Por: Humberto Fernandes

Dominador
adjetivo e substantivo masculino
1   que ou o que domina; que ou o que detém o poder, a autoridade
2
  que ou aquele que tem um caráter autoritário e procura dominar
3
  que é indicador de, que revela autoridade
Sinônimos
ver Dominik Hasek

Dominik Hasek
substantivo próprio
1   goleiro; Copa Stanley
2   Troféus Hart; Troféus William Jennings; Troféus Lester Pearson
4   equipes defendidas
6
  Troféus Vezina
15   temporadas na NHL
39   na camisa
42   anos de idade

O treinador Mike Babcock pouco se importa com o que está escrito no dicionário. Para ele o que interessa é vencer jogos e por isso em quatro dos últimos cinco jogos do Detroit Red Wings ele deixou Hasek esquentando o banco de reservas.

Tempos estranhos, onde o goleiro dono do maior número de troféus individuais na história da liga não vence jogos. Ou estranho mesmo seria continuar jogando hóquei aos 42 anos?

Talvez finalmente Hasek esteja sofrendo das limitações impostas pelo tempo. Não é possível, após 42 primaveras e diversas contusões, ter a mesma agilidade e os mesmos reflexos da época em que reinava absoluto, quando consagrou-se por seis temporadas seguidas com o maior percentual de defesas da NHL.

Mas é preciso ter paciência para não condenar prematuramente aquele que por diversas vezes deu a volta por cima quando todos esperavam o pior.

Após vencer a Copa Stanley com os Red Wings em 2002, Hasek se aposentou pela primeira vez. Em 2004, entretanto, surpreendeu o mundo do hóquei ao anunciar seu retorno. De volta aos Red Wings, disputou apenas 14 partidas antes de se contundir gravemente e perder o restante da temporada. Nova aposentadoria? Não. Veio o locaute e a chance de se retirar culpando a imbecilidade alheia. Também não. De volta à América, assinou contrato com o Ottawa Senators para a temporada 2005-06 e arrasou, liderando a liga em diversos quesitos até sofrer uma séria contusão durante os Jogos Olímpicos de Inverno. Perdeu o restante da temporada, inclusive os playoffs, mas não se aposentou. Reatou seu romance com os Red Wings, capítulo atual de sua história.

Em Detroit, durante a temporada 2006-07, temeu-se por mais uma baixa como as duas anteriores, mas Hasek manteve-se saudável e em forma, conduzindo a equipe até as finais da Conferência Oeste, o suficiente para lhe render mais um ano de contrato. Um ano de contrato que, aos 42, traz embutido como cláusula obrigatória um ano de desconfiança. Porque a cada falha, a cada gol sofrido aponta-se o dedo para a data de nascimento. Velho demais, lento demais...

As estatísticas dão suporte aos críticos. Em 11 jogos na temporada, Hasek venceu cinco, sofrendo 2,90 gols por partida enquanto defendeu apenas 86,4% dos chutes, o que o classifica como o pior goleiro da liga entre aqueles que disputaram pelo menos oito jogos. Existem diferenças entre ser o pior entre Henrik Lundqvist, Roberto Luongo e Martin Brodeur e ser o último entre Alex Auld, Andrew Raycroft e Johan Holmqvist. Hasek está atrás de todos esses.

"O Guia do Mochileiro das Galáxias", de Douglas Adams (1952-2001), diz que a resposta para a pergunta fundamental sobre a vida, o universo e tudo mais é 42. Hasek terá 43 nos playoffs. Game over.

Próxima fase: Chris Osgood.

No dicionário de palavras há muito tempo em desuso, lá está:

Chris Osgood
substantivo próprio
1   goleiro; Troféu William Jennings
2   Copas Stanley; trocas na carreira
14   temporadas na NHL
35   anos de idade
Sinônimos
ver cone do Detran; barril de Gatorade

Por incrível que pareça, é nele que Babcock tem confiado para vencer jogos. Por isso Osgood irá para o terceiro jogo consecutivo como titular na quinta-feira.

Aos 35 anos, em sua terceira temporada como goleiro reserva dos Red Wings, Osgood está em sua melhor forma. Ele lidera a liga em média de gol sofrido por partida, apenas 1,76, com o sexto maior percentual de defesas, 92,5%, enquanto é o terceiro em número de vitórias, 11.

Mas é preciso ter muita calma antes de elevá-lo ao posto de titular dos Red Wings e depositar nele a esperança da conquista da Copa Stanley em 2008, porque, afinal de contas, é o Osgood.

Bicampeão da Copa Stanley em 1997 e 1998, estabeleceu uma relação de amor e ódio com a torcida. É muito querido pelos fãs norte-americanos, que o idolatram por sua histórica ligação com a equipe, desde o recrutamento de 1991. No primeiro título, era reserva de Mike Vernon. No segundo, o questionado titular. Ao longo dos playoffs de 1998 Osgood quase pôs tudo a perder, mas o time como um todo era tão bom e a motivação pelo bicampeonato era tão grande que nem ele pôde impedi-lo. Em julho de 2001 os Red Wings o colocaram na desistência, após a contratação de Hasek. Perambulando por New York Islanders e St. Louis Blues nas três temporadas seguintes, não foi mais do que um goleiro inseguro em times tecnicamente fracos. Retornou aos Red Wings, capítulo atual de sua história.

Como reserva de Manny Legace em 2005-06, Osgood não comprometeu, o que lhe garantiu mais um ano de contrato, em parte graças à falta de opções no mercado. No ano seguinte, já com Hasek na equipe, quebrou o galho quando o titular precisava descansar. Ao longo dos três anos como segunda opção, acumulou 42 (!) vitórias em 64 jogos — somando-se também os números espetaculares desta temporada. Embora tenha um número expressivo de vitórias (ele é o 16.º maior vencedor em todos os tempos), Osgood beneficiou-se por passar a maior parte da sua carreira na máquina vermelha dos Red Wings, atuando por alguns dos melhores times que a franquia já produziu.

Enquanto ele mantiver a boa fase e continuar vencendo jogos para a equipe, pouco importa o que o dicionário diga, porque Babcock é daqueles treinadores que não se preocupa com substantivos e adjetivos. No time dele joga quem está melhor, ponto final.

No entanto, ele ainda é Chris Osgood e do outro lado ainda está Dominik Hasek. E nesse falso embate entre dominador e dominado, o dicionário não faz sentido.

* Extras *
Não é filme em dvd, mas tem final alternativo, sugerido por Flávio de Moura, do blog RedWingsBrasil:
"E nesse falso embate entre dominador e dominado, quem leva a melhor são os cardiologistas e os psiquiatras que cuidam dos torcedores do Detroit Red Wings. A ansiedade que assola o público antes e a raiva durante os jogos garantirão um peru de Natal do tamanho de uma avestruz na mesa de cada um deles."

Humberto Fernandes tem sofrido com a falta de tempo, por isso apelou para o tema-comum — leia-se Detroit — na edição de hoje.
Gary Malerba/AP
Em péssima temporada, Dominik Hasek tem sido alvo fácil dos atacantes adversários...
(17/11/2007)
Dave Sandford/Getty Images
... mas ainda assim ele é Dominik Hasek, com seu currículo invejável e a alcunha de Dominador.
(07/11/2007)
Gregory Shamus/Getty Images
Em ótima temporada, Chris Osgood tem vencido jogos para o Detroit Red Wings, tornando-se momentaneamente o titular da equipe...
(27/11/2007)
Dave Sandford/Getty Images
... mas ainda assim ele é Chris Osgood, e quem está há algum tempo no hóquei conhece suas fraquezas e limitações.
(07/11/2007)
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Página publicada em 28 de novembro de 2007.