O bom começo do San Jose Sharks talvez demonstre que o time é outro sob o comando de Todd McLellan. Ou talvez demonstre que o time é outro sem Ron Wilson no comando. Ou talvez seja um pouco de cada, quem sabe? Ou ainda, talvez os Sharks finalmente sejam o time a ser batido nesta temporada.

Tudo isso até pode gerar boas discussões de bar, além de agradar aos torcedores do time. Entretanto, a real mudança só será passível de verificação quando a hora chegar, daqui a seis longos meses. É lá que os Sharks vêm decepcionando, não na temporada. Até aqui as coisas estão bem. Muito bem, aliás.

Até terça-feira, data em que esta matéria está sendo escrita, os Sharks venceram cinco jogos, e perderam apenas um. A liderança da Divisão do Pacífico é deles, disparados na frente, com cinco pontos de vantagem sobre o Dallas Stars, segundo colocado. A liderança da Conferência Oeste também é deles, seguidos de perto pelo também ótimo Minnesota Wild, com dois jogos e dois pontos a menos.

Mas vale lembrar que os Sharks tiveram a segunda melhor campanha da NHL na temporada passada. E assumir um time assim — que faz grandes temporadas, seguidas de grandes decepções nos playoffs — não é exatamente um trabalho tranqüilo para um técnico novato. Todd McLellan era assistente de Mike Babcock no Detroit até a temporada passada, e topou a empreitada de assumir um time com um recente histórico de decepções. Nas duas semanas iniciais de temporada, os resultados têm agradado, como visto. Os Sharks figuram em primeiro lugar em vários dos primeiros rankings de times da NHL nesta temporada.

De qualquer forma, a chegada de McLellan já produziu ao menos um efeito positivo: Patrick Marleau parece ter voltado a jogar o que se espera dele. Depois do fiasco nos playoffs de 2007 e de uma temporada seguinte abaixo da crítica — gerando inclusive boatos sobre possíveis negociações —, o capitão do time faz um com começo de temporada. Jogando ao lado de Joe Thornton e Devin Setoguchi, ele parece ter reencontrado seu bom hóquei.

Não apenas Marleau, mas Jonathan Cheechoo — aquele que levou um troféu Maurice Richard para casa anos atrás e depois protagonizou duas temporadas consecutivas muito abaixo do que se espera de um goleador detentor de um Maurice Richard — também protagoniza um ótimo começo de temporada. Artilheiro do time, com quatro gols e seis pontos, Cheechoo parece indicar que a temporada de artilheiro não foi apenas um lampejo na carreira.

No gol, Evgeni Nabokov segue como um dos melhores da NHL.

Porém, esse início dominante do San Jose na Conferência Oeste não chega a surpreender — nem mesmo com uma estranha goleada de 4-0 sofrida no meio do caminho para o rival Anaheim Ducks (os Ducks sim, são uma grande e negativa surpresa), a única derrota da equipe até aqui. Dadas as últimas temporadas, esperávamos que os Sharks seguissem dominantes nesta. Afinal, as mudanças mais significativas ocorreram na comissão técnica e no setor defensivo — no geral, mudanças positivas (eu adoraria ter Dan Boyle no meu time e um Rob Blake, embora caríssimo, ainda tem seu valor).

Depois de estar com uma campanha de 4-0 na temporada, os Sharks levaram quatro gols dos Ducks sem resposta, e perderam o jogo por 0-4. Foi estranho, os Ducks são o lanterna da Conferência. Mas foi bom para assentar o ímpeto. Para um time que já tem a temporada no bolso e que precisa provar mesmo é nos playoffs, as (eventuais poucas) derrotas talvez sejam um grande professor — desde que o time queira aprender, o que me parece ser o caso do San Jose.

A vitória no jogo seguinte, na prorrogação e num jogo em que o time esteve sempre correndo atrás do placar, mostrou espírito de superação. Vencer jogos apertados, sobretudo na prorrogação, é chave para o sucesso nos playoffs. Tudo bem que foi sobre o cambaleante Philadelphia Flyers, mas vá lá, foi uma bela vitória.

Por fim, respondendo ao título da matéria, em princípio todo e qualquer time da NHL deverá temer o San Jose nesta temporada. Trata-se de uma das melhores equipes da liga, e com bagagem de outras recentes ótimas temporadas. Já nos playoffs..., é o que veremos em seis meses. A meta dos Sharks deve ser não se tornar o Ottawa Senators do Oeste.

Marcelo Constantino está de volta à NHL.

• Capa
• Editorial
• Faceoff
• Prorrogação
• Quase (tudo) certo
• Ódio entre (ex) camaradas
• Já viu o Stamkos?
• Os tubarões metem medo?
• A volta do pesadelo?
• O rei
• O barulho do ralo