Por: Marcelo Constantino

A resposta pura e simples ao título é não. Se fosse assim, bastava colocar no gelo os jogadores com maior quantidade possível de jogos em playoffs que era vitória certa. Não é assim, evidentemente. Nenhum fator isolado vence playoffs. Experiência, vontade (inclui entrega, determinação e etc.), habilidade, sorte, nada disso unicamente é capaz de vencer playoffs. Por outro lado, dificilmente um time é campeão se lhe faltar um dos itens citados acima.

Muita gente — eu inclusive — entende que o fator mais determinante que carrega um time longe nos playoffs é a vontade, aquela disposição incomum que você vê em alguns times. Jogadores se atirando para bloquear disparos, correndo atrás de discos supostamente perdidos, jamais se entregando ainda que o time esteja perdendo por uma boa vantagem. Já vi times irem longe baseados majoritariamente nisso — mas sem conseguir ser campeão. Geralmente esbarram num adversário que tem isso e algo mais na final. Anaheim (Mighty) Ducks, Edmonton Oilers e Calgary Flames são alguns dos vice-campeões recentes que me vêm à memória para exemplificar o que digo.

Dito isso, é senso comum que não se vence a Copa sem um plantel experiente. Ou pelo menos sem misturar experiência e juventude — talvez a melhor receita. Ter estado ali antes, saber como são as “regras de playoffs” da NHL, já ter vivido o clima de guerra que antecede e entremeia as partidas e séries, identificar o famoso alargamento do que é permitido fazer sem que o juiz marque falta, tudo isso é fundamental para um time que quer ser campeão. Por isso que você vê costumeiramente equipes contratando jogadores de 30 e tantos anos, com larga bagagem e baixos salários, para trazer esse toque de experiência a mais para o vestiário do time. Claro que isso vale para outros esportes, mas me parece que na NHL é algo mais superlativo.

O lendário Scotty Bowman, por exemplo, era um técnico que prezava muito a experiência. Chegou algumas vezes a pedir para que jogadores aposentados voltassem a jogar. Lembro-me vagamente de um deles, Mike Ramsey, que tentou voltar a jogar em 1997, se não me engano, já com 30 e tantos anos. A título de curiosidade, Ramsey estava na seleção dos EUA no famoso Milagre do Gelo. A tentativa de retorno durou alguns jogos e Ramsey viu que não tinha condições de encarar a empreitada. Isso a despeito de insistentes pedidos de Bowman para que ele permanecesse. Veja o quanto se dá importância ao fator experiência — e estamos falando de Scotty Bowman,e não de qualquer técnico.

Dos times que estão nos playoffs deste ano, como medirmos a experiência de cada um deles?

Tentei atribuir a cada time um determinado grau de experiência em playoffs da NHL. Geralmente isso é feito de forma subjetiva, ou ainda considerando a quantidade de jogos ou de vezes que um time esteve nos playoffs. Mas isso não vale. De nada adianta uma franquia ter experiência de 80 temporadas de playoffs se o time que ela tiver nesta temporada for jovem. Por outro lado, uma franquia que nunca foi aos playoffs pode ter um elenco recheado de jogadores experientes.

Escolhi então verificar cada elenco e somar os jogos em playoffs de cada jogador. Simples assim. E somente os jogadores de linha (a quantidade de jogos dos goleiros, nesse montante, torna-se relativamente pouco significativa). Não ousei separar quem supostamente seria titular ou reserva, vale o elenco inteiro. Por ter sido algo manual, é bem provável que haja erros. Peço desculpas antecipadamente por eles, embora acredite (e torça para) que não interfiram no resultado macro.

Eis os resultados, classificados de forma decrescente:
Detroit – 1.560 jogos
Pittsburgh – 1.072
New Jersey – 1.038
Ottawa – 814
Colorado – 699
Chicago – 642
Philadelphia – 632
San Jose – 619
Montreal – 609
*Boston – 603
Vancouver – 529
Buffalo – 518
Phoenix – 504
Washington – 495
Los Angeles – 467
Nashville – 379

Alguns números estão claramente inflados — vide Mathieu Schneider engordando os números dos Coyotes com seus 111 jogos. Se o Atlanta tivesse se classificado ocuparia a sexta posição, graças a um dinossauro que insiste em sobreviver ao fim do período Cretáceo: Chris Chelios e seus 266 jogos em playoffs.

Mas podemos verificar que os sucessivos playoffs dos Red Wings os colocam disparados na frente. Penguins e Devils aparecem logo no patamar a seguir, Senators um pouco mais abaixo e depois a diferença entre os times começa a diminuir sensivelmente. Os Predators seriam o time com menos experiência.

Enfim, pelos números acima e se experiência fosse o fator determinante, o Detroit teria ampla vantagem. Favoritos desta temporada, como Sharks, Capitals e Blackhawks não chegam à metade dos jogos em playoffs acumulados pelos jogadores dos Wings.

O que tudo isso quer dizer? Experiência é importante, assim como uma série de outros fatores. Mas não é definitivamente o fator fundamental, assim como nenhum outro é. Provavelmente quando esta matéria for publicada, voce já terá como avaliar como se saíram alguns dos times classificados. Guarde esses números para comparar com a classificação final dos playoffs.

Marcelo Constantino está de férias e deixou pronta esta matéria.

Victor Decolongon/Getty Images
O Nashville Predators é o time teoricamente menos experiente em playoffs, conforme nosso critério adotado. Que influência tem isso?
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Página publicada em 28 de abril de 2010.