Por: Alexandre Giesbrecht

Cada time que começa nesta semana a busca pelo Santo Graal dos esportes norte-americanos chega aos playoffs de uma maneira diferente. Dos times que embalaram na reta final aos times que chegam cambaleantes, é bem possível que a única coisa que eles têm em comum seja o desejo de levantar o troféu mais antigo ainda em disputa na América do Norte.

Talvez o time mais embalado neste instante seja o Washington. O time de Alexander Ovechkin já está em ritmo de playoffs há algumas semanas, e venceu uma corrida desesperada contra os Hurricanes, que fraquejaram na última partida e perderam não só o título da Divisão Sudeste como a própria vaga para a pós-temporada. Já os Capitals se preparam para pegar os Flyers, pulando de classificados de última hora para favoritos. O time ainda é bem verde, verdade seja dita, mas a resistência do pessoal da Filadélfia não deve tornar a série de primeira fase algo que se chame de "prova de fogo".

O Philadelphia abocanhou a vaga mais graças às limitações de Hurricanes e Sabres que por méritos próprios. A campanha das últimas semanas pode até enganar (7-1-1), mas as quatro derrotas seguidas que a precederam e, mais ainda, a seqüência de dez derrotas em fevereiro ainda estão frescas na memória da torcida. No fim das contas, os playoffs já foram uma grande vitória para quem teve a pior campanha da liga na temporada passada. Não é todo time que consegue isso — muito pelo contrário —, o que é um bom sinal de que o futuro é promissor.

O mesmo não se pode falar dos Predators. Se o curto prazo já não fosse aterrador o bastante, com um encontro marcado com o dono do Troféu dos Presidentes logo de cara, o médio e o longo prazos não são lá grande alento para a torcida. A janela de competitividade do time fechou-se muito mais rápido do que se imaginava, e os tempos em que Peter Forsberg foi para Nashville a fim de estar em um time competitivo já passaram. O único consolo é que agora é dificílimo que o time deixe o Tennessee tão cedo.

O parágrafo anterior faz os Red Wings parecer um bicho papão imbatível. Não é o caso, ainda mais se os compararmos com outras grandes equipes do Detroit, como as de 1995-96 (que era melhor e foi batida) e de 1996-97. Mas, em relação a boa parte da concorrência, os Wings são favoritíssimos. Desta vez, mais do que nunca, se não chegarem ao menos às finais de conferência, o ano vai parecer perdido. Só não falo nas finais da Copa Stanley porque no próprio Oeste há os Sharks, que ameaçaram tomar o primeiro posto da conferência no final da temporada.

O San Jose fechou a temporada com duas derrotas, quando já praticamente não tinha mais o que tentar. Antes disso, o time foi um verdadeiro furacão, com 18 vitórias em 20 jogos, sendo 11 delas em seqüência. Coletivamente, o time parece irrepreensível, e ainda conta com uma das maiores ameaças individuais da NHL, Joe Thornton, que liderou a liga com 67 assistências e acumulou ainda 96 pontos. Depois dele, a produtividade até cai bastante (Milan Michalek, com 55 pontos, vem em seguida), mas ainda se vê o retrato de um time que joga em grupo, uma característica importante nos playoffs, quando não se pode depender de uma única estrela: se o adversário pará-la, o time pára junto.

Quem vai ter o desafio de pegar os Sharks logo de cara são os Flames. Eles são um time intrigante, começando com um grande goleiro, Miikka Kiprusoff, e terminando com um dos mais completos artilheiros, Jarome Iginla. O grosso do elenco é formado por jogadores que estão longe de ser estrelas (mesmo Owen Nolan, já no ocaso da carreira), e talvez justamente aí esteja a sua força, tendo um técnico com mão de ferro como Mike Keenan no banco. Se eu tivesse de escolher uma série para dar zebra, a minha escolha seria esta.

No Leste, a minha escolha provavelmente seria a série entre Devils e Rangers. Mas não seria uma zebra do mesmo tamanho. Seria uma zebra simplesmente porque vejo os Rangers como favoritos e quem ficou acima foram os Devils. O confronto tem tudo para ser um dos mais parelhos, já que os dois times terminaram a temporada quase empatados, mas os Rangers parecem ter mais poder de fogo. Nem sempre isso serve para derrotar um time disciplinado como os Devils são já há anos, ainda mais se esse time tiver no gol alguém do porte de Martin Brodeur, mas não dá para negar que os nova-iorquinos ganharam nada menos que sete dos oito confrontos diretos. Mesmo o que perderam foi só nos pênaltis, no último dia da temporada regular, se bem que ali a vitória no tempo normal seria muito importante, pois lhes daria a quarta colocação e, conseqüentemente, o mando de gelo na primeira fase. Por outro lado, os Devils sofreram shutouts em 11 partidas ao longo da temporada, sendo duas delas contra os Rangers. Para o segundo pior ataque do Leste e quinto da liga, é uma estatística nada animadora.

O único time a chegar aos playoffs com menos gols marcados que o New Jersey foi o Anaheim. Isso só foi possível graças à segunda melhor defesa da liga. E também graças às voltas de Teemu Selänne e Scott Niedermayer, que contribuíram para a boa campanha na segunda metade da temporada. Jean-Sébastien Giguere, o goleiro que atormentou os adversários em 2003, sempre é esperança de boas atuações, embora nunca mais tenha conseguido alcançar aquele patamar rarefeito. O estilo aguerrido do time foi construído com base exatamente nos playoffs, então podemos esperar uma batalha na segunda fase, peguem eles Red Wings ou Sharks.

No meio do caminho dos Ducks, não podemos nos esquecer dos Stars. Em fevereiro, eles até acumularam 13 vitórias em 15 jogos, mas esse bom momento foi seguido de apenas apenas quatro vitórias nos últimos dez jogos. Com o elenco envelhecido, a esperança seria Brad Richards, cara aquisição em fevereiro, mas ele produziu apenas dois gols nos 12 jogos com a camisa verde. Resta apelar ao goleiro Marty Turco, aquele que sempre teve fama de amarelar nos playoffs, mas conseguiu redimir-se no ano passado. Se aquela atuação contra o Vancouver não for um mero rigor mortis em sua carreira, talvez o Dallas consiga engrossar o caldo.

Os Canadiens também contam bastante com seu goleiro, mas estão numa situação completamente diferente. Se Carey Price não mantiver o nível de sua brilhante temporada de estréia — o que não se pode descartar totalmente, apesar do histórico de Ken Dryden e Patrick Roy na própria franquia —, ainda há uma série de outras armas com que os Bruins terão de se preocupar na primeira fase. A começar pelo histórico: pela enésima vez (trigésima primeira, na verdade) Habs e B's se pegam nos playoffs, e a vantagem é do Montreal por larga margem, 23-7. A vantagem também é toda deles nos últimos 11 jogos. E jogadores como Alexei Kovalev e Tomas Plekanec estão jogando "o fino".

Aos Bruins, é difícil imaginar uma possibilidade de vitória. A melhor tática, acertar os adversários sempre que possível, é arriscada, porque uma eventual penalidade trará ao gelo a equipe de vantagem numérica mais eficiente da temporada. Para jogar contra uma das piores desvantagens numéricas da liga, ainda por cima. De qualquer maneira, sempre é bom lembrar que em 2002 os papéis estavam invertidos, e foram os Canadiens que passaram de fase.

Em 2003, Wild e Avalanche se encontraram na primeira fase e também trocaram de papéis agora. O Wild levou a divisão mais disputada da liga sem muita folga, enquanto os Avs deixaram para trás um mau momento com uma bela arrancada nas últimas semanas, que transformou a vaga nos playoffs de uma mera possibilidade em um fato consumado com relativa tranqüilidade. O time de Denver ainda deve estar satisfeito de não pegar nenhum dos dois favoritos da conferência logo de cara, o que lhes permitirá embalar na primeira fase. Desde, claro, que consiga impor seu estilo ofensivo sobre um time que é conhecido por sua aplicação defensiva. No gol, José Théodore teve uma sólida temporada. Mas Forsberg é a grande esperança da torcida para levar os Avs ao topo. Desde que voltou, sua média é de mais de um ponto e meio por jogo.

A resposta do Wild a Forsberg é Marian Gaborik, líder do time em gols e pontos, auxiliado pelo líder em assistências, Pierre-Marc Bouchard. Com eles no gelo, o adversário sempre sabe que não pode se descuidar. A peça-chave do esquema, contudo, é o goleiro Nicklas Backström, que garante lá atrás se por acaso o sistema defensivo ratear, o que talvez aconteça com uma freqüência um pouco maior, por causa da contusão de Nick Schultz.

O Wild não pode reclamar muito de seu azar com contusões, porque os Senators provavelmente não têm mais onde colocar jogadores na enfermaria. Dois de seus principais atacantes, Daniel Alfredsson e Mike Fisher, estão de molho, assim como o central Chris Kelly. Maior problema ainda é que essa onda de má sorte não foi a responsável pela queda livre do time, que começou a temporada com 15-2, uma das melhores campanhas iniciais da história, e na última semana chegou a estar ameaçado de sequer conseguir chegar aos playoffs. Duas vantagens ao menos o time leva sobre os Pens: a vitória na pós-temporada passada, por 4-1, e as três vitórias nos quatro confrontos diretos.

Já a maior preocupação dos Pens antes dos playoffs parecia ser com o texto de um colunista do jornal Ottawa Sun, que incitou os jogadores dos Sens a tentar contundir os adversários. Deveriam se preocupar mais com a produção de suas estrelas. Eles talvez não precisem delas na primeira fase — pelo menos se o time mantiver o conjunto que o carregou durante o período negro das contusões, no começo deste ano —, mas tanto Sidney Crosby como Marián Hossa não têm produzido a contento. Evgeni Malkin teve um grande período em que marcou pontos quase que por pensamento, mas caiu na reta final. Ao menos o goleiro Marc-André Fleury começou a mostrar serviço.

O que tudo isso aí em cima prova? Por enquanto, nada. Mas daqui a menos de duas semanas saberemos o que cada situação provocou em cada time. É aí que está a graça dos playoffs: em certos momentos, a lógica, o histórico, a tradição e as estatísticas simplesmente vão para o espaço.

Alexandre Giesbrecht, 32 anos, recebeu um CD com músicas do Pink Floyd em versão de ninar.
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Página publicada em 9 de abril de 2008.