Por: Thiago Leal

Se os Ducks são alguém na NHL hoje, boa parte disso é responsabilidade de Jean-Sébastien Giguère. Aquela franquia que era uma chacota por ter se originado de um filme (horroroso, por sinal) da Disney e que sempre fazia campanhas ruins, justificando o preconceito dos amantes do hóquei com equipes em cidades de clima "quente" só começou a ganhar respeito em 2003, durante a pós-temporada, quando ele, Giguère, fechou o gol e ajudou o time a varrer o Detroit Red Wings, passar pelo Dallas Stars e perder a Copa Stanley na final para o New Jersey Devils. Mas a importância de Giguère, o grande líder daquela campanha, foi reconhecida com o Troféu Conn Smythe.

A questão é que ali os Ducks ganharam um ídolo — o maior e mais importante da franquia, a meu ver. Mas depois daquela pós-temporada mágica Giguère não mais justificou esse status. Foi apenas um goleiro regular na temporada 2003-04, quando o time tornou a fracassar. Na temporada 2005-06, com os Ducks novamente surpreendendo na pós-temporada, Giguère não vinha bem e a vaga de titular ficou com Ilya Bryzgalov. Já na temporada 2006-07, Jiggy atuou a maior parte da temporada regular. Mas foi Bryzgalov quem iniciou os playoffs como titular. Saiu após a derrota por 4-1 no jogo 4 da primeira rodada contra o Minnesota Wild. Giguère voltou e assumiu o posto de titular em definitivo, até a Copa. Depois disso Bryzgalov transferiu-se para o Phoenix Coyotes e veio um novo reserva, Jonas Hiller.

Mas o fato é que durante todo esse período Giguère nunca tornou a ser "aquele" Giguère de 2003. OK, é um bom goleiro. Mas nada mais que isso. Não é como se você tivesse Roberto Luongo ou Martin Brodeur no gol. Giguère passou a ser criticado pela torcida, envolver-se em especulações de troca e ainda viu um outro reserva, Hiller, crescer e fazer uma sombra gigantesca sobre seu gol. Os problemas pessoais também passaram a ser cada vez mais freqüentes e Giguère começou a se ausentar do time.

Como todos sabemos, os Ducks enfrentam um momento crítico na corrida pela pós-temporada. O time está em 10.º no Oeste, empatado com 65 pontos com Minnesota (7.º), Dallas (8.º) e Edmonton (9.º). No entanto tem mais jogos realizados que todos, ou seja, para conseguir a vaga precisa vencer seus jogos e torcer contra esses adversários. Restam 20 jogos para o Anaheim. Obviamente, vencer esses 20 é impossível. Mas a ordem em Anaheim é evitar derrotas a todo custo. E para cumprir essa tarefa um bom goleiro é fundamental. E eis que nesse momento ele resolve voltar.

Para Giguère, os jogos que representam sua recuperação foram as duas vitórias sobre o Calgary Flames, onde Jiggy parou 26 e 21 chutes respectivamente. "Aquele jogo me trouxe confiança, com certeza", disse Giguère após a primeira partida, vitória dos Ducks por 2-1. "Mas um jogo não é a questão. Qualquer um joga bem um jogo. Você consegue jogar bem 10 jogos seguidos? É aí onde você quer estar", concluiu.

Pois bem. Ontem Giguère fez "o" jogo — que eu me lembre, seu melhor jogo em anos, e quando digo "anos" me refiro, sim, aos playoffs de 2003. Os Ducks vêm excursionando pela estrada para disputar seis partidas, todas essenciais para uma possível vaga nos playoffs. Pela frente, adversários como Boston Bruins, Dallas Stars e Chicago Blackhawks. A excursão começou com uma derrota para 5-2 para os Wings. Passou por uma vitória enganadora por 5-2 sobre o Blue Jackets e chegou a Buffalo. Como os Sabres também brigam por posição na classificação para a pós-temporada, é natural que viessem para cima. Os Ducks têm problema com desvantagem numérica e faz um bom tempo que não sabe o que é um shutout.

No rinque, os Ducks venciam por 3-1. Ales Kotalik tentou. Tim Connlly tentou. Jochen Hecht tentou. Jason Pominville tentou. Nenhum conseguiu. Os chutes iam acontecendo e Giguère parava todos. O gol só aconteceu quando, a um minuto do final, os Sabres tinham seis patinadores no gelo, sendo cinco atacantes. Mas Giguère segurou a barra e, com 34 defesas, permitiu aos Ducks uma vitória mais que necessária. Jiggy, claro, foi eleito a estrela do jogo. Uma vitória que também preocupa — afinal, os Ducks jogaram mal, de novo. Jogaram mal nos 5-2 contra os Blue Jackets. Vêm jogando mal o mês inteiro, com exceção, talvez, das duas vitórias sobre os Flames. O gol de desempate foi marcado por Todd Marchant, que está aqui para fazer o papel de intimidador (mais tarde Mike Brown marcaria o gol vencedor, uma vez que os Sabres diminuíram o placar para 3-2). Jogando assim, como enfrentar o Boston ou o Chicago? Vai ser um massacre!

Quem assistiu, ou ouviu ao jogo, por outro lado, certamente lembrou de algo aprazível. Talvez Luc Robitaille e Brendan Shanahan chutando a gol sem parar, enquanto um goleiro pegava tudo que vinha até ele. Calma, é exagero. Aquele Giguère de 2003 não está de volta. Mas fazia tempo que eu não via Jiggy parar tanto chutes de forma insistente, como ocorreu na partida contra o Buffalo.

Claro, isso passa confiança ao goleiro e ao time. A confiança sobre a qual Giguère falava após os jogos contra o Calgary. Ontem pudemos ver um Giguère mais concentrado no rinque. Em muito me lembrou o goleiro de 2003, que ficava frio como uma pedra esperando o próximo chute. Frieza que fez falta nas finais contra o New Jersey Devils, quando, visivelmente nervoso, Jiggy permitiu rebotes e comprometeu a campanha do time.

Os problemas pessoais por quais passou — a morte do pai, o filho que nasceu com uma deformação no olho direito — certamente pesaram por muito tempo sob o capacete de Giguère. "A morte do meu pai me causou distrações e viagens. É a vida, você sabe. É desse jeito mesmo," disse. "Mas agora as coisas estão mais calmas. Estou seguindo com a minha vida. Uma hora ou outra você se acostuma."

Mais de que nunca os Ducks precisam de Giguère em forma e concentrado no jogo. Talvez isso faça o torcedor relembrar o maior momento da história da franquia — que foram os playoffs de 2003. Sim, maior até mesmo que a conquista da Copa. Porque os Ducks campeões tinham tudo para isso. Foram programados para tal. Tinham Brian Burke. Tinham Scott Niedermayer, Chris Proger, Teemu Selanne, Doug Weight, François Beauchemin e até ganhou o reforço do intimidador Brad May para "fazer o trabalho sujo". Revelou jovens craques como Ryan Getzlaf e Corey Perry. Mas era o favorito ao título e todos sabiam disso. Mas acho que título não é tudo no esporte. O prazer de ver aquele time fraco ganhando por 1-0, surpreendendo a todos na Liga e avançando até as finais é indiscritível. E tudo isso só aconteceu porque no gol estava um cara chamado Jean-Sébastien Giguère.

Thiago Leal odeia Carnaval e acha que ele só agrega violência, doenças sexualmente transmissíveis e uma imagem pornográfica e equivocada do Brasil.
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Jean-Sébastien Giguère: parando tudo em 2003, ele levou os Ducks pela primeira vez à final da Copa Stanley.
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Giguére para o Buffalo Sabres: esperança de classificação aos playoffs.
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Página publicada em 25 de fevereiro de 2009.