Por: Gene Collier

É bem provável que não se jogue hóquei no gelo na Escola para Cegos do Oeste da Pensilvânia, mas, se eles jogassem, a partida possivelmente teria muitas semelhanças com o primeiro período do jogo da semana passada entre Penguins e Islanders. Passes iam vagamente na direção de pessoas de costas para a jogada, chutes eram furados, gols vazios eram repetidamente ignorados e o gelo, até por definição, estava escorregadio. Já o segundo período não foi tão bom.

Quando o jogo começou, os Penguins estavam a duas horas e meia da próxima temporada, porque qualquer coisa que não fosse uma vitória contra os péssimos Islanders — os mesmos péssimos Islanders que os venceram nos pênaltis nove dias antes, como que para comemorar a chegada do técnico Dan Bylsma a Pittsburgh — e os Pens estariam prontos para ser enterrados.

Por um breve momento, pareceu que essa estranha ciência que é a química entre Islanders e Penguins daria algo diferente, especialmente quando se passou a suspeitar que os Islanders tinham desistido de chutar a gol durante a Quaresma. Tais suspeitas só foram dissipadas quando o time de Nova York finalmente mandou um disco para a vizinhança do goleiro adversário, Marc-André Fleury, com mais de sete minutos e meio jogados no primeiro período. Os Penguins, àquela altura, já tinham chutado sete vezes a gol, mas sem ter apresentado evidência alguma de que chutar o disco tem qualquer coisa a ver com aquela história de marcar gols.

Se os Penguins não conseguem esmagar os Islanders em casa como a um inseto, que chance eles têm de voltar de cinco jogos seguidos fora de casa (quatro contra times com campanhas acima de 50%) ainda com chances de chegar aos playoffs?

Nenhuma.

Ao longo de 40 minutos de hóquei sem gols contra o pior time da NHL, os Penguins mais uma vez demonstraram que ficar em vantagem numérica também não tem nenhuma relação conhecida com o ato de marcar gols. O time parecia estar colocando no gelo dois tipos de vantagem numérica: o tipo que não marca gols e o tipo que sequer chuta a gol. Os Islanders, por sua vez, colocam no gelo apenas o segundo tipo.

O artilheiro dos Isles, Mark Streit, não tem sequer a metade dos pontos marcados por Evgeni Malkin. O total de vitórias do time era de quatro a menos que qualquer outra equipe antes de o jogo começar. O New York fez um favor aos Penguins ao mandar para o gelo seu goleiro reserva, Yann Danis, e ainda assim os Pens não mostraram nenhum interesse em manter suas chances vivas, mesmo que por mais 48 horas.

Sidney Crosby ficou fora desde jogo com dores na virilha. Ryan Whitney foi para sua casa, na Nova Inglaterra, resolver problemas particulares. Mas a coisa não foi simples como "sem Crosby, sem Whitney, sem vitória". Quando se chegou à metade de um terceiro período igualmente inconstante, tudo que aquele desastre precisava era um momento definitivo de verdade, um quadro congelado no tempo que poderia de alguma maneira resumir a futilidade e a pateticidade de dois times ruins. Felizmente, Christopher Minard forneceu um.

Voando pelo meio por trás da defesa dos Islanders, Minard mediu Danis de cima a baixo, passou mentalmente por suas opções de chute e — o quê? — tentou um passe para trás no meio do tráfego. Minard não estava disposto a was not about to quebrar a ridícula perfeição de uma noite esquecível.

Outra pessoa teria de assumir tal responsabilidade, e, a apenas 2:28 do fim do jogo, alguém finalmente se dispôs. Aproveitando-se do revolucionário conceito ofensivo de mandar o disco para o gol com a ideia de que, se ele não entrar, um colega por perto pode se deparar com um rebote, Sergei Gonchar fez exatamente isso. O rebote foi varrido para dentro do gol por Petr Sykora, e os Penguins marcaram o único gol de uma longa e terrível noite de hóquei.

"Acho que tivemos boas chances contra [Danis] que simplesmente não conseguimos botar para dentro", disse o defensor Brooks Orpik no vestiário, com um clima longe da exultação esperada depois de uma vitória. "Apesar de ter sido frustrante não marcar nenhum gol até os dois minutos finais, acho que mantivemos a paciência. Acho que mantivemos nossa compostura."

Então foi isso? Compostura? Parecia mais uma mistura tóxica de desinteresse e incompetência.

"A maioria dos chutes deles no terceiro período veio em vantagem numérica e não foi em grandes jogadas", analisou o técnico dos Islanders, Scott Gordon. "Foram devido a nossa incapacidade de isolar o disco quando tivemos oportunidade, e eles criaram aí suas chances."

Os Penguins podem até tentar enganar a si mesmos o quanto quiserem, dizendo que ganharam contra os Isles dois pontos que eram absolutamente indispensáveis, mas do jeito que eles jogaram contra os Islanders nos últimos 125 minutos (mais uma decisão por pênaltis) deixou pouca dúvida de que eles podem dar adeus a esta temporada.

Gene Collier é colunista do jornal Pittsburgh Post-Gazette. O artigo original foi traduzido por Alexandre Giesbrecht.
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Página publicada em 5 de março de 2008.