Por: Eduardo Costa

Vestir outra camisa que não a dos Maple Leafs não estava nos planos de Mats Sundin após completar sua 14.ª temporada em Toronto. Quando o então interino gerente geral Cliff Fletcher fechou definitivamente as portas para o sueco na última entressafra da NHL, sobraram duas opções: aposentadoria ou recomeçar sua carreira em outra organização.

Se dependesse da opinião de Borje Salming, Sundin estaria agora envolto a alguma outra atividade que não o hóquei da NHL.

Salming e Sundin possuem mais do que a nacionalidade em comum. Ambos tiveram uma longa e produtiva passagem pelos Leafs. A Sundin pertence o recorde de quase todas as principais estatísticas ofensivas da franquia, exceto a de maior assistente, ainda sob a posse de Salming. Ambos tiveram que lidar com a afiada e venenosa imprensa da maior cidade canadense. Ganharam o respeito da gigantesca torcida e souberam lidar com a pressão que vinha de fora do gelo. Porém não conseguiram levar o time ao ponto máximo do hóquei.

No momento em que escrevo essas linhas, já são 15.274 dias sem Copa Stanley circulando pelas mãos dos jogadores dos Leafs, e uma gigantesca parte desse período de seca foi vivido em primeira pessoa por esses dois indivíduos.

Salming, após 16 temporadas vestindo o azul e branco, fez valer seu status de agente livre e foi atuar em sua última temporada na NHL pelo Detroit Red Wings. O ex-linha azul em uma conversa com Sundin confessou que até hoje se arrepende de não ter se aposentado como um atleta dos Maple Leafs. Quando atuou pela primeira vez contra os Leafs teve a certeza que estava fazendo algo que contrariava seus sentimentos — segundo declarou diversas vezes.

Mas ao contrário de Salming, Sundin ainda tinha o que mostrar na NHL quando teve que escolher entre aposentadoria ou recomeço. Se Salming somara apenas 20 pontos em sua última campanha na cidade, Sundin, com média superior a um ponto por jogo, mostrava que tinha condições de ser um fator dentro da liga. Ele negou o cancelamento da cláusula em seu contrato que impedia uma troca para outro time, algo que cairia como uma luva no processo de renovação da franquia, por não aceitar seu um jogador de aluguel e porque acreditava que ainda poderia seguir na cidade.

Após uma das novelas mais longas e chatas de que se tem notícia, Sundin acabou seduzido pelos dólares e pela legião sueca presente em Vancouver, ignorando, para o alívio da maior parte dos torcedores dos Leafs, as investidas pesadas de Bob Gainey, gerente geral do Montreal Canadiens.

Então um círculo extra surgiu nos calendários de Toronto. O dia em que Sundin retornaria ao Air Canada Centre como membro de outra organização. Aconteceu nesse último sábado.

Vaias ou aplausos? Era a indagação mais feita nos dias que antecederam esse retorno. Jornais tentavam prever o que aconteceria no centro do planeta azul. Centenas de enquetes foram criadas. Embora a segunda alternativa liderava as "apostas", existia a possibilidade de alguma coisa fugir ao roteiro, afinal, Sundin poderia ter saído em troca de uma boa quantidade de altas escolhas, ou de algum prospecto de impacto.

Assim que Sundin apareceu no túnel dos visitantes, as dúvidas se receberia ou não uma grande recepção foram dissipadas. Um gigante de 1,96 m e 105 kg não conseguiu conter a emoção ao ser ovacionado pela quase totalidade dos presentes. Os poucos torcedores que preferiram vaiar foram sufocados por um longo momento de aplauso quando, em um intervalo na ação, o telão mostrou uma homenagem dos Leafs ao seu ex-capitão.

"Todas as batalhas e tudo o que passamos nesses 13 anos com os Leafs, tantos altos e baixos, desapontamentos e alegrias. Foram muitos os sentimentos que vieram à minha mente quando entrei no gelo. Nunca vou esquecer o que estou vivendo aqui hoje."

O público soube reconhecer também que, da mesma forma que Sundin não conseguiu guiá-los até uma final de Copa Stanley, isso foi mais uma consequência da bagunça institucional que habita a tanto tempo uma das franquias originais da NHL. Eles foram testemunhas quando Sundin centrava atletas medianos como Jonas Hoglund e Sergei Berezin, agitadores como Darcy Tucker ou até mesmo brigões como Tie Domi em boa parte de sua carreira.

Grandes nomes? Alguns foram contratados durante sua permanência em Ontário, mas eram atletas que, apesar de carreiras fantásticas, estavam em claríssima curva descendente, como Joe Nieuwendyk, Ron Francis, Eric Lindros, Owen Nolan, Gary Roberts e por aí vai.

Mais do que não conseguir aproximar seu time da Copa, talvez tenha sido Toronto que deixou Sundin mais longe do cálice com sua péssima administração durante todos esses anos.

Além das homenagens, existia um jogo.

O Vancouver Canucks esteve longe de mostrar superioridade no tão esperado embate, apesar de carregar o favoritismo e de ser um time que caminha firme rumo aos playoffs. Mesmo assim saiu com a vitória. Com o disco no gelo do ACC Sundin não foi um fator durante 65 minutos de hóquei. Mas, como em qualquer bom roteiro que se preze, coube a ele decidir.

Após marcar, nos pênaltis, o gol que fechou a conta em 3-2 para os comandados de Alain Vigneault, nada do tradicional braço levantado em triunfo. Um simples, porém importante sinal de respeito com sua ex-torcida. Apenas um sorriso de satisfação pelo serviço cumprido.

Eduardo Costa também sabe que Sundin ganhou caminhões de dinheiro em Toronto, mas que o sueco poderia ter engordado sua conta em outras freguesias.
Vince Talotta/Toronto Star
Emocionado, Mats Sundin agradece aos torcedores pela brilhante recepção em Toronto.
(21/02/2009)
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Página publicada em 25 de fevereiro de 2009.