse tipo de lance representa tudo que tem sido dito sobre o elenco dos Red Wings e sua atuação em playoffs desde 2001. Você não vê três jogadores de vermelho-e-branco se atirando destemidamente pelo gelo nem em uma série inteira. Falta coração. Falta raça, garra, determinação, empenho, entrega. O time não empolga, é como se estivesse desligado da tomada ou com as pilhas fracas.

Duro acreditar que esse mesmo time, de outubro a abril, consagrou-se como o melhor da liga.

Difícil acreditar, também, que o gerente-geral Ken Holland, contrário a grandes mudanças, modifique o elenco como deveria para a próxima temporada. Isso significa ponderar seriamente se vale a pena trazer novamente os veteranos cujos contratos expiraram, inclusive Chris Chelios e Shanahan, dois dos favoritos da torcida. Holland poderia aproveitar a provável aposentadoria de Yzerman para iniciar uma reformulação na equipe, visando prepará-la para anos melhores. Que sirva o exemplo do San Jose Sharks: uma troca em novembro e um novo time em mãos graças a um único jogador, Joe Thornton.

A derrota dos Red Wings na segunda-feira significou o fim de uma era. Mas todos os fins são também começos. Embora, quando acontecem, não saibamos disso.


Humberto Fernandes finalmente compreendeu que a verdadeira temporada da NHL começa em abril. O que vem antes não significa absolutamente nada.
DESOLADOS Qual dos jogadores acima teve o maior salto alto na eliminação diante do Edmonton Oilers?
(John Ullan/CP - 01/05/2006)
VALEU, FOI BOM, ADEUS! O último tapinha nas costas recebido por Manny Legace como goleiro titular dos Red Wings. Assim espera a torcida.
(Jimmy Jeong/CP - 01/05/2006)
ARTE DO FÃ Ilustração de Flávio de Moura, também conhecido como Zeh Ferreira, fã de longa data dos Red Wings. Para conhecer seu portfólio basta preencher nosso formulário de contato.
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Página publicada em 4 de maio de 2006.