Por: Mitch Albom

Dizem que uma série não começa até que alguém vença fora de casa. Mas se os Red Wings vencessem o jogo 3 fora de casa na noite de terça-feira, esta série poderia estar terminada.

Em vez disso, ela apenas começou. E os Wings descobriram um inimigo que eles temem mais que Sidney Crosby em um contra-ataque.

Ele se chama apito.

Se os Wings não conseguem matar penalidades, eles não vão matar o Pittsburgh facilmente. E em uma noite onde os árbitros perderam uma evidente penalidade que deveria ser marcada — seis homens no gelo pelos Penguins, não por um segundo, não por cinco segundos, mas por quase meio minuto! — eles não perderam a chance de marcar umas inteferências baratas. E eles podem também ter jogado um bloco de Kryptonita na frente do até então Super-Homem Red Wings.

"Foi um jogo de vantagem numérica," disse o treinador Mike Babcock após a derrota. "Eles tiveram três e nós dois."

Sim. Mas eles marcaram duas vezes nos deles. Os Wings não conseguiram tirar aquela maldita coisa de sua defesa. Eles perderam face-offs. Falharam em tentativas de passes com liberdade. Pagaram por isso. Eles mantiveram o desempenho no que é o seu calcanhar de Aquiles, a única parte fraca do seu jogo.

E agora nós temos uma série.

O momento da verdade

O assassino foi o gol sofrido no fim do primeiro período, aquele que empatou o jogo em 2-2.

Até aquele momento, o Pittsburgh estava psicologiamente vulnerável. Os Penguins podem dizer o que eles quiserem sobre confiança, experiência, este ano contra o ano passado e qualquer coisa do tipo. Os Pens entraram no gelo na terça-feira como uma manada de elefantes caçando uma única poça de água potável. Eles anunciaram sua chegada aos Wings. Marcaram dentro dos seis primeiros minutos, e você quase sentiu como se eles fossem fazer isso a cada seis minutos pelo resto da noite.

E então Henrik Zetterberg fez tudo parar.

O cara que gasta mais tempo perseguindo Crosby que garotas adolescentes barulhentas se posicionou perfeitamente para um rebote e chutou o disco para além de Marc-Andre Fleury, apenas um minuto e meio após o gol do Pittsburgh.

Aquilo mudou as coisas. Os elefantes diminuíram o ritmo. E quando Johan Franzen pegou um passe de Zetterberg que desviou no taco de um defensor do Pittsburgh e chutou, os elefantes pararam de bramir.

A série — e, de verdade, a Copa Stanley — estava garantida.

Se o Detroit fosse capaz de proteger sua liderança, ou ainda melhor, de aumentá-la com a penalidade a eles devida pela infração de seis homens, os Penguins não teriam se recuperado. Muita adrenalina do Pittsburgh teria sido gasta apenas para se encontrar perdedendo pelos mesmos 3-1 dos dois jogos anteriores.

Mas em vez disso, o temido novo inimigo — o apito — soou contra os Wings. Uma penalidade desnecessária de Dan Cleary aos 14:46 deixou os Wings em desvantagem numérica, e eles têm sido terrivelmente vulneráveis nisso. Eles não conseguiram tirar o disco da defesa. Nem uma vez. Nem um peteleco pelo gelo. Nem um simples ricochete para o centro do gelo para zerar. Nada.

E quando você não consegue tirar o disco de sua defesa, você não pode mantê-lo fora de sua rede para sempre. Nicklas Lidstrom, justo ele, entregou o disco das bordas. Franzen, justo ele, caiu tentando segurá-lo. Kris Letang, justo ele, disparou o chute fatal. E Chris Osgood, justo ele, sofreu seu gol mais bobo nestas finais da Copa Stanley.

Os Penguins saíram da mesa de operações.

E voltaram a operar.

Dois períodos depois, o apito soou de novo. E durante uma vantagem numérica que redefiniu a palavra unilateral — "eles nos confinaram por não sei quanto tempo," disse Babcock à mídia — Sergei Gonchar finalmente acordou e colocou mais um além de Osgood.

Vida sem Datsyuk

"Esse é um ótimo sentimento," Maxime Talbot disse às câmeras após a vitória por 4-2, na qual ele marcou dois gols — o primeiro e o último em rede vazia. O "grande sentimento" a que ele se referiu não era apenas a vitória. Era estar vivo na série. Os Penguins facilmente poderiam ter dado um passo atrás em relação ao ano passado. Ter 3-0 contra poderia causar uma depressão que os arruinaria.

Em vez disso, esta vitória os faz lembrar que no mês passado eles se recuperaram de um 0-2 e derrotaram o Washington no sétimo jogo. Não pense que eles não visualizam a repetição.

Lembre-se, Crosby ainda tem que jogar. E Pavel Datsyuk aparentemente não vai jogar de novo. Fleury defendeu dez chutes a mais que Osgood na noite de terça-feira e sofreu um gol a menos. Os Wings não precisam que Fleury recupere sua confiança.

O que eles precisam é encontrar uma penalidade morta. É irritante que um time tão bom defensivamente como os Red Wings não consegue parar os adversários nesta pós-temporada durante os 5-contra-4. Matar penalidades já foi uma especialidade. Mas sem Datsyuk, e com um menos que perfeito Lidstrom (que parece ainda estar machucado) o peso recai todo sobre Zetterberg, que já está cansado de perseguir Peter Pan a noite toda.

Sim. Claro. Os Wings podem ser menos que perfeitos. E historicamente, é no jogo 3 em casa que o time que está nas cordas mais ganha vida.

Mas o Detroit teve a chance de acabar com isso antes do jovem time de Pittsburgh perceber o quão longe suas ágeis e jovens pernas podem levá-lo.

Os Pens sabem disso agora. E os Wings têm uma briga em suas mãos.

Contra o adversário — e contra o apito.

Mitch Albom é colunista do Detroit Free Press. O artigo original foi traduzido por Humberto Fernandes, com ajuda de Marco Aurelio Lopes.

Julian H. Gonzalez/DFP
O atacante dos Penguins Sidney Crosby não consegue se livrar de Henrik Zetterberg.
(02/06/2009)

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Página publicada em 3 de junho de 2009.