Por: Thiago Leal

Foram 13 jogos — quatro vitórias, nove derrotas, sendo duas na cobrança de tiros livres (ou seja, pênaltis). Entre os resultados negativos, derrota por 4-0 para os Blue Jackets, em Columbus, para os Blues por 4-2 em St. Louis, para os Coyotes por 1-0 em casa, e para os Kings por 4-1 no primeiro jogo da temporada. É assim que o Anaheim Ducks abre sua primeira campanha pós-campeonato da Copa Stanley.

Um começo tão ruim chega a ser pior que o início do Carolina Hurricanes na temporada 2006-07, quando o então campeão da Copa Stanley teve sete derrotas nos seus 13 primeiros jogos, incluindo uma vergonhosa seqüência de abertura com quatro resultados negativos consecutivos.

É inevitável que, com esse trágico retrospecto de abertura, surjam interrogações a respeito dos Ducks para a temporada atual. Existe possibilidade do bicampeonato acontecer — coisa que a NHL não vê desde 1998 com o Detroit Red Wings? A minha resposta a princípio seria... não. Os Ducks não vão conseguir o bicampeonato. E, obviamente, nesta toada não virá nem a vaga na pós-temporada.

Mas, afinal de contas... o que está acontecendo com os Ducks? O time voltou aos tempos de Mighty Ducks of Anaheim, quando de poderosos tinham só o nome?

Analisando os dois últimos dois jogos dos Ducks... as derrotas para o Edmonton Oilers e para o Phoenix Coyotes, ambas em casa, não surpreende tanto o fato de que o Anaheim Ducks jogou melhor. A franquia preto-dourada-laranja de Orange County foi superior ofensivamente a seus dois adversários. Em termos de domínio de jogo, os Ducks foram superiores aos Coyotes e, no mínimo, equiparado aos Oilers — tanto que, contra esses, a derrota veio nos tiros livres. Mas houve um pequeno problema lá atrás, que foi uma certa sobrecarga sobre François Beauchemin e sobre o capitão Chris Pronger. O ano passado a resposabilidade de Beauchemin e Pronger era dividida com o então capitão Scott Niedermayer.

É verdade que Niedermayer faz falta. Num esquema onde os Ducks contavam com uma defesa sólida e dependia muito de vantagem numérica, ter apenas dois defensores de porte assumindo a responsabilidade por mais de 1/3 do tempo de jogo significa sobrecarregá-los. Niedermayer dividia essa função com Pronger e fazia com que Beauchemin fosse apenas um trunfo para a defesa. Mas o ponto principal, o que mais faz falta aos Ducks no momento é... Niedermayer exercia com perfeição a função de subir o time para o ataque e de dar cobertura aos três homens da frente.

Entendendo o problema... defensivamente os Ducks vem funcionando com regularidade. Sean O'Donnell e Joe DiPenta bem que tentam fazer o serviço sujo, bloquear chutes... e a função tem sido exercida. Mas falta o apoio defensivo no ataque ainda existe — novamente, responsabilidade de Beauchemin e de Pronger, sendo este último um dos líderes da franquia em pontos atualmente. Mas não funciona tão bem quanto quando ainda havia Niedermayer na sombra. Talvez seja essa a diferença que permita o Ducks ter uma boa vantagem em chutes e em ofensividade, ter um bom bloqueio de chutes... e mesmo assim não funcionar.

De qualquer forma, situação de Niedermayer segue curiosamente indefinida e o mesmo não tem sido relacionado pelo Anaheim Ducks, que o suspendeu após a ausência nos treinos de pré-temporada. Seu nome está no elenco da equipe, mas seu futuro por enquanto é incerto. Niedermayer pára, mesmo aos 34 anos de idade com algum gelo pela frente por patinar? Os Ducks o relacionarão de volta para os jogos e o defensor segue sua carreira? Não se sabe. Então, até segunda ordem o clube não pode contar com o jogador. Por hora, esqueçam Niedermayer.

E os Ducks adquiriram alguém que poderia suprir Niedermayer, que foi o Mathieu Schneider. Um pouco mais velho, com contrato de dois anos com o Anaheim, Schneider viria para a defesa com características parecidas com Niedermayer e iria direto no ponto de suprir uma possível ausência do ex-capitão. Mas, se aos 38 anos Schneider ainda tem gás para queimar e seria um jogador chave no esquema dos Ducks, o lado físico responde de outra forma. Lesionado durante a pré-temporada, o veterano ainda não jogou na temporada regular e figura a lista de jogadores machucados. A previsão inicial era de quatro semanas. Schneider esperou seis para poder voltar a patinar. Já retornou aos treinos, mas ainda não se sabe sobre seu retorno. Se começou a patinar agora, Schneider ainda tem algum trabalho pela frente até entrar em forma para jogar novamente. Tanto que segue na lista de jogadores lesionados.

Esperar por melhoras para Schneider os Ducks não podem. Não adiantaria tentar adaptar essa função a DiPenta e O'Donnel porque as características são distintas demais para haver tal sincronia, ainda mais de forma imediata. Uma possível resposta poderia ser Kent Huskins? O defensor atua com regularidade. Está longe do nível ofensivo de Niedermayer, Pronger, Schneider... mas é o que os Ducks tem de mais próximo no momento. Liberar o homem para subir poderia ser uma alternativa. Não se sabe se dá para confiar em Huskins, mas diante da demora que deve ser o retorno de Schneider, quem sabe uma tentativa para sanar essa dúvida valeria à pena.

E se falta apoio da turma de trás ao batalhão da frente, então as coisas também não estão correndo tão bem assim no ataque? Nem tanto. Quem havia de evoluir, como se esperava na temporada passada, vem evoluindo: Ryan Getzlaf e Corey Perry têm sido o que os Ducks tem de melhor na frente. Os dois vêm cumprindo os prognósticos e as expectativas — tanto que o Anaheim tem, sim, tido um bom volume de chutes a gol. Quem vem decepcionando é quem é mais experiente e deveria ajudar a guiar essa turma: Rob Niedermayer, Samuel Pahlsson e Todd Marchant. Andy McDonald vem atuando mal, mas não chega a estar tão ruim quanto os dois já citados e Todd Bertuzzi está lesionado. Dos mais "antigos", Chris Kunitz é o único que tem trabalhado ao nível da jovem dupla à frente. O trabalho de Getzlaf e Perry contando com a ajuda de Kunitz apenas vai todo para o lixo. E, em tempo: Getzlaf e Niedermayer estão lesionados. Nada grave como Schneider ou Bertuzzi, mas no momento que vive os Ducks atualmente, qualquer jogo a menos, especialmente para Getzlaf, faz uma falta considerável.

O ataque sentiria falta de Teemu Selanne? Certamente. Diferentemente do defensor Niedermayer, o atacante finlandês pode ter sua situação indefinida, mas não dentro dos Ducks: na dúvida entre parar e continuar, Selanne está como agente livre e não incomoda a franquia de Anaheim com a situação. E também não volta: o teto salarial não permitiria. De qualquer forma, talvez com Selanne na frente a pontaria melhorasse, o que significaria mais gols. Mas melhor que contar com a volta impossível do finlandês seria um rendimento melhor por parte de Niedermayer, Pahlsson, Marchant e McDonald.

Logo, tudo com o que os Ducks contam são possibilidades. O rendimento não é trágico, mas poderia e deveria ser melhor. Não há porque esperar uma carta na manga que cause reviravoltas. Está tudo aí... basta trabalhar.

A sorte dos Ducks é que o certame ainda está por se desenhar e as coisas no Pacífico não vão tão bem assim de parte alguma. O San Jose é o melhor da Divisão com 12 jogos e 13 pontos, contra 13 jogos e 10 pontos do Anaheim, o penúltimo colocado no momento. Mas que fique claro que o Anaheim é, no momento, a equipe mais fraca em rendimento do Pacífico — mais até que o Phoenix Coyotes, com 8 pontos em 10 jogos. A situação está crítica, não está desesperadora e ainda há muito por acontecer. Mas se vai haver uma reação, precisa ser rápida, porque, com esse retrospecto, em breve a situação ficará de fato complicada. E aí esse cheiro de pato frito que paira no ar significará a mesma vergonha vivida pelos Canes na temporada passada, quando sequer foram à pós-temporada.

Thiago Leal torce pelo Boston Red Sox e fica feliz em poder comemorar, num mesmo ano, os títulos da Copa Stanley e da Série Mundial. Ah, se não fossem seus malditos Corinthians e Tottenham Hotspur no futebol...
Layne Murdoch/Getty Images
Ryan Getzlaf, o melhor do time na atualidade: com ele lesionado a coisa vai ficar ainda mais difícil.
Winter Classic Stadium
Robert Laberge/Getty Images
Chris Pronger na sua função habitual, de defensor, tendo ainda que suprir a função de dar cobertura aos atacantes.
Prudencial Center
Robert Laberge/Getty Images
Kent Huskins patina com uma interrogação sobre a cabeça: alternativa até a volta de Schneider?
Novos uniformes
AP Photo/Henry DiRocco
Pahlsson e veteranos como Niedermayer, Marchant e McDonald seguem decepcionando na hora de ajudar os mais novos.
Edição Atual | Edições anteriores | Sobre TheSlot.com.br | Comunidade no Orkut | Contato
© 2002-07 TheSlot.com.br. Todos os direitos reservados. Permitida a reprodução do conteúdo escrito, desde que citados autor e fonte.
Página publicada em 31 de outubro de 2007.