Por: Sean Gordon, Allan Maki e David Shoalts, The Globe & Mail

As receitas estão disparando, a audiência da televisão está alta, uma nova temporada acaba de começar e, ainda assim, a NHL não é só luz e doçura. O queixume de donos e dirigentes dos times nos bastidores está se intensificando, porque estes estão assistindo com um horror crescente a milhões de dólares sair dos bolsos de franquias de sucesso para franquias cambaleantes, a maioria no Cinturão do Sol estadunidense.

De acordo com informações compiladas pelo jornal canadense The Globe and Mail a partir de várias fontes, os seis times canadenses da NHL contribuíram com mais de US$ 40 milhões para outros clubes na temporada passada, e cerca de US$ 50 milhões quando as receitas dos playoffs são levadas em conta. Do outro lado do bolo, vários times estão cada vez mais frustrados com a disparada do teto salarial, que agora força todas as equipes a ter uma folha salarial de no mínimo US$ 40,7 milhões. Tudo isso projeta dias sombrios pela frente para o comissário da liga, Gary Bettman, o homem perdido no meio da confusão.

Apesar de garantir seguidamente que a liga está muito saudável — a receita com vendas de produtos, por exemplo aumentou bastante —, muito do que se fala a portas fechadas está concentrado nos descontentes. Richard Peddie, presidente da Maple Leaf Sports and Entertainment, empresa que administra o Toronto, sugeriu que a complicada fórmula de redistribuição de receita não está resolvendo o problema principal relativo ao aumento da receita geral. "Ao tomar algum dinheiro dos Leafs e dá-lo à franquia X, é o clássico caso das cadeiras no deque do Titanic: você não está resolvendo o problema do navio; está só mudando-o de posição", exemplificou Peddie.

Outra parte do problema é que alguns times planejam seus modelos de negócio com base no alívio imprevisível da divisão de receitas e luta para manter seu próprio faturamento abaixo do patamar que os fará ter de contribuir. O Buffalo Sabres e o Nashville Predators, como outros times que gastam na faixa central do alcance do teto, geralmente são citados como exemplos.

Mas outros donos sustentam que o problema maior é o piso salarial da NHL, que tem aumentado ano a ano. "O teto deveria ter solucionado os problemas de todo mundo, mas tudo o que ele fez foi impedir que seis ou sete times gastassem US$ 80 milhões", dispara um dirigente que trocou a franqueza pelo anonimato. "Algumas pessoas estão bem preocupadas. Ficamos parados por um ano para conseguir o teto, e alguns já se perguntam: 'Muito bem, por quê?'"

Como colocou o dirigente de um time da Conferência Leste de longa data, a parte de baixo da balança salarial da NHL hoje já ultrapassou o teto da primeira temporada depois do locaute (US$ 39 milhões). Em muitas cidades, o crescimento da receita e das vendas de ingressos não se manteve com o aumento dos salários desde o locaute de 2004-05. "Certos times estão furiosos com a coisa toda. Não conseguimos nos livrar da arbitragem salarial, e alguns times simplesmente não conseguem manter seus agentes livres restritos ou jogadores que podem optar pela arbitragem", afirma esse dirigente.

Há times, como o Los Angeles Kings, que só vão alcançar o piso salarial por causa de bônus polpudos a calouros que contam contra o teto no começo do ano. E os Kings estão longe de ser os únicos a ter trabalho para alcançar o patamar mínimo. "Há provavelmente 10 ou 12 times que não têm condições de manter uma folha de US$ 40,7 milhões", completa uma fonte com vasto conhecimento das operações da liga.

Questões sobre o teto salarial também estão no centro do debate sobre divisão de receitas. Parte do problema, para os muitos críticos do sistema — diz-se que as vozes discordantes mais altas estão em Montreal, Toronto, Vancouver e Nova York —, é que os times gastando próximo do teto salarial nesta temporada não terão a mesma permissão que tiveram em outros anos, para exceder o teto em 7,5% para bônus de performance. Isso porque este é tecnicamente o último ano do acordo coletivo de trabalho da liga — a Associação de Jogadores da NHL vai decidir em maio próximo se vai reabrir as negociações. Se ela se recusar a fazê-lo, ele será estendido até 2010.

De acordo com diversas fontes, o desembolso médio anual com divisão de receitas está entre US$ 6 milhões e US$ 12 milhões. Maple Leafs, Canadiens e Canucks são os três principais contribuintes canadenses, o que não é surpreendente, dado que são os times com as três maiores receitas de bilheteria na temporada passada (o Toronto foi o primeiro, com US$ 1,9 milhão por jogo).

Além de ser um dos principais contibuintes da divisão de receitas, os Maple Leafs ainda deverão gastar perto do teto salarial nesta temporada. "Fizemos nosso orçamento baseados no teto para este ano. Se vamos gastá-lo por inteiro depende muito de Mats Sundin", revela Peddie. "Nosso orçamento é de US$ 56,7 milhões, mas tivemos de pagar US$ 12 milhões de divisão de receitas. Se somarmos esses US$ 12 milhões [ao teto], temos US$ 68 milhões, então não nos beneficiamos dele."

A alta do dólar canadense nas duas últimas temporadas deu um alívio aos seis times canadenses, que somaram cerca de um terço do faturamento de US$ 2,6 bilhões da liga. Mas com a queda da moeda local, esses mesmos times estão diante de uma crescente incerteza, por causa da crise mundial financeira e de crédito. Como disse o dono dos Senators, Eugene Melnyk, em uma entrevista coletiva na Suécia na semana retrasada: "O que houve nos mercados financeiros mundiais nas últimas semanas é um pouco preocupante. Precisamos ver o que isso vai fazer com as médias de público ao redor da liga e como isso afetará o teto. Essa é a chave."

Se as condições econômicas piorarem, os donos dos times provavelmente receberão uma grande porção do dinheiro dos salários depositado em uma conta caução sob os termos do acordo coletivo. Até agora, o grosso dos fundos foi redistribuído aos jogadores em cada uma das temporadas. O sindicato dos jogadores vai votar no ano que vem se exercerá ou não sua opção de reabrir as negociações, e os donos de vários times estão esperando entusiástica mas silenciosamente que o sindicato decida fazê-lo — apesar de isso parecer improvável —, porque isso também daria a oportunidade de rediscutir a divisão de receitas.

Os números detalhados dessa divisão não são muito divulgados nos círculos da NHL. Para a temporada de 2007-08, os Canadiens gastaram US$ 11,5 milhões em "redistribuição de custos da compensação de jogadores", o termo algo incômodo usado no acordo coletivo. Os Canucks pagaram US$ 10 milhões, o Calgary Flames algo em torno de US$ 6 milhões e os Senators US$ 1 milhão. O Edmonton Oilers contribuiu com US$ 800 mil, apesar de seus dirigentes recusarem-se a discutir dados específicos. "A divisão de receitas, na hora em que você assina o cheque, é doloroso — e nós assinamos uns cheques bem polpudos nos últimos dois, três anos", lamenta o presidente dos Oilers, Pat LaForge. "Vejo como um elogio à nossa administração. Saímos do vermelho para o azul e temos de olhar para isso com orgulho. O acordo coletivo tem sido bom para nós, o dólar tem sido bom para nós, a torcida tem sido boa para nós. Algum compartilhamento é necessário."

É claro que é um pouco inconveniente para os times canadenses — esoecialmente em lugares como Ottawa, Calgary e Edmonton — reclamar das injustiças da divisão de receitas, já que eles se beneficiaram de um plano de ajuste de câmbio da liga inteira nos anos de 1990. "Não são 15 times que se beneficiam. É uma medida temporária. Tomara que ela acabe", espera LaForge.

Sean Gordon, Allan Maki e David Shoalts são repórteres do jornal The Globe & Mail. O texto foi traduzido por Alexandre Giesbrecht.
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Página publicada em 22 de outubro de 2008.