Por: Thiago Leal

Mais uma vez o Anaheim Ducks chega de forma valorosa à final da Conferência Oeste. A ocasião acontecera duas vezes nos últimos quatro anos e as coisas em Orange County acontecem de uma forma que o torcedor dos Ducks pode esperar que continue a se repetir algumas temporadas adiante.

Resta agora saber: será 2007 semelhante a 2003 ou a 2006?

No ano de 2003, os Ducks sobraram na fraca Divisão do Pacífico, encerrando a temporada regular em segundo lugar com quase 20 pontos de vantagem sobre o Los Angeles Kings. Na Conferência Oeste, os Ducks se colocaram em sétimo, e em sua terceira participação em pós-temporada na história, iria enfrentar pela terceira vez o Detroit Red Wings. Nas duas ocasiões anteriores, em 1997 e em 1999, os Wings varreram os Ducks.

Nos palpites da edição 41 de TheSlot.com.br, nenhum colunista, obviamente, deu crédito aos Ducks. Apenas Thomaz Alexandre acreditou que os Ducks levariam o desafio até o jogo 7, onde cairiam. Claro, afinal de contas os Poderosos Patos de Anaheim eram aquela franquia patética de filme da Disney para a sessão da tarde da Globo, enquanto os Asas Vermelhas de Detroit defendiam a Copa Stanley.

Como acredito que não temos muitos leitores recentes — pois dificilmente alguém passou a acompanhar NHL recentemente, agora que não a temos mais nas madrugadas da ESPN, todos sabem como terminou a série. O Anaheim venceu os quatro jogos, todos por diferença de um gol — 2-1 (P) e 3-2 em Detroit, 2-1 e 3-2 (P) em Anaheim — e varreu os campeões da Copa Stanley nas quartas-de-final. A série terminou exatamente como começou. No jogo 1, Paul Kariya marcou o gol que iniciou a varrida histórica. Steve Rucchin a fechou no jogo 4. Mas era Jean-Sebastien Giguere, que defendeu 64 chutes no jogo 1 da série, só para se ter uma idéia de suas atuações, quem começou a estabelecer seu status de ídolo em Orange County.

Os Ducks caminharam para a semifinal na condição de zebra, enquanto o Dallas Stars, vindo de uma série também fácil contra o Edmonton Oilers (4-2), trazia o favoritismo nas costas. No dia 24 de abril, em Dallas, o jogo foi até a quinta prorrogação, para enfim os Ducks vencerem por 4-3. Petr Sykora foi o autor do gol no dramático jogo. Dois dias depois, nova prorrogação no American Airlines Center. Os Ducks venceram novamente, 3-2. Pelo menos essa só durou um tempo extra. Depois de perder a primeira partida em Anaheim por 2-1, os Ducks venceram o jogo 4 por 1-0. Estavam com 3-1 na série, mas tomaram 4-1 dos Stars no Texas. A série ficava em 3-2 e, era de se esperar, os Stars vencessem novamente em Anaheim e virassem a série em casa — afinal, foram os líderes da Conferência Oeste. Os Ducks venceram por 4-3 no Arrowhead Pound of Anaheim e decretaram a série por encerrada. Sandis Ozolinsh foi o herói da vez.

Pela primeira vez em sua história, o Anaheim chegava à decisão do Troféu Clarence Campbell.

Vamos dar uma pausa na quase-vitoriosa campanha de 2003 e avançar um pouco para 2006.

Os Ducks vinham de uma temporada trágica, 2003-04, e de uma segunda escolha geral em recrutamento — que resultou em Bobby Ryan, atualmente no Portland Pirates da NHL. Os Ducks no entanto não eram mais os mesmos. A Disney não era mais detendora do clube, já pertencente ao Sr. e Sra. Samueli. E o nome Mighty Ducks of Anaheim só duraria até o final da temporada, pois tratava-se de uma marca registrada pela Walt Disney Company.

Certamente só torcedor dos Ducks para acompanhar uma temporada capenga onde o clube alternava constantemente entre oitavo e nono lugar no Oeste. A renovação era o principal assunto da crítica quando se referiam aos Ducks, e já davam como encerrada a temporada 2005-06, apontando o Anaheim como um clube promissor para os anos seguintes (caso de Washington Capitals e Los Angeles Kings hoje em dia).

Só no final da temporada regular os Ducks conseguiram algum fôlego e deram uma arracanda suficiente para superar Colorado Avalanche e Edmonton Oilers, segurando-se em sexto lugar na classificação final e evitando Detroit Red Wings e Dallas Stars na primeira rodada dos playoffs. O Calgary Flames seria o adversário (ainda assim, favorito).

Calgary e Anaheim alternaram derrotas e vitórias durante os seis primeiros jogos da série e, acho que já vi esse filme antes, os Ducks venceram suas três partidas por diferença de um gol (4-3, 3-2 e 2-1). Este último resultado, por sinal, trazia debaixo dos paus o goleiro praticamente novato Ilya Bryzgalov, que jogava devido a uma contusão de Giguere, que acabou prejudicando as atuações do herói de 2003. O russo Bryzgalov foi determinante na vitória do jogo 6 em Anaheim e, principalmente, no jogo 7, em Calgary, quando defendeu todos os 22 chutes sofridos e garantiu os 3-0 dos Ducks que fechava a (não tanto) surpreendente série em 4-3.

De volta a Anaheim, Bryzgalov brindou os fãs com mais dois jogos sem sofrer gol e os Ducks deram surras de 5-0 e 3-0 no Colorado Avalanche. Tudo bem que os Avs haviam ficado abaixo dos Ducks na classificação geral, mas mesmo assim ainda eram os Avs de Joe Sakic. O Anaheim Ducks era aquele time desacreditado no começo da temporada.

Assim como a varrida no Detroit em 2003, os Ducks varreram o Colorado em 2006 — fecharam a série em Denver com 4-3 (P) e 4-1. Viraram logo de cara favoritos ao título.

Pela segunda vez em sua história, os Ducks chegavam à decisão do Troféu Clarence Campbell.

Agora, de volta a 2003...

Os Ducks abriram a série contra o Minnesota Wild vencendo na segunda prorrogação do jogo 1 por um chato e dramático 1-0, no dia 10 de maio. Depois de dois jogos sem sofrer gols — os Ducks venceram por 2-0 e 4-0, e Giguere já acumulava três jogos invicto —, o Anaheim fechou a série em 4-0, vencendo o jogo 4 por 2-1 em casa. A essa altura, já estava óbvio que os Ducks venceriam o Troféu Clarence Campbell, e Paul Kariya não se atreveu a tocar na taça, como alguns costumam acreditar. Ducks chegava à final da Copa Stanley.

Para a partida contra o New Jersey Devils, no entanto, o time se desmontou. O ataque provou que não existia. E Giguere, que não agüentava a pressão como se acreditava. Os Ducks chegaram tomando dois shutouts (3-0 e 3-0) em Trenton. A estrela de Giguere voltou a brilhar em Anaheim e o time venceu do jeito que sabe. Por um gol de diferença, na prorrogação: 3-2 e 1-0.

É incrível como nesta final as coisas ocorreram de acordo com a crença popular e o mando de gelo pareceu fazer diferença. Os Devils entraram em vantagem novamente por 6-3 em Trenton. Os Ducks fizeram um grande jogo 6 em Anaheim (o que não havia feito até então na série) e venceram por 5-2.

Giguere voltou a falhar no jogo 7, cedeu rebotes quando não podia, os Ducks perderam por 3-0 e encerraram o sonho da Copa Stanley. Ainda assim, o goleirão venceu merecidamente o Troféu Conn Smythe.

Mike Babcock, hoje no Detroit Red Wings, é considerado o verdadeiro artesão desta quase conquista dos Ducks. A franquia californiana não tinha à época a defesa que tem hoje em dia, com Scott Niedermayer, Chris Pronger ou François Beauchemin. Quem teve de jogar o comum foi Ozolinsh, Kurt Sauer e Ruslan Salei. Foi necessária uma postura de "não podemos vencer, então vamos não-perder". E foi praticamente assim que jogou em toda pós-temporada. Os Ducks não precisavam atacar. Precisavam defender-se e estava de bom tamanho.

E foi isso, talvez, que os tenha derrotado para o agarra-agarra do New Jersey Devils nas finais.

Enquanto isso, em 2006...

Já eram outros Ducks. Randy Carlyle já estava treinando o clube, enquanto Mike Babcock se mudara para Detroit. O ataque tinha Teemu Selanne de volta. A defesa agora estava reforçada por Scott Niedermayer e François Beauchemin. O ataque via surgir Chris Kunitz, Ryan Getzlaf, Dustin Penner e Joffrey Lupul, e Andy McDonald consolidar-se como futura estrela do time. Ou seja, dá pra imaginar por que acredita-se num futuro tão bom para o Anaheim.

Os Ducks jogaram em 2006 mais ou menos com a mesma premissa de 2003, com uma diferença: agora com potencial ofensivo, o time poderia distribuir melhor seu jogo entre ataque e defesa. O peso que havia nas costas de Giguere em 2003 não era tão grande quanto o que ele e Bryzgalov carregavam na pós-temporada corrente, até porque agora dividiam a responsabilidade.

O problema foi enfrentar um Edmonton Oilers que vinha embalado e inspirado nas atuações de Pisani, Peca, Smyth e de Pronger (hoje em Anaheim). De cara, os Ducks perderam as duas partidas que abriram a série em casa, e isso foi determinante para o fracasso no sonho de chegar à sua segunda decisão de Copa Stanley.

Se em 2003 os Ducks perderam por ter um time fraco e também por falta de experiência, desta vez perderam por um momento sensacional dos Oilers.

O ano de 2006 acabou servindo para que o Anaheim e seu gerente geral, Brian Burke, mostrassem o que seria o time dali para frente.

Logo, em 2007...

Temos o resultado. O Anaheim Ducks é um time bem armado. Trouxe Chris Pronger, determinante para a temporada sensacional que vem fazendo. Para isso, abriu mão de Lupul. Afinal de contas, já se tem Penner, Getzlaf, Kunitz, cada vez mais se firmando como os jogadores principais da equipe. Beauchemin tem feito grande diferença na defesa também, e o time tem dois bons goleiros onde um consegue dar cobertura ao outro. Pensando na pós-temporada, Burke também adquiriu Brad May e Ric Jackman — esse, infelizmente, sofrendo de espasmos dorsais, afastando-o do time nas últimas rodadas.

Seja o que for, os Ducks de 2007 são melhores que os de 2003 e de 2006.

O time foi todo montado pensando nos playoffs (não há prova mais clara que isso do que a aquisição de May). Posto em prova com seu real objetivo, os Ducks têm funcionado bem.

Pela frente está o Detroit Red Wings. Não teremos, seguramente, os resultados de séries passadas. E chega a ser paradoxal, os Wings, menores que em 2003, pegam os Ducks, maiores que em 2003, e de jeito nenhum teremos aquela varrida. Também não teremos as varridas dos Wings de 1997 ou 1999. A única coisa em que acredito é que o favorito nesta série é o Buffalo Sabres que, certamente, descansado, irá enfrentar um adversário morto após uma série de sete jogos bem cansativos e disputados.

Thiago Leal se envergonha por não ter uma posição definida a respeito da série, pede pra c*g*r e sai.
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Steve Rucchin, um dos personagens principais do inesquecível primeiro semestre de 2003.
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Sai que é sua, Jiggy! Nem Rucchin, nem Kariya, nem Sykora. O homem debaixo dos paus foi o verdadeiro herói da histórica pós-temporada.
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Bryzgalov pára o Avalanche: fazendo as vezes de Giguere em 2006.
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Apresentação de Pronger, ao lado do Sr. e Sra. Samueli e Scott Niedermayer, lá no começo da temporada. Todos esperavam que o time chegasse até aqui.
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Entre o barbudo russo e o barbudo franco-canadense, eu fico com o barbudo brasileiro. Descanse em paz, Enéas!
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Página publicada em 9 de maio de 2007.