Por Michael Rosenberg

Steve Yzerman diz que sabe o que vai fazer. E ao menos uma vez, esse suspense misterioso é fácil de com-preender:

O Capitão planeja se aposentar.

Yzerman sempre esteve indeciso quanto ao seu futuro nos últimos anos. Mas após a eliminação dos Red Wings na segunda-feira à noite em Edmonton, Yzerman disse que sabe o que vai fazer e que irá se pronunciar dentro de uma semana.

Há duas razões para a demora. Até mesmo na derrota, Yzerman não quer ofuscar seu time. E ele sabiamente está tirando alguns dias para confirmar seus planos. Mas nesse momento o retorno de Yzerman é apenas pouco mais provável que o de Ted Lindsay.
[Nota do tradutor: Lindsay tem 81 anos e disputou 13 temporadas em Detroit entre 1944 e 1957]

Se você pensa que Yzerman voltará para sua 23.ª temporada, entenda isso: ele quase não terminou sua 22.ª.

Yzerman esteve perto de se aposentar no meio da temporada. Muito mais perto que muita gente imagina.

Quão perto?

A um jogo.

De acordo com duas pessoas que conheceram suas idéias, Yzerman teve sérias discussões com os Red Wings sobre se aposentar no fim de novembro. Ele tinha até mesmo um último jogo em mente: 1.º de dezembro em casa contra Calgary.

Quando os Wings jogaram dia 26 de novembro em San Jose, Yzerman fez o inusitado pedido de não ser escalado.

"Meu joelho estava doendo," Yzerman disse então. "Eu apenas quis tirar um dia de folga, pra descansar."

Esta é apenas uma parte da história. Apesar de que ninguém tenha notado, Yzerman foi acertado na cabeça contra o Anaheim na noite anterior. A combinação da dor na cabeça com seus problemas no joelho era demais para superar. E apesar da maioria de seus companheiros de time não perceber, o fim da carreira de Yzerman parecia próximo.

Yzerman estava frustrado por sua incapacidade de fazer jogadas como ele fazia apenas dois ou três anos atrás. E para decepção de Yzerman, o novo treinador dos Wings, Mike Babcock, parecia não ter muita fé em sua estrela. Enquanto os predecessores Scotty Bowman e Dave Lewis respeitavam e consideravam Yzerman, Babcock não.

Babcock concedeu a Yzerman apenas 6 minutos e 37 segundos de jogo contra Anaheim. No jogo anterior a esse, o tempo de gelo foi de 6:17.

Yzerman compreensivelmente não queria ser um jogador de seis minutos por noite. Mas ele parecia preso a aquele papel. Os outros dois centrais dos Wings estavam obtendo sucesso: o estilo de criar jogadas de Pavel Datsyuk parecia perfeito para a nova NHL, e Robert Lang fez cinco assistências sozinho no jogo em San Jose.

Então veio a irônica mudança: ao invés de se aposentar por causa de uma contusão, Yzerman evitou se aposentar por causa de uma contusão.

Foi na noite de 28 de novembro, dois dias após Yzerman pedir para não ser escalado. Os Wings estavam jogando em Los Angeles. Supostamente era pra ser o último jogo de Yzerman fora de casa. Ao invés disso esse jogo mudou sua temporada.

No começo do segundo período, Lang sofreu uma contusão na virilha. Menos de cinco minutos depois, Yzerman deu a assistência para o gol de Mathieu Schneider. Poucos minutos depois disso, o Capitão marcou seu próprio gol.

Com Lang fora do time, Babcock não teve escolha a não ser dar a Yzerman mais tempo de gelo. E com sua performance contra L.A. (ele quase marcou duas outras vezes), Yzerman subitamente tinha motivos para pensar que poderia jogar em alto nível novamente.

Os Wings vieram para casa para o jogo de 1.º de dezembro contra Calgary. Mas a aposentadoria de Yzerman estava agora suspensa. Ele continuou a melhorar, e no último mês, Yzerman foi um dos melhores jogadores dos Wings — um desenvolvimento que parecia impossível poucos meses antes.

No final do que foi certamente o último jogo de Steve Yzerman, os Wings tinham uma última chance de um milagre. Era um face-off na defesa do Edmonton. Se você conhecesse a carreira de Yzerman, saberia que ele venceria aquele face-off.

Tinha apenas um problema.

Babcock não deixou Yzerman disputar o face-off. Na verdade, Babcock nem mesmo pôs Yzerman no gelo. (Pavel Datsyuk disputou o face-off e o venceu). Foi uma escolha infeliz de Babcock. Mas essa é uma prova para Yzerman que, oito dias antes de seu 41.º aniversário e cinco meses depois de quase se aposentar, ainda parecia ter o seu lugar no gelo.

Yzerman pode sair sabendo que deu tudo de si, muito mais do que qualquer um de nós. Gordie Howe é Senhor Hóquei, mas Steve Yzerman é Senhor Red Wing. Ele é sinônimo da franquia, talvez o mais respeitado atleta na história da cidade de Detroit.

Será estranho, muito estranho, olhar pelo gelo da Joe Louis Arena sem chance de ver o número 19. Mas se isso te faz se sentir melhor, você poderá encontrá-lo no teto.


Michael Rosenberg escreve para o Detroit Free Press. O artigo acima foi publicado na edição de 3 de maio de 2006 e traduzido por Humberto Fernandes.
PARA SEMPRE A imagem do maior atleta que a cidade de Detroit já viu. Para muitos, o maior Capitão da história do hóquei. Ídolo, herói, mito.
(John Ulan/CP - 01/05/2006)
ESPERANÇA Steve Yzerman em toda sua carreira como um Red Wing carregou a esperança de milhares de torcedores que sempre confiaram nele como símbolo do time.
(Jimmy Jeong/CP - 01/05/2006)
COM O PÉ ESQUERDO Steve Yzerman deixa o gelo do Rexall Place após a eliminação dos Red Wings nos playoffs. Terá sido sua última vez?
(Jeff Vinnick/Getty - 01/05/2006)
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Página publicada em 4 de maio de 2006.