Por: Eduardo Costa

Não olhe agora, mas os Penguins estão quentes. E não é porque a ave glacial encontrou uma fenda profunda e exclusiva no Pólo Sul para acasalar impunemente.

O time da Pensilvânia vem de seis vitórias consecutivas, incluindo aí a espirituosa vitória no histórico Clássico de Inverno e um massacre contra os Leafs. Ty Conklin "está" Johan Hedberg versão turbo, sendo determinante entre as traves. Na outra extremidade do gelo, a sociedade Sidney Crosby e Evgeni Malkin rende dividendos em profusão.

Com isso, a equipe está a apenas um ponto do líder de sua divisão, o New Jersey Devils, quando exata metade da longa estrada já foi percorrida — e com cinco pontos a mais em comparação com o mesmo período da temporada passada, quando retornaram aos playoffs após longo e tenebroso hiato.

Hail, Conklin!
Quando o titubeante titular Marc-André Fleury foi parar no departamento médico há cerca de um mês, o técnico Michel Therrien apostou em Dany Sabourin. Mas os problemas na meta do time da cidade do aço não cessaram, e o agora PhD em jogos ao ar livre Ty Conklin acabou sendo o destino da chamada de emergência. Só que o que estamos vendo nas últimas semanas é um goleiro que apresenta um nível de jogo bem superior ao demonstrado por Fleury em 2007. O que era desespero vem se transformado em solução.

Ty Conklin está no meio de uma sequência positiva ainda mais generosa que a de sua equipe, tendo vencido os oito jogos que começou como titular nesta temporada. Dois shutouts nos últimos quatro embates também conspiram a favor.

Como o planeta assistiu atentamente ao Clássico de Inverno, pudemos ver que o goleiro vem se destacando pelo estilo sóbrio. Raramente vemos Conklin dando piruetas e duplos carpados (?), mas seu ótimo posicionamento entre as traves é que vem justificando os meros 12 gols sofridos na temporada e 95,6% de defesas.

Na vitória por 3-0 sobre o Florida Panthers, no último sábado, foram 35 defesas. A que mais chamou a atenção foi em um chute de Anthony Stewart, quando a partida ainda estava sem dono. O goleiro creditou o sucesso no lance na sua já mencionada boa colocação:

"Ele chutou em mim mais do que qualquer outra coisa", disse Conklin. "Eu estava apenas no lugar certo e na hora certa."

Os companheiros também destacam que o goleiro não oferece muitas segundas chances aos atacantes adversários. Agora, basta à legião de torcedores dos Penguins torcer para que essa fase de Conklin não seja mais um momento Brian Boucher na NHL.

Evgeni Malkin, tirânico contra os Leafs!
Após Sidney Crosby brilhar no Clássico de Inverno em Buffalo, o time voltou para Pittsburgh, onde vitimou o Toronto Maple Leafs por 6-2, tendo como protagonista o outro ás do time, Evgeni Malkin.

E tenho a necessidade de dizer que o jogo foi entretenimento puro do início ao fim. Isso, é claro, visto pela ótica do time da casa. Um hat trick, dois nocautes e mais algumas jogadas que levantaram de seus assentos os torcedores presentes à Mellon Arena. Se pudéssemos pegar esse Pens-Leafs e adicionar aquela atmosfera vista no Clássico de Inverno em Buffalo, precisaríamos apenas de uma moldura.

Apesar de Jason Blake manter o hábito de marcar gols contra o Pittsburgh, ele não fez a diferença. Ainda mais com Malkin brindando a todos com sua virtuosidade. O russo anotou seu primeiro hat trick na carreira, e hat trick é como condenação por atentado violento ao pudor: o primeiro a gente nunca esquece. Ainda mais se, segundos antes de concretizá-lo, você arrancar exclamações das tribunas.

Se o amigo leitor baixou a partida ou tiver a possibilidade de ver melhores momentos bem generosos, repare o que Malkin faz quando faltavam 4:36 para o término do terceiro período.

Durante uma vantagem numérica, posicionado no círculo direito e, após receber um passe de Crosby, ele redireciona o disco de forma pouco ortodoxa, porém genial, para Sergei Gonchar, que estava no lado oposto. Se eu soubesse descrever em palavras exatamente o que ele fez, eu estaria automaticamente na Academia Brasileira de Letras — ou algo do gênero. Os deuses do hóquei compensaram Malkin na mesma jogada. O disco voltou pra ele e a bomba passou homericamente por Clemmensen. Bonés ao gelo para celebrar o hat trick de Malkin.

Sid Crosby também fez das suas. Ele coletou assistências nos dois primeiros gols de Malkin. No primeiro, tirou da cartola um spin-o-rama para se desvencilhar de Nick Antropov e servir Malkin.

Até aí, existia alguma resistência por parte dos Leafs, mas, logo no início do terceiro período, três gols em um intervalo de 48 segundos demoliram as esperanças azuis. Tyler Kennedy foi quem arrombou a porteira, com um golaço que poderia ter a assinatura de gente com mãos boas, como Alex Ovechkin, Pavel Datsyuk ou Crosby. Por falar nesse último, ele foi o mentor intelectual do quarto gol: mesmo cercado por Ian White, Hal Gill e Antropov, ele deixou Malkin em condição perfeita para vencer o goleiro adversário. Se marcado bem e por gente de calibre ele já faz um estrago, então marcado por seres limitados como Gill e White... tinha que dar nisso.

A fúria goleadora se manteve com Petr Sykora. Quando a "voz" da Mellon Arena ainda anunciava os assistentes do quarto gol, o tcheco aproveitou que o disco e Andy Wozniewski não se "entenderam", e mais um disco foi parar nas redes do pobre Clemmensen. Adicionando o já citado espetacular terceiro gol de Malkin, temos desenhado os 6-2 finais. Categórico.

Mas, ora, se não deu no disco, que tal no braço?

Bem, no braço a coisa foi tão feia quanto no disco para os Leafs.

Ruutu, o flagelo nórdico!
Darcy Tucker buscava alguém em quem testar suas habilidades pugilísticas. Tentou Erik Christensen, que é tão violento e agressivo quanto eu sou culto e bem vistoso (?). Óbvio que Jarkko Ruutu estava atento à pouco nobre idéia de Tucker e convidou o canadense para a "grande dança".

O resultado foi um duelo brutal, com ambos os atletas trocando direitas potentes e certeiras no início do combate. Mas Ruutu cansou da troca e resolveu ser o protagonista, acertando duas dezenas de socos em Tucker, que foi para o banco de penalidades com sangue jorrando de sua face. Se o editor-chefe do Globo Esporte visse isso, certamente esconder-se-ia embaixo da cama e chamaria pela mãe em sinal patético de pavor...

Malone, o quebra ossos
Como se não bastasse Tucker ser finalizado (?) por Ruutu, tivemos Mark Bell apanhando de Ryan Malone. Após começo equilibrado, Bell foi açoitado por Malone e tentou fugir por duas vezes do confronto, o que só aumentou a dor da derrota. Enquanto Bell, ferido na batalha — o jogador dos Leafs terá que passar por cirurgia, já que fraturou o osso orbital —, ia direto para o vestiário dos visitantes, o telão também mostrava Tucker com sangue escorrendo em sua face no banco dos Leafs. A torcida dos Pens, tal qual os espectadores dos épicos embates entre leões e filisteus no Coliseu de Roma, foi ao delírio.

O que vem por aí?
O momento favorável deixa a equipe em condições de pleitear um dos primeiros lugares do Leste. E, como os próximos confrontos serão diante de adversários perfeitamente vencíveis, o time pode até acumular uma leve camada de gordura. A começar pelos Panthers na terça — vitória fora de casa por 3-1 —, seguindo contra Bolts e Thrashers.

Uma gordura que será valiosa mais adiante, já que a briga na conferência promete ser árdua como na última temporada, com vagas sendo rifadas até o último dia. Mas se Ty Conklin der seqüência às suas sólidas aparições, os ases se mantiverem no ritmo atual e novatos como Tyler Kennedy e Kris Letang continuarem contribuindo, não há como duvidar dos Penguins versão 2008.

Notícia chocante de — quase — última hora
Nem tudo são suculentos crustáceos na dieta dos pingüins e seus fiéis seguidores. O Condado de Allegheny, onde se encontra a cidade de Pittsburgh, criou uma nova taxa que aumenta em 10% os preços das bebidas alcoólicas. Embora tenhamos remotas chances de ir à Mellon Arena e lá apreciar uma jarra do precioso líquido, é sempre com pesar que damos esse tipo de notícia. Nas imortais palavras do Coronel Kurtz, no clássico Apocalipse Now: "O horror... o horror!"

Eduardo Costa lê os blogs NHL Brasil e Red Wings Brasil.
Don Wright/AP
Brett McLean, dos Panthers, passa, mas o disco fica. Ty Conklin surpreende positivamente a torcida dos Pens.
(05/01/2008)
Gene J. Puskar/AP
Sergei Gonchar e Sidney Crosby congratulam Evgeni Malkin, que acabara de anotar o seu primeiro hat trick na NHL. Good times!
(03/01/2008)
Gene J. Puskar/AP
Jarkko Ruutu, impiedoso, mói (?) Darcy Tucker. Chora, Globo Esporte.
(03/01/2008)
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Página publicada em 9 de janeiro de 2008.