Por: Thiago Leal

No dia 1º de outubro, Joe Sakic teve sua camisa #19 aposentada pelo Colorado Avalanche, em cerimônia realizada no Pepsi Center. Sakic até então tinha sido o único capitão da história do Colorado. Mas não da história da franquia como um todo, posto que a saga de uma das franquias mais evidentes dos anos 90 e 2000 não começou em 1995 na cidade de Denver, mas sim há 37 anos em Quebec, no Canadá. Eu Não Existo Mais apresenta o Quebec Nordiques, mais uma equipe que certamente deixa muitas saudades aos fãs mais românticos de hóquei no gelo.

Os Nordiques foram uma das franquias inaugurais da World Hockey Association e uma das quatro a entrar na NHL quando as duas ligas se fundiram em 1979. No logo do time, um N arredondado que forma um iglu, partido pela metade por um taco de hóquei equilibrando um taco. E o uniforme era azul e branco, com uma flor-de-lis, símbolo do Canadá Francês, no ombro. Suas cores? Azul, branco e vermelho, as mesmas presentes na bandeira do país que colonizou a província do Quebec.

Muito antes da Avalanche
Essa história toda quase teria uma ligação com o artigo que abriu essa série, sobre o California Golden Seals. Por pouco os Nordiques não começaram sua carreira na WHA em São Francisco como o San Francisco Sharks. Os investidores interessados em abrir o time em São Francisco, no entanto, entraram em colapso antes mesmo do início da temporada da WHA, abrindo espaço para uma nova franquia. Um grupo de investidores de Quebec comprou a vaga. Capital da província de mesmo nome, Quebec era a mais setentrional entre todas as cidades que abrigavam times em ligas desportivas profissionais norte-americanas, por isso o nome escolhido foi Nordiques — Nórdicos. As cores, conforme já explicado, fazem referência à França, não à cidade (cujas cores oficiais são azul e amarelo), e não havia forma melhor de despertar com furor a torcida local de que contratando para técnico uma lenda na região: ninnguém mais, ninguém menos que Maurice "The Rocket" Richard.

Em sua estreia na WHA, os Nordiques perderam para os Crusaders por 2-0 em Cleveland. Retornaram à Quebec onde receberam o então Alberta Oilers, vencendo a franquia que mandava jogos em Edmonton e Calgary por 6-0. E, curiosamente, The Rocket pediu demissão mesmo após essa vitória sensacional, alegando que tinha percebido que ser treinador não era a sua. Richard foi substituído por Maurice Filion, que estreou com vitória sobre o New England Whalers por 4-3 em Boston. A primeira partida de Filion com os Nordiques em Quebec também foi contra os Whalers, nova vitória: 6-4. No rinque, os Nords eram liderados por um ex-ídolo dos Canadiens, assim como Richard: o sensacional assistente Jean-Claude "JC" Tremblay. Nos primeiros 15 jogos os Nordiques venceram dez, empataram um e perderam quatro. O começo brilhante acabou sendo soterrado por uma avalanche de derrotas e os Nordiques surpreendentemente ficaram de fora dos playoffs.

O fracasso se repetiu na temporada 1973-74. Mas pela última vez. Os Nordiques se classificaram a todos os playoffs da WHA de 1975 a 1979.

O Campeonato
Já na temporada 1974-1975, sua estreia em playoffs, os Nordiques chegaram à final do Troféu World Avco, perdendo para o Houston Aeros. Na pós-temporada seguinte foram eliminados na primeira rodada por um rival "doméstico", o Calgary Cowboys. Enfim, em 1977 os Nords eliminaram os Whalers na primeira fase e o Indianapolis Racers na segunda fase para conquistar o Troféu World Avco contra os poderosos Jets de Winnipeg, numa emocionante série final de sete jogos — apesar dos placares da série terem sido bem elásticos, com exceção do primeiro jogo, que terminou em 2-1. No jogo 6, por exemplo, os Jets venceram por 12-3, enquanto no jogo 7 os Nordiques venceram o Troféu depois de bater os Jets por 8-2.

Real Cloutier com animais 141 pontos foi o principal nome dos Nordiques na campanha.

Nas duas temporadas subsequentes, os Nordiques caíram na semi-final, para Whalers e Jets, respectivamente.

A Era Peter Stastny e rescaldo
Os Nords mudaram para a NHL junto com Whalers, Jets e Oilers. E começaram do mesmo jeito que na WHA: ficando de fora dos playoffs, encaixados na Divisão Adams com Buffalo Sabres, Boston Bruins, Toronto Maple Leafs e Minnsota North Stars. Os Nordiques foram os últimos da Divisão.

Para sua segunda temporada na NHL, os Nordiques tiveram a estreia de um jogador tchecoslovaco, vindo do Slovan Bratislava. Em sua primeira temporada, Stastny quebrou os 100 pontos e tornou a, pelo menos, atingir esse índice em todas as temporadas de 1981 a 1988, com exceção de 1987, quando se machucou e contribuiu "apenas" com 77 pontos. Stastny foi o Troféu Calder de 1981 e jogou em todos os Jogos das Estrelas de 1981 a 1988 com, mais uma vez, exceção em 1987.

Ao lado de Michel Goulet, Stastny foi responsável pelo sucesso dos Nordiques nos anos 80. Apesar de terem liderado e conquistado a Divisão Adams em 1986, o maior sucesso dos Nords foi na temporada 1984-85. Classificados em segundo lugar na Divisão Adams, atrás justamente do rival Montreal Canadiens, os Nordiques tiveram a oportunidade de dar-lhes o troco na semi-final da Conferência Wales. Depois de passar pelos Bruins com três vitórias na série melhor de cinco, os Nords encararam e eliminaram os Habs em sete jogos. Os Nords foram eliminados em seis jogos pelo Philadelphia Flyers na final da conferência. A partir de 1985, Stastny assumiu o posto de capitão da equipe.

Em 1987 os Nordiques recrutaram um jovem canadense chamado Joseph Steven Sakic, 15ª escolha geral daquele recrutamento. Antes disso os Nords haviam recrutado um defensor chamado Bryan Fogarty. Stastny foi o principal mentor de Sakic na NHL, segundo palavras do próprio camisa #19.

Em 1989 os Nords têm a primeira escolha geral e selecionam o sueco Mats Sundin. A primeira escolha geral se repete em 1990 e o selecionado foi Owen Nolan, o que dava perspectivas boas para o futuro do time. Stastny e Goulet deixaram a franquia em 1990, quando já fazia duas temporadas que a franquia não jogava nos playoffs. Sem Stastny, Sakic dividiu com Steven Finn o posto de capitão por uma temporada, com Mike Hough assumindo o posto na temporada 1991-92. A partir de 1992 Sakic assumiu o C em definitivo. Antes desta temporada em específico começar, mais uma primeira escolha geral, com seleção de um tal Eric Lindros. O rapaz se recusou a defender a franquia e foi trocado com o Philadelphia Flyers. Os Nordiques receberam em troca Peter Forsberg, Mike Ricci, Ron Hextall, Steve Duchesne, Chris Simon, Kerry Huffman, duas escolhas de primeira rodada e ainda US$ 15 milhões.

De 1988 a 1992 os torcedores de Quebec não souberam o que é ver um time em playoffs. Voltaram a disputá-los em 1993, quando perderam para o futuro campeão Montreal. Em 1994, ficaram de fora mais uma vez. Em 1995 conquistaram a Divisão do Nordeste, mas foram eliminados na primeira rodada pelo New York Rangers, defensor do título.

E uma avalanche carrega o time para Denver
O motivo da mudança do time de Quebec para Denver foi o de sempre: problemas financeiros. A franquia teve de ser vendida e um grupo de investidores em Denver se dispôs a comprar o time. Assim, a mudança de cidade aconteceu e o time passou a se chamar Avalanche. Curiosamente, os Nordiques já tinham definido novo uniforme, novo logo e novas cores para a temporada que não aconteceu. O time passaria a jogar apenas de azul e branco, excluindo detalhes em vermelho, e o logo do iglu em formado de N dava lugar a um cão huskie.

Quebec, que já havia tido oportunidade na NHL com o Quebec Bulldogs, uma das equipes fundadoras da liga em 1917 que havia conquistado duas Copas Stanley antes disso, quando membro da NHA, perdia agora seu segundo time.

Legado
Denver não tinha uma franquia na NHL há 13 anos, até a chegada do Colorado Avalanche em 1995. Em sua primeira temporada em Denver, o time conquistou a Copa Stanley e tornou a vencê-la em 2001, além de oito títulos da Divisão Noroeste.

Logo em 1996 Quebec ganhou um novo time de hóquei, filiado à extinta International Hockey League: o Quebec Rafeles, que atuou de 1996 a 1998. Em 1996 também foi fundada a Quebec Semi-Pro Hockey League e a cidade de Quebec teve o Quebec Radio X, que durou até 2008, quando mudou-se para Pont Rouge — desde 2004 a referida liga já havia mudado de nome para Ligue Nord-Américaine de Hockey.

De 1999 a 2002, Quebec teve um time na American Hockey League: o Quebec Citadelles, então filiado ao Montreal Canadiens. Venceu duas vezes a Divisão do Atlântico, em 2000 e 2002. Ironicamente, com a chegada dos Citadelles, o Colisée de Quebec foi comprado pela Pepsi e virou o Pepsi Colisée — assim como o Pepsi Center, onde joga o Colorado Avalanche. Hoje os Citadelles são o Hamilton Bulldogs.

Hoje jogam em Quebec o Quebec Remparts, da Quebec Major Junior Hockey League, treinado por Patrick Roy que era torcedor dos Nordiques na infância; e o Quebec Phoenix da Canadian Women's Hockey League.

Ídolos
O primeiro ídolo da franquia foi, sem dúvida, JC Tremblay. Mas o maior deles foi Peter Stastny, seguido de Marcel Goulet. Todos os três tiveram seus números — respectivamente, #3, #26 e #16 — aposentados pelo clube, embora tenham sido reativados pelo Colorado Avalanche.

Na fase final, Joe Sakic tornou-se o grande nome da equipe. Peter Forsberg, que estreou na temporada 1994-95, sem dúvida teria sido um ídolo do time também.

O recordista de gols e pontos pelos Nordiques foi Peter Stastny seguido por Michel Goulet.

Ficha — Quebec Nordiques
Fundação:
1972 (WHA)
Adesão à NHL: 1979
História:

- Quebec Nordiques (WHA), 1972-1979
- Quebec Nordiques (NHL), 1979-1995
Cidade:
- Quebec — Quebec, 1979-1995
Cores:
- Azul, vermelho e branco.
Arena: Colisée de Québec.
Títulos: Nenhum.
Melhor campanha:WHA — Campeão do Troféu World Avco (1977); NHL — Final da Conferência Wales (1985).

Na próxima edição: Winnipeg Jets, reis na WHA, nem tanto na NHL.

Thiago Leal acredita em TheSlot.com.br.
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Acima, o clássico logo do Quebec Nordiques. Abaixo, o logo que o time usaria caso continuasse em Quebec.

Steve Deschenes
Adam Foote (esquerda), Joe Sakic (centro) e Peter Forsberg (direita): futuras lendas do Colorado Avalanche, ainda em Quebec.

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Não há boas fotos de Peter Stastny com a camisa do Quebec, o que é um crime.

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Michel Goulet.

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Assim seria o uniforme dos Nordiques, tivessem ficado em Quebec.

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Página publicada em 11 de novembro de 2009.