Por: Eduardo Costa

Ele roeu o osso, teve que lidar com sub-equipes e atletas de passagens quilométricas por departamentos médicos. Na hora em que começou a ter em mãos os ingredientes certos para realizar uma grande campanha, veio a porta dos fundos.

O gerente geral Dale Tallon deu um trato no visual com Jack B. B. Building Hair Gel. Escolheu um paletó Louis Vuitton (?). Treinou suas expressões faciais no reflexo do vidro traseiro de seu Rolls Royce Silver Cloud. Depois subiu até seu escritório, de onde convocou o treinador Denis Savard para uma visita. Lá, usou as imortais palavras de Roberto Justus: "Você está demitido!". Que dureza.

Savard nem mesmo teve tempo para saborear o primeiro sucesso de seus comandados na temporada. Os 4-1 contra o Phoenix Coyotes no United Center deveria trazer a calma para os índios. Os torcedores se animaram com um golaço de Martin Havlat e com um jogo físico e intenso. E viram também Savard ignorar o reforço Cristobal Huet e escalar Nikolai Khabibulin, um atleta que Tallon tenta se desfazer a todo custo.

Se esse embate marcaria o início de uma reação jamais saberemos.

Um dos maiores jogadores da história dos Blackhawks, Savard não durou nem quatro partidas. Pelo que vimos, independente do resultado do quarto encontro, seu destino já estava traçado. O processo de renovação, quase total no gelo, atingiu também boa parte dos bastidores da franquia.

Há um ano nos deleitávamos com a trágica (?) notícia da morte de "Dollar Bill" Wirtz. Como esperávamos, a extinção do sovina foi benéfica para o hóquei em Chicago. O herdeiro Rocky Wirtz deixou a presidência para John McDonough, que, segundo os especialistas da Revista K, é uma marketeiro de primeira, tendo inovado em sua longa passagem pela alta cúpula do Chicago Cubs.

Ele seguiu na mesma toada agora nos Blackhawks. Os jogos dos Blackhawks estão na televisão para todo o Illinóis; convenção do time para integrar fãs e atletas; antigos ídolos, como Stan Mikita, Bobby Hull e Tony Esposito sendo reconhecidos pelos serviços prestados; o jogo ao ar livre no Wrigley Field. Até mesmo Scotty Bowman foi parar na organização, onde fará companhia ao filho, Stan. Pat Foley, carismático narrador do time por muito tempo, também retornou a casa.

Além de Huet e do defensor Brian Campbell. reforços milionários, que renderam muitas manchetes ao time.

Na primeira partida do time em Chicago nessa temporada, tapete vermelho para os fãs.

Ótimos movimentos fora do gelo, sem dúvida. Mas dentro dele haveria um time com jovens peça-chaves, que teriam que lidar com uma cobrança bem maior em relação aos anos anteriores. A cobrança de representar o time da terceira maior cidade dos Estados Unidos, que tenta não apenas ganhar novos torcedores, e sim também recuperar uma imensa legião antiga de fãs, que sumiu após a queda vertiginosa nos últimos dez anos.

Na mesma noite do reencontro de time e torcida no United Center, uma derrota não esperada nos pênaltis para o Nashville Predators. Três insucessos em três jogos.

Demissão tenra, porém não inesperada. O ex-capitão cacique estava dentro de seu último ano de contrato e nenhum intenção de renová-lo foi demonstrada por Tallon. Algumas suspeitas foram levantadas assim que o time contratou Joel Quenneville como pseudo-olheiro.

Savard lançou no time de cima atletas que devem permanecer bons anos na cidade. A saída do treinador de atitude paternalista e de discurso motivador mexeu com a nova geração. Patrick Kane e Jonathan Toews, as talentosas caras da franquia, deram declarações, com direito a lágrimas, onde deixaram claro o choque com que o grupo recebeu a notícia.

Savard fez de tudo na última temporada para que Kane e Toews tivessem uma temporada de estréia livre de pressões. E ambos mostraram muito dentro da competitiva NHL. Mesmo com um festival de contusões, fez seus comandados somarem 17 pontos a mais em relação à campanha de 2006-07. Os playoffs escaparam por míseros três pontos.

O homem no comando técnico agora é mesmo a suspeita de semanas atrás.

Existiam propostas bem melhores para Joel Q assim que ele foi demitido do Colorado Avalanche, mas ele preferiu uma menos nobre. Talvez soubesse que bastava uma seqüência ruim de Savard, para ele assumir a nau em Chicago.

Em dez temporadas completas como treinador principal, pelos Blues e Avalanche, Quenneville deixou de levar seu time aos playoffs apenas em uma oportunidade. É tido um treinador mais exigente que o anterior.

Curiosamente, um dos maiores anseios do Chicago Blackhawks é fazer a rivalidade contra o Detroit Red Wings voltar a ser uma via de mão dupla. Querem em um prazo curto brigar pela supremacia da Divisão Central.

Estão contratando um técnico que, em quatro vezes oportunidades, teve o time de Michigan pela frente na pós-temporada. Joel Q perdeu todas elas.

Embora o esperte profissional seja um campo minado onde o imediatismo reina, Savard, pelo passado distante e recente, deveria ter recebido mais tempo para trabalhar com um time competitivo pela primeira vez na carreira.

"Eu coloquei os jovens em posições certas para terem sucesso. Pensei que estávamos no caminho certo."

Sim, estava. Mas na temporada onde os Blackhawks buscam retornar de vez a respeitabilidade, a organização deu um golpe baixo em uma de suas figuras mais ilustres e amadas.

Eduardo Costa desconhece um atleta que tenha marcado tantos gols de placa quanto Denis Savard.
Charles Osgood/Chicago Tribune
Denis Savard roeu o osso...
Bill Boyce/AP
... e agora Joel Quenneville aproveita o filé.
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Página publicada em 22 de outubro de 2008.