Por: Thiago Leal

São por volta de duas da manhã, horário de Brasília. Aqui no Nordeste, no núcleo paraibano de TheSlot.com.br, uma hora mais cedo devido à não-aderência da região ao horário de verão, este colunista ouve o Vancouver Canucks abrir a contagem em cima do Anaheim Ducks. Era o segundo período da partida, o qual ainda viu mais dois gols dos Nux... na partida que terminou em 4-0 para a franquia canadense, com o último gol assinalado no último período. Os nomes da partida foram Markus Näslund e seus dois pontos e, obviamente, Roberto Luongo por seu shutout.

É estranho abrir um artigo que fala sobre a recuperação do Anaheim Ducks dessa forma. Mas eu também não poderia ignorar que o último resultado do ascendente campeão da Copa Stanley foi uma derrota pra lá de amarga, com direito a Todd Bertuzzi no gelo contra seus ex-colegas. O Anaheim perdeu para os Canucks porque, mais uma vez, atuou de forma patética. Nada de novo na Temporada 2007-08. Chris Pronger falhou feio no primeiro gol dos donos da casa, os atacantes seguem em ritmo horrível — especialmente Andy McDonald, e nem a (praticamente inexistente) cobertura de Mathieu Schneider aos homens de frente deu resultado. Os Ducks atiraram 26 vezes ao gol dos Canucks e não vazaram Luongo uma vez sequer.

Se tudo isso fosse no final de outubro, no início de novembro... o torcedor da franquia da rica Orange County sem dúvida teria sérios motivos para se preocupar. Os Ducks desse período estavam mais para Mighty de que para campeões de Copa Stanley e os indícios eram de quem as chances de bi-campeonato ou mesmo de vaga na pós-temporada seriam cada vez menores.

Com a recente recuperação dos Ducks, impulsionados principalmente por vitórias seguidas sobre Los Angeles Kings e San Jose Sharks, o caráter dessa derrota para os Canucks é, por hora, perfeitamente normal. Podemos enquadrá-lo apenas como uma noite ruim de um time que está se encontrando.

Como se deu esse processo?

Quando fechamos a matéria de capa da edição 169, os Ducks traziam um retrospecto de fazer inveja a qualquer Capital de Washington ou Coiote de Phoenix. Venceu quatro de seus 13 jogos, perdendo, obviamente, os outros nove. O quatro se reverteu e, atualmente, embora não seja de se comparar ao Detroit Red Wings ou ao Dallas Stars, está com números bem mais agradáveis: 25 jogos, 11 vitórias, quatro derrotas em prorrogação/cobranças de pênaltis e 10 derrotas. O aproveitamento que era de 30,7% saltou para 44% e da penúltima para a segunda colocação no Pacífico — com três jogos a mais que os Sharks, vale salientar. O posto na Conferência Oeste também ajuda. Agora em 8.º lugar, o Anaheim entra definitivamente na briga por vaga na pós-temporada, apesar de que o rendimento não leve a crer que o time saia da zona de 11.º a 6.º lugar ao longo da temporada.

O grande suporte para a virada dos Ducks na temporada foi uma "impressionante" seqüência de quatro vitórias contra seus adversários preferidos: Los Angeles Kings e San Jose Sharks. Até encarar os rivais, os Ducks estavam com 17 jogos e apenas seis vitórias. Dos seis jogos de Divisão disputados, obteve sucesso em apenas dois deles: uma vitória sobre os Kings em Londres, por 4-1, e uma sobre os Coyotes no Arizona por 5-2. Nos demais, a franquia foi massacrada pelos Stars e pelos próprios Kings e Coyotes.

A partida contra os Sharks, a primeira na temporada, era a quarta de uma seqüência de 10 jogos dentro da Divisão do Pacífico. Os três primeiros foram justamente a já citada vitória sobre os Coyotes e derrotas para Stars e, novamente, Coyotes. O clima para encarar os "tubarões" não era nada bom.

O San Jose largou na frente com Torrey Mitchell. Os Ducks só vieram empatar no segundo período com Ryan Getzlaf, e na mesma etapa os Sharks pularam na frente com Joe Thornton em vantagem numérica. O Anaheim só igualou novamente no último terço de jogo, quando finalmente Andy McDonald apareceu para resolver alguma coisa na temporada. Este empate bem que poderia ter sido emblemático, uma vez que Big Mac é um dos veteranos da equipe e parece ainda não ter entendido que herdou a responsabilidade de Teemu Selanne de liderar o ataque. Ryan Getzlaf fechou a contagem nas penalidades a favor do Anaheim e a franquia, em casa, venceu o que seria o primeiro tiro para a reação.

A partida seguinte, contra o Los Angeles Kings em Anaheim, poderia ter se desenhado de uma forma bem desagradável, uma vez que os Ducks abriram 3-1 nos dois primeiros períodos e permitiram o empate ao final da última etapa do jogo. Os números destacam Ryan Getzlaf mais uma vez e a receita dos gols seguiu a que qualquer torcedor dos Ducks conhece: bela cobertura dos defensores, Pronger, Schneider, François Beauchemin e Kent Huskins. O empate em 3-3 alcançado pelos Kings no 3.º período não tiraram o gás dos Ducks, que venceram mais uma vez na cobrança de pênaltis. Corey Perry marcou o gol decisivo.

Depois de receber os rivais, o Anaheim Ducks foi visitá-los. Os Kings vieram primeiro na seqüência e a partida coroou a linha Chris Kunitz-Getzlaf-Perry como o que a franquia tem de melhor na atualidade, se é que isso já não é certeza. O trio marcou três dos seis gols do time na noite, sendo Perry o destaque com três pontos sendo dois gols. Os outros três gols foram marcados por Brad May, Samuel Pahlsson e Rob Niedermayer. Discreto, McDonald contribuiu apenas com uma assistência e os Ducks saíram com 6-3 no placar.

O capítulo final desta pequena saga se deu em San Jose. O jogo terminou empatado em 1-1 e a linha Kunitz-Getzlaf-Perry mais o apoio da defesa foi novamente a responsável pelo resultado. Novamente nos pênaltis, o Anaheim venceu os Sharks. Novamente Perry chutou a cobrança decisiva. Quatro vitórias consecutivas e a reação consolidada.

Ainda restavam três jogos da seqüência do Pacífico, e eles consistiam em visitar os Stars e receber Coyotes e Kings. E nesse capítulo, percebe-se que as franquias de Dallas e Phoenix têm sido a espinha na garganta do pato. Foram duas derrotas... 2-1 para os Stars e 4-3 para os Coyotes, contra seu ex-goleiro Ilya Bryzgalov, cedendo o resultado apenas nas cobranças de pênaltis. Até agora os Ducks perderam os três confrontos com os Stars e perderam três dos quatro que teve contra os Coyotes. A facilidade que existe contra Kings e Sharks está ausente contra Coyotes e, principalmente, contra Stars. Algo que me diz que essa pedra nos patins há de incomodar o Anaheim até as vésperas da pós-temporada e será decisiva para a classificação — ou eliminação.

O jogo que precedeu a partida descrita no início desta coluna foi mais uma vitória sobre os Kings. Tudo bem que os 3-2 desta vez não foram decididos nas cobranças de pênalti. Mas Getzlaf (dois gols) e Kunitz (gol decisivo) foram os nomes da partida que começou com 2-0 para os Kings ainda no primeiro período. Todd Bertuzzi também se destacou com duas assistências, entre elas uma jogada construída junto a McDonald que resultou no gol vencedor de Kunitz. A vitória segurou o Anaheim na vice-liderança do Pacífico.

É difícil dizer se essa reação de fato é segura. Os Ducks venceram os principais jogos que a construíram de forma apertada, sendo boa parte deles nos pênaltis. O time está entre razoável e bom e certamente permanecerá na briga. Mas um time que inspira essa confiança dificilmente sairá do patamar de 11.º a 6.º na Conferência. OK, o pato levantou vôo. Mas um voozinho bem capenga.

Thiago Leal ouve "Original of the Species" do U2 ao mesmo tempo que lê A Origem das Espécies de Charles Darwin.
Victor Decolongon/Getty Images
Corey Perry dá trabalho à defesa dos Kings. O ala-direito tem decidido jogos pelos Ducks.
Christian Petersen/Getty Images
Chris Kunitz (à direita) recebe cumprimentos de Andy McDonald e Todd Bertuzzi: o jovem ala tem se mostrado melhor que os dois veteranos.
AP Photo/Henry DiRocco
Ryan Getzlaf dá trabalho aos Kings. Ninguém em Anaheim tem sido melhor que o central.
AP Photo/Tony Gutierrez
Jean-Sebastien Giguere lamenta o gol de Brenden Morrow (10). O Dallas massacra novamente e vem sendo o carrasco dos Ducks na temporada.
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Página publicada em 29 de novembro de 2007.