Por: Alexandre Giesbrecht

Sexta passada à noite. A edição da semana já está fechada e no ar há dois dias, mas não é cedo demais para começar a trabalhar na edição seguinte. Por isso, é hora de navegar atrás de informações, opiniões e lances quentes.

Decidir por onde começar foi fácil, porque às 19h53 meu colega de redação Humberto Fernandes mandou um e-mail para todos avisando sobre um "blog" escrito pelo gerente geral do Anaheim, Brian Burke, para o jornal USA Today, focando os dias que antecederam o dia-limite de trocas. O texto nem é tão grande, mas tem pérolas que eu não podia imaginar que um GG teria coragem de publicar.

"Converso com o assistente de GG do Florida, Randy Sexton, sobre Todd Bertuzzi", escreve Burke, "e ele me diz que 'o cara que [eles querem] é Corey Perry'. Respondo com uma grosseria. Se você se ofende com grosserias, é difícil fazer uma troca na NHL. Se você quer me roubar, ao menos use uma máscara."

Em outros trechos, Burke cita os nomes de jogadores de seu elenco que ele envolveu em conversas. Não só jogadores que acabaram negociados — afinal, os Ducks trouxeram apenas Brad May —, mas também jogadores que ainda estão na folha de pagamento dos Ducks. Ou seja, muito mais do que eu esperava ver. Eu realmente achava que o tal diário teria vários eufemismos e generalizações como "um defensor" ou coisa parecida.

Fico imaginando qual seja o impacto disso entre os jogadores. Provavelmente nenhum admitiria, mas muitos têm um ego grande demais para aceitar que seus nomes sejam ventilados assim à imprensa, de uma maneira inédita. Isso teria algum impacto na atuação de algum desses jogadores? À primeira vista, a resposta parece ser não: a campanha dos Ducks depois do dia-limite é de 2-0-1.

Independentemente disso, por que Burke resolveu escrever tal diário?

Segundo Scott Burnside, da ESPN.com, em primeiro lugar, a liga pediu que ele o fizesse. Em segundo lugar, ele acredita que os times, especialmente nos EUA, precisam fazer o máximo de esforço para manter uma ligação com suas torcidas. Burnside é direto ao avaliar a explicação: "Nesse segundo ponto, ele está certíssimo. Tenho de admitir que eu adorei ler seu diário." Burke até escreveu o diário de próprio punho (ou teclado), pediu para seu pessoal de relações públicas dar uma olhada e manteve o controle sobre o conteúdo.

Se Burnside gostou, outros não gostaram muito. Jack Todd, do jornal Montreal Gazette, acha que Bob Gainey, GG dos Canadiens, não deve ser convidado para sentar-se à mesma mesa de Burke por algum tempo. Tudo por causa de dois parágrafos publicados no diário.

"Ligo para Bob Gainey e pressiono-o para descobrir se ele pretende negociar algum de seus defensores", conta Burke na mensagem de 21 de fevereiro. "Gainey diz que não tem certeza se será um 'vendedor'. O tempo começa a se tornar um problema. Decido pressionar o assunto, mas não chego a lugar algum."

Até aí, tudo bem. O problema é a mensagem de quatro dias depois: "Craig Rivet é trocado com o San Jose pelo Montreal, e eu ligo para Gainey a fim de choramingar porque ele não me ligou de volta dizendo que Rivet estava disponível. Ele me disse que eu tinha chegado tarde à festa, que ele estava conversando com Doug Wilson havia três semanas. Muito justo."

Por que Gainey não tentou conseguir uma oferta melhor dos Ducks é algo que não entendo. E a mídia canadense também não. O único que deu declarações a favor de Gainey foi justamente o próprio Rivet: "Bob não deve nada à imprensa. Ela acha que tem o direito de saber tudo o que está acontecendo, e não tem. Bob tem um plano, e ele é um cara muito, muito inteligente."

Muito justo.

Quem também não gostou muito da publicação do diário foi o dirigente de um outro clube (não os Canadiens), que ligou para Burke para reclamar. Ele não apontou um assunto específico, mas questionou se era uma boa tornar tais discussões públicas.


É uma pena que tanta gente tenha torcido o nariz para uma idéia tão bacana quanto a publicação do diário. Eu acho até que todo GG deveria manter um blog parecido na Internet. Obviamente, com um pouco menos de detalhes que Burke deu ("um defensor" estaria de bom tamanho), mas seria uma maneira interessante de as diretorias dos times prestarem contas a seus torcedores.

Pronto. Mais uma vez os Penguins têm um chilique, e tanto imprensa como torcida começam a esperar o pior. Na segunda-feira, o time divulgou uma carta em que critica a oferta dos governantes da cidade, do condado e do estado e ameaça: "Então, não temos escolha a não ser declarar um impasse e notificar o comissário Gary Bettman de que vamos explorar agressivamente uma mudança de cidade."

Palavras fortes, mas nada mais que um blefe. O time pediu truco. E, de acordo com o desenrolar das coisas, os governantes não estão a fim de pedir meio-pau, porque os Pens realmente têm o Zap na mão (leia-se a proposta de Kansas City de uma arena sem aluguel, em que o time teria à sua disposição metade da receita).

Talvez fosse o que faltava para a cidade mostrar sua mão (que não tem nenhuma carta maior que o ás) e finalmente resolver dar ao time o que ele quer. A pressão é grande sobre o prefeito Luke Ravenstahl, que busca a reeleição em novembro, e, principalmente, sobre o administrador do condado, Dan Onorato, cuja reeleição é quase assegurada pela falta de adversários, mas que pretende concorrer ao governo da Pensilvânia. O futuro político de ambos seria seriamente afetado pela eventual despedida do time.

Ainda mais quando o time começa a demonstrar que tem no gelo um futuro brilhante. Os playoffs parecem próximos, e os jovens Sidney Crosby (artilheiro da liga), Evgeni Malkin (artilheiro entre os novatos) e Jordan Staal (ninguém na liga tem mais gols em desvantagem numérica que ele) parecem evoluir a cada dia. Se eles forem ser campeões em Kansas City — ou Houston ou Las Vegas —, será um gosto amargo para Pittsburgh.

Mas não se engane: a liga não está tão contente assim com a idéia de uma franquia na cidade do Missouri (Kansas City não fica no Kansas) e Pittsburgh sempre demonstrou ser uma cidade que abraçou seu time. E ela tem poder de veto sobre qualquer mudança, ainda que os donos do time em questão não gostem da idéia.

Se eu tiver de apostar, aposto que em outubro teremos hóquei em Pittsburgh.
Alexandre Giesbrecht tem 30 anos. Seu irmão também. Mas não são gêmeos nem adotivos.
Steve Mitchell/AP
Burke teve de dar explicações sobre seu diário a seus pares.
Ed Zurga/AP
As obras do Sprint Center, em Kansas City, continuam, mas ainda não se sabe se seus inquilinos serão os Penguins.
(06/03/2007)
Jonathan Hayward/CP/AP
Muitos em Pittsburgh vão lamentar se Sidney Crosby e os Penguins comemorarem uma Copa Stanley em Kansas City.
(06/03/2007)
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Página publicada em 7 de março de 2007.