Por: Humberto Fernandes

Para o Toronto Maple Leafs, Brian Burke seria a solução para todos os seus problemas. Sem vencer a Copa Stanley desde 1967 e ausente dos playoffs desde o locaute, a organização apostou em um dos maiores gerentes gerais da atualidade para endireitar o rumo da franquia.

Burke foi contratado em 29 de novembro de 2008, sucedendo a Cliff Fletcher, que durou apenas dez meses como interino. A partir do momento em que assumiu o cargo a que sempre aspirou, o gerente geral tratou de remodelar o time à sua imagem, uma característica marcante de seu trabalho na NHL.

Em cerca de 15 meses de trabalho, o elenco dos Maple Leafs já é composto, em sua maioria, por jogadores adquiridos por Burke. Dos 25 jogadores do elenco atual (dois contundidos), 16 chegaram ao Toronto pelas mãos do gerente, o que corresponde a 64% do time. A título de comparação, John Ferguson Jr., que ocupou o cargo entre 2003 e 2008, somente foi responsável por 60% do elenco em seu quarto ano de labuta.

Do time formado por Ferguson restam apenas três nomes: Carl Gunnarsson, Nikolai Kulemin e Viktor Stalberg. Os atacantes foram selecionados no recrutamento de 2006 e o defensor Gunnarsson no ano seguinte. O russo Kulemin hoje atua na primeira linha do time treinado por Ron Wilson, enquanto o sueco Stalberg completa a segunda. Gunnarsson lidera o time em saldo +/- na temporada.

O reinado de Fletcher deixou uma herança melhor, mas também com uma dívida maior a ser paga. Em sua primeira passagem pelos Leafs (de 1991 a 1997), Fletcher foi o gerente que recrutou o defensor Tomas Kaberle, um dos principais jogadores do elenco atual. Na segunda passagem, selecionou Luke Schenn, defensor de futuro brilhante e único atleta do time com mais de cem trancos desferidos e cem chutes bloqueados. Adquiridos através de trocas, Mikhail Grabovsky, atacante de segunda linha, e Mike Van Ryn, defensor que perdeu toda a temporada por contusão, resistiram ao tempo. Apesar de ter seu nome ligado de maneira positiva a Kaberle e a Schenn, Fletcher não escapa da forca por ter contratado o defensor Jeff Finger, à época agente livre irrestrito, dono de um contrato monstruoso do qual o Toronto não consegue se livrar.

Há, ainda, um único remanescente dos tempos de Pat Quinn, hoje treinador do Edmonton Oilers, que comandou os Maple Leafs como gerente entre 1999 e 2003. Naquele período, a equipe recrutou John Mitchell, atualmente um atacante defensivo da terceira linha.

Daqui em diante, todos os contratos levam a assinatura de Burke.

Antes, uma observação. O elenco do Anaheim Ducks, campeão da Copa Stanley em 2007, era formado basicamente por jogadores contratados como agentes livres ou adquiridos via trocas. Dos 26 atletas, apenas três eram provenientes do recrutamento. Aquele time era comandado por Burke.

Hoje, nos Leafs, o gerente segue a mesma fórmula, apostando em jogadores prontos, adquiridos por troca ou no mercado de agentes livres, em detrimento do recrutamento, como prova a cessão de duas escolhas de primeira rodada por Phil Kessel, sua troca mais comentada. Burke está propenso a acreditar no agora, nunca no que pode vir a ser amanhã.

Em outras trocas, ele adquiriu Jean-Sebastien Giguere, vencedor do Troféu Conn Smythe em 2003; Dion Phaneuf, finalista do Troféu Calder em 2006 e do Troféu Norris em 2008; Garnet Exelby, defensor muito apreciado em outros tempos; Wayne Primeau, um brucutu; Fredrik Sjostrom, ninguém; e Luca Caputi, promovido à segunda linha de ataque.

Via desistência, o Toronto requisitou Jamie Lundmark, atacante muito rodado.

E no mercado, Burke assinou com agentes livres de diversas origens. Alguns jogadores ele foi buscar fora da NHL, como Jonas Gustavsson, goleiro sueco que se destacou em seu país; Rickard Wallin, companheiro de Gustavsson na Suécia; Tyler Bozak e Chris Hanson, atacantes que atuavam em ligas universitárias; outros trocaram de time, como Francois Beauchemin, defensor campeão da Copa Stanley em 2007; Mike Komisarek, também defensor e supervalorizado; Colton Orr, intimidador; e Jay Rosehill, ninguém.

O gráfico abaixo demonstra como cada gerente geral contribuiu para a formação do elenco dos Maple Leafs.




Burke é dono de 64% do time e esse percentual tende a aumentar para a próxima temporada.

O próximo gráfico compara a origem dos jogadores como um todo (azul claro) e adquiridos por Burke (azul escuro).



Com a maioria do elenco, é óbvio que Burke foi responsável por quase todas as trocas e contratações de agentes livres. No recrutamento, entretanto, ele está no zero, algo que pode ser apontado (no longo prazo, não agora) como uma falha de gerenciamento.

O Detroit Red Wings, campeão da Copa Stanley em 2008, tinha dez jogadores recrutados pela franquia. O Pittsburgh Penguins, campeão no ano seguinte, tinha nove.

Nesta temporada, o trabalho de Burke consistiu em basicamente reformular o elenco, pensando no futuro, o que gerou uma situação curiosa. Dos onze maiores pontuadores do time na temporada, seis não estão mais em Toronto.

Entre os jogadores remanescentes, apenas dois entraram na temporada com mais de 700 jogos na carreira (Kaberle e Primeau). Outros cinco tinham mais de 300 jogos (Komisarek, Sjostrom, Exelby, Van Ryn e Phaneuf). Entre 200 e 300 jogos, apenas quatro (Lundmark, Beauchemin, Orr e Kessel). Com mais de 100 jogos e menos de 200, só dois (Finger e Grabovski). Na casa dos 70 jogos, três (Mitchell, Kulemin e Schenn). E o mais impressionante: com menos de 20 jogos, sete (Wallin, Caputi, Hanson, Bozak, Gunnarsson, Stalberg e Rosehill), sendo quatro estreantes.

Dez jogadores, ou seja, mais da metade do time, não têm duas temporadas no currículo, o que demonstra a juventude e a inexperiência do elenco.

Apenas por curiosidade, o time de 2007-08 dos Leafs, a última temporada pré-Burke, contava com: Vesa Toskala e Andrew Raycroft (goleiros); Bryan McCabe, Tomas Kaberle, Pavel Kubina, Hal Gill, Ian White, Carlo Colaiacovo, Andy Wozniewski e Anton Stralman (defensores); e Nik Antropov, Mats Sundin, Matt Stajan, Alex Steen, Jason Blake, Darcy Tucker, Alexei Ponikarovsky, Dominic Moore, Boyd Devereaux, Kyle Wellwood, Chad Kilger, Jiri Tlusty, Mark Bell, John Pohl, Kris Newbury e Wade Belak (atacantes).

É um time inteiro novo, exceção a Kaberle.

Nas mãos de Burke, o futuro dos Leafs pode ser promissor, mas tem que ser do seu jeito.

Humberto Fernandes vai viajar a trabalho e não participará da edição n.º 264.

Justin K. Aller/Getty Images
Phil Kessel é a comprovação de que Brian Burke prefere jogadores prontos a escolhas no recrutamento.
(28/03/2010)

Kevin C. Cox/Getty Images
Dos cinco jogadores acima, três são estreantes, um está na segunda temporada e o outro não disputou muito mais do que cem jogos.
(25/03/2010)

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Página publicada em 2 de abril de 2010.