Por: Nicko Tupanzic

Não precisamos do telescópio Hubble para encontrar a maior estrela de todo o universo. Basta sintonizar nos jogos dos Los Angeles Kings para chegarmos ao resultado desejado. Testemunhar o orgulho da Eslovênia, o profeta do passe, o apóstolo do gol, continuará sendo primazia dos reais súditos do time californiano.

A equipe que um dia hospedou o maior jogador de todos os tempos, o dono de mil truques e de genialidades sem fim; aquele homem que fez com que o hóquei se tornasse grande também naquele estado. Gostaram tanto, que resolveram prolongar o contrato do mesmo.

Anze Kopitar e Dean Lombardi assinaram mais do que simples papéis. As escrituras sagradas nos dizem que Kopitar receberá US$ 47,6 milhões por sete anos de contrato. Lombardi queria um vínculo maior, mas Kopitar, humilde, não quis repetir Wayne Gretzky, que recebeu um contrato de oito anos em 1988.

Sim, continuaremos a batalhar o Struklji nosso de cada dia. Jamais veremos tanto dinheiro quanto nosso ilustre filho verá nesses próximos abastados anos. Mas, apesar da assinatura ser de Anze, é como se cada mão trabalhadora da Eslovênia estivesse naqueles traços contratuais. A vitória de Anze é a vitória de seu povo.

Sérvios e croatas podem continuar a celebrar seus tenistas. Aqueles que um dia, de tanto amarem seu país, se naturalizarão norte-americanos. Nós, da forte e valente Eslovênia, temos Kopitar. Aquele pequeno menino de três anos que jogava hóquei nos lagos de Hrusica acabou de se tornar dono de contrato de cifras tão grandiosas que poderia comprar todo o Kosovo — embora essa não seja uma idéia muito lucrativa.

A Los Angeles de tantas estrelas continuará sendo morada da maior de todas. Enquanto existir Kopitar por lá, outras figuras da localidade continuarão a ficar em um plano secundário, estalinhos se comparados a magnânima presença do onipresente. O metrosexual David Beckam, o anabolizado Barry Bonds, a gargantinha profunda Monica Lewinsky, e por aí vai. Pálidas comparações.

Alguns hereges consideram exagerados os números do contrato. A ignorância desses infelizes atropela a lógica.

Quem foi o garoto que saiu de seu amado país para se tornar um grande do hóquei na Suécia com apenas 17 anos, tendo que pedalar quilômetros para chegar a tempo para os treinamentos?

Quem foi o garoto que encantou aquela mesma Suécia, sendo agraciado como o melhor novato em atividade na Elitserien, ignorando a presença de centenas de 'bergs, 'stroms e 'ins?

Quem foi o homem que liderou um país de pouco mais de dois milhões de habitantes ao seu primeiro mundial? Aquele mesmo, comemorativo dos cem anos da IIHF e realizado no fértil solo canadense. Algo que a Croácia, e seus cinco milhões, jamais sonhará em realizar.

Quem foi o primeiro esloveno a ser escolhido na primeira rodada do recrutamento e que depois veio a ser o primeiro de seu país a atuar na NHL?

Quem foi que transformou Chris Pronger em uma avenida num de seus primeiros turnos na NHL? As imagens estão imortalizadas no YouTube, ao alcance de gerações que ainda estão por vir.

Quem foi que se tornou o mais jovem jogador a disputar um Jogo das Estrelas? Na mesma idade em que você provavelmente se achava ótimo por vencer o vizinho em uma "disputada" partida de "International Superstar Soccer", Kopitar dividia o gelo com Nicklas Lidström e Joe Thornton.

Quem foi o cara que inventou o Ferrorama em 1980? O trem elétrico que era mais do que um brinquedo. Era uma locomotiva de sonhos.

Tudo bem, essa última não foi proeza de Anze Kopitar. Mas todas as facetas anteriores tiveram o central como protagonista.

Não ignorem também o fato de que apenas Sidney Crosby, Alexander Ovechkin, Evgeni Malkin, Dany Heatley e Paul Stastny somaram mais pontos em suas duas primeiras temporadas, nos últimos dez anos da liga, que Kopitar. E vejam quem esses cinco tinham ao seu lado quando atingiram essas grandes marcas.

Uma dessas proezas foi dolorosa para nosso ídolo. Não foi fácil deixar seu lar, mas ele teve que fazê-lo. Era preciso para desenvolver seu jogo.

"O hóquei sempre foi a prioridade em minha vida," ele diz. "Eu sabia que teria que sacrificar algo e foi o que fiz."

E o esforço valeu a pena. A grande visão, a forma com que usa a grande estatura pra proteger o disco, as fintas em alta velocidade, a maturidade precoce. Foram 52 gols e 86 assistências em 154 jogos. Credenciais perfeitas para o risco de um contrato duradouro. O treinador Terry Murray sabe quem lidera a tropa. Por isso festejou a manutenção do astro.

"Ele é claramente um central de primeira linha," diz Murray. "Quando passamos pelo processo de lançar jovens jogadores a um nível maior, vimos o fantástico atleta que resultaria daquela experiência."

Quando resolveu encarar a aventura nos Estados Unidos, todos os ianques diziam que Kopitar passaria um período no Manchester Monarchs (filial dos Kings na AHL) para se adaptar ao estilo norte-americano.

Bastaram alguns turnos no treinamento de pré-temporada para Kopitar mostrar que era um dos mais talentosos e preparados do grupo.

Duas temporadas depois, os Kings continuam em processo de renovação, com um elenco cheio de jovens de muita qualidade como Patrick O'Sullivan, Drew Doughty, Dustin Brown, Oscar Moller e Jack Johnson.

Mas quando vemos esse time em ação, temos a convicção de quem é o comandante da corporação.

Como diz um dos segmentos da novíssima campanha da NHL: 41 anos de espera "repousando" em ombros de um esloveno de 21 primaveras.

Se querem saber, se tem alguém capaz de realizar essa façanha, esse alguém é mesmo Anze Kopitar.

Nicko Tupanzic, professor de literatura da Univerza v Ljubljani, é correspondente de TheSlot.com.br na capital eslovena.
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Anze Kopitar, o rei, novo "dono" do Los Angeles Kings.
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Kopitar, uma das estrelas da NHL, em ação no evento para jogadores do seu porte.
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A idolatria por Anze está estampada até nos muros.
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Página publicada em 22 de outubro de 2008.