Por: Alexandre Giesbrecht

O que importa é disco na rede.

Até aí, nenhuma novidade. É um ditado cuja adaptação se estende a quase todos os esportes em que se conta o placar de uma maneira inteligível — não, golfe e críquete não estão entre esses esportes. No caso do hóquei, times que enfrentam grandes goleiros não raro são vítimas desse ditado, vomitado tal qual fosse um clichê a cada vez que um time tem uma boa chance de gol. Acontece até com alguma frequência, às vezes nem com um grande goleiro, mas com um medíocre em uma grande noite.

No segundo período do jogo 3 destas finais de Copa Stanley tivemos mais um exemplo de como esse ditado é válido. Se fosse possível fazer um catadão da ECHL para enfrentar a seleção soviética dos anos 1970, o resultado talvez não fosse muito diferente. Quer dizer, o domínio seria parecido, mas o placar certamente seria completamente diferente.

Porque os Wings tiveram um domínio sobre os Penguins que não se costuma ver em uma série final. Nem mesmo nos dois primeiros jogos de 2008, quando os de vermelho se sobrepuseram sobremaneira sobre (haja aliteração!) os de Pittsburgh. É verdade que a diferença de chutes a gol não reflete todo esse domínio — foi de "apenas" 14 contra 4 —, mas, de novo, o que importa é disco na rede. E isso, caro leitor, não se viu naquele período.

Da maneira que foi, muitas vezes parecia que os Wings tinham seis homens no gelo, mas, se tinham, não dava para perceber a olho nu, ao contrário do que aconteceu com os Penguins no primeiro período. Se bem que os árbitros não perceberam a gafe, então, de repente, eu é que não analisei direito o que vi. Foi o tipo de atuação de que um time precisa para ser campeão.

Só faltou o gol.

Zagalo e Parreira podem reclamar a mais não poderem, mas o gol não é um mero detalhe. Mikael Samuelsson bem que tentou, numa disparada contra o goleiro Marc-André Fleury, mas a trave, o objeto inanimado que mais faz o papel de herói, limpou o suor na testa da torcida que vestia branco e manteve no rosto dela um sorriso, ainda que daqueles sorrisos nervosos. O ajudante metálico teve outro momento ao roubar de Brian Rafalski uma outra chance.

Do outro lado do gelo, Chris Osgood tinha muito trabalho... para se manter acordado. O ataque dos Penguins, sob influência aparente de remédio mais poderoso que Lexotan, não produziu uma única chance real de gol ao longo dos vinte minutos que durou o período (vinte anos, para quem torcia pelo time da casa).

Mesmo com o jogo empatado, a vitória parecia questão de tempo para os Red Wings. Água mole em pedra dura... Mas a água parou de jorrar no segundo intervalo. No terceiro período, os Penguins passaram a dominar. Não era um domínio tão amplo quanto o que se vira pouco antes, mas os Wings pararam de chutar. Já os Penguins voltaram a chutar. E um desses chutes iludiu Osgood, talvez ainda bêbado de sono pelo marasmo vivido quando estava na outra ponta do gelo. Foi o suficiente para o time da casa vencer o jogo, com o auxílio de um gol em rede vazia no final só para sacramentar o resultado.

Se o domínio imposto pelos Wings nos dois primeiros períodos, especialmente no segundo, é um sinal para a torcida de Detroit que o título ainda está não só ao alcance, como muito perto, a perda de interesse no último terço do jogo é um sinal de alerta que o título ainda não está ganho. Tivessem os Wings vencido o jogo 3, e poder-se-ia cantar em prosa e verso que o título eram favas contadas.

Não venceram, e a série volta a ficar aberta. O domínio em um jogo ou em partes deles até agora não adiantou grande coisa, como comprovam o perído intermediário de terça-feira e o jogo 1, dominado pelos Penguins e vencido pelos Wings. Porque, não me canso de repetir, o que vale é disco na rede. Na hora em que um dos dois times conseguir dominar e marcar gols, saberemos quem será o campeão.

Alexandre Giesbrecht, 33 anos, está preocupado com a saúde de seu pai.
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Página publicada em 3 de junho de 2009.