Por: Eduardo Costa

Essa é uma missiva sobre a forte rivalidade entre dois atletas. Um deles veste a camisa do Pittsburgh Penguins e o outro a do Washington Capitals. Mas não, essa não é mais uma coluna sobre o eterno "duelo" entre Sidney Crosby e Alexander Ovechkin.

Se restava alguma dúvida que a relação amistosa entre o número oito do time da capital americana e seu compatriota Evgeni Malkin é coisa do passado, ela foi dissipada na última quinta-feira. A cizânia estava lá. Para quem quisesse ver.

Muitos se espantaram ao ver que os Capitals venceram um embate que perdiam por 3-0 sem que Ovechkin marcasse um único ponto. O moscovita parecia bem mais preocupado em decapitar o homem oriundo dos Urais. Já Malkin, sem achar uma brecha para acertar as contas, acabou atingindo o outro jovem russo do ataque dos Caps.

O atual vencedor do Troféu Hart sempre recebe, com totais méritos, elogios rasgados dessa e de muitas outras publicações, mas sua cega perseguição a Malkin na Mellon Arena contradizem suas declarações de que ele trata o compatriota como um rival qualquer.

Ovechkin trocou várias vezes de posição, renunciando até mesmo ao ataque, apenas para esmagar Malkin nas bordas. Foram cinco trancos poderosos aplicados no adversário. Que Ovie é um entusiasta de belos encontrões todos já sabemos, mas sempre que tem os Pens pela frente, Malkin parece ser o único destino de sua mirada.

Quando o placar mostrava ainda uma vantagem de dois gols para os Penguins, era de se esperar que o atacante buscasse a meta de Marc-André Fleury, mas o alvo continuou sendo o central dos Penguins. Por sorte Malkin escapou de uma que o lançaria sobre seus companheiros de banco. A força investida por Ovechkin no lance foi tamanha que ele teve que se esforçar para não ter o destino que ele reservara para Evgeni.

Já Malkin, que não é um atleta dos mais físicos, apesar da grande estatura, não conseguia encontrar Ovechkin com a guarda aberta, então capitalizou suas frustrações em um perigosíssimo esmagamento em Alexander Semin — potencializado pelo próprio atleta dos Caps, que mesmo vendo a chegada de Geno, se colocou em uma posição de risco.

Ainda não se sabe ao certo quando e por que a inimizade começou.

Malkin tem em Sergei Gonchar seu guia e principal companheiro em Pittsburgh, tanto que só agora, em sua terceira temporada, está deixando de ocupar um dos quartos da casa do defensor.

Gonchar e Alexander Ovechkin não se bicam há algum tempo. Na temporada do locaute, Gonchar retornou à Rússia onde foi atuar no Metallurg Magnitogorsk, se tornando companheiro de Malkin. Em um quente duelo contra o Dynamo de Moscou, o linha azul recebeu um passe suicida. Ovechkin não perdeu a chance. O então atacante do time moscovita acertou Gonchar em cheio, incluindo sua cabeça. Concussão.

A treta que se seguiu foi épica para os padrões russos. Pavel Datsyuk e Maxim Afinogenov brigaram com Alexandre Boikov e Petr Sykora, respectivamente.

No hospital Gonchar mal se lembrava do próprio nome, muito menos o que acontecera horas antes. Ovie fez uma visita a sua vítima na mesma noite. Mas nos encontros seguintes entre Dynamo e Metallurg, o sangue ruim teve retorno e os primeiros empurrões entre Ovechkin e Malkin foram trocados.

Já na América foram "contaminados" pela antiga rivalidade entre Caps e Pens. Os primeiros confrontos entre eles foram amplamente favoráveis ao time de Malkin.

Nem mesmo Gennadiy Ushakov, agente de Malkin, passou imune. Diversos jornais russos deram trela para uma suposta agressão de Ovechkin ao agente. Durante uma festa em uma boate moscovita, Ushakov teria insultado "El Ocho" e a coisa apodreceu (?).

Na última temporada, a ordem do recrutamento de 2004, que viu Ovie ser escolhido em primeiro e Malkin em segundo, foi repetida na artilharia. A corrida rumo ao Troféu Hart alimentou a rivalidade.

Em 21 de janeiro último, os Caps conquistavam uma rara vitória em Pittsburgh. Com Crosby contundido, o show foi inteiramente dos dois. Jogaram muito. Mas entre gols, passes e rápidas patinadas, ficou na retina a grotesca tentativa de Ovechkin de destruir Malkin com um tranco furioso. Malkin viu a locomotiva chegando e "El Ocho" acabou, de forma patética, explodindo nas bordas. Por muito pouco não saíram no braço naquela noite.

Assim como na última vez, também em Pittsburgh. Antes do embate, elogios mútuos. Durante a já descrita cizânia.

Embora todos tenham prazer inenarrável de vê-los atuando, existe uma curiosidade brutal de ver como que a coisa vai acabar quando finalmente as luvas deles caírem. Parece questão de tempo. Até o dia 14 de janeiro. Até o próximo round.

Eduardo Costa ouve Lynard Skynard quando está bêbado.
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O número 2 e o número 1, lado a lado, em tempos de paz.
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O número 71 e o número 8, em tempos de guerra.
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Página publicada em 22 de outubro de 2008.