Por: Guilherme Calciolari

Sonhar é bom. Tem gente que sonha com dinheiro, ou com fama, mas por exatos treze anos eu sonhei com uma só coisa: ir à Joe Louis Arena, em Detroit. Exatos treze anos, pois a primeira partida de que me lembro ter assistido foi a grande batalha de 26 de março de 1997 contra Colorado.

Claro, era um sonho modesto, quem sabe para quando eu tivesse uns 30 anos ou mais, ir lá sozinho ou com a família. Mas neste mundo sempre existe alguém para lhe ajudar a realizar um sonho.

A história do "Herm to Hockeytown" já foi contada aqui. Torcedores de Detroit ajudando um brasileiro a ir assistir a uma partida na Joe Louis, e ajudando o Hospital Infantil de Michigan por tabela. A expectativa foi crescendo desde dezembro, e no dia 26 de março tudo aconteceu.

Na verdade, começou no dia 25. O departamento social da franquia resolveu dar mais alguns presentes para o torcedor tão distante. Embalados pelo tema do marketing do clube na temporada — "Hockeytown: No Limits" —, o clube me ofereceu um passeio pelo ginásio vazio.

Entrando num prédio de tanto valor histórico esportivo, a primeira coisa que fiz, automaticamente, foi olhar para cima. Lá estavam os banners dos onze títulos de Copa Stanley, os banners dos apenas seis jogadores com o número aposentado, incluindo o "Sr. Hóquei" Gordie Howe e Steve Yzerman, aposentado com o "C" que sempre será dele.

Os presentes logo começaram a chegar: uma camisa de Darren Helm, uma placa autografada pelo elenco e a notícia de que eu conheceria Helm depois da partida de sexta-feira. Tive acesso ao vestiário dos visitantes, às cabines de imprensa e ao restrito Olympia Club, local onde os afortunados de Detroit podem relaxar durante os jogos — acha estranho ver locais vazios na arquibancada e ver nas estatísticas que o ginásio estava lotado? O Olympia Club estava lotado.

No dia seguinte, pude assistir ao treino da manhã, onde consegui me antecipar aos jornalistas de Detroit e dizer que Patrick Eaves, que havia perdido as últimas três partidas, participaria do jogo daquela noite. Foi no treino que pude perceber como hóquei no gelo é um esporte rápido. Mesmo Tomas Holmstrom parecia um foguete, imagine então jogadores muito rápidos como Kris Draper ou Helm.

Depois do treino e antes do jogo, os participantes do H2H foram ao Hockeytown Café, considerado um dos melhores bares de esporte de Detroit. Foi lá que pudemos nos conhecer além de logins e avatares, e curiosamente não houve um estranhamento. Depois de tanto tempo conversando pela internet, nos cumprimentávamos como amigos que não se viam há muito tempo (com a ajuda de um crachá com o screen name de cada um). Lá estavam as 150 pessoas que, entre muitas outras mais, me ajudaram a ir para Detroit. Além disso, mais de US$ 5.700,00 foram coletados para o Hospital Infantil. Definitivamente, o evento foi um sucesso.

Muitos itens foram sorteados (tacos e camisas autografados, entre outros), inclusive quatro vagas para assistir ao aquecimento sentado no banco de penalidades. Lá fui eu para a Joe Louis, onde pude andar pelo gelo e pegar discos utilizados nos treinos. Depois do aquecimento, subi para o meu lugar, em uma das duas seções de arquibancada reservadas para os participantes do evento. Continuei correndo para lá e para cá ao longo do jogo, indo para a cabine da Fox Sports Detroit e para o andar inferior para dar uma entrevista para o Jumbotrom do ginásio. Nesta hora já estava acostumado às câmeras, já que três canais de TV foram enviados ao Hockeytown Café para cobrir a minha "aventura".

O jogo em si foi ótimo, ideal para ser o primeiro de alguém. Os Red Wings venceram por 6 a 2, a torcida estava animada, e o jogo tinha implicações na classificação, já que pela primeira vez em muito tempo o time teve que brigar por uma vaga nos playoffs.

Depois do jogo fui conhecer Darren Helm. Você pode achar estranho que eu queira conhecer um jogador de terceira linha, mas ele é meu jogador preferido. É só dois anos mais velho do que eu e é basicamente do meu tamanho, mas é a personificação do jogador de hóquei: muito rápido, se entrega no gelo e põe as necessidades do time em primeiro lugar.

Ao chegar no vestiário, pude ver Nicklas Lidstrom, Pavel Datsyuk e Jonathan Ericsson. Também vi os armários imortais de Terry Sawchuk e Sid Abel. Helm foi super gentil comigo, perguntou como tinha sido o jogo e me ofereceu o taco que utilizou na partida. Autografou o taco e a minha camisa, foi simpático e parece ter achado engraçado que eu o chame de "Deus" no blog Red Wings Brasil.

O Herm to Hockeytown terminou em outro bar, para onde nosso grupo foi numa noite de -2º C. Lá, finalmente, tive a chance de conversar com o pessoal, e é muito legal conversar sobre hóquei com alguém ao vivo.

Cheguei de volta ao Brasil depois de 50 horas em outro país, onde eu me senti em casa.

O evento foi um sucesso, e uma das coisas mais legais é que ele foi feito totalmente pela internet. Os organizadores não se conheciam pessoalmente, os incentivadores foram blogueiros do mundo afora, a divulgação também foi quase toda online.

Ainda é meio difícil acreditar no que aconteceu. Só posso agradecer a todo mundo que fez disso tudo realidade, desde André José Adler (por me apresentar ao hóquei) até o pessoal da TheSlot.com.br que ajudou a manter meu carinho pelo esporte em tempos difíceis para nós no Brasil, além, claro, da equipe e dos leitores do Red Wings Brasil (onde você pode ler mais sobre o H2H), os organizadores e todo mundo que gosta de hóquei.

"Milagre de Natal", "sonho realizado", "loucura"... chamem do que quiser, mas esse foi o dia em que o Brasil brilhou na NHL.

Guilherme Calciolari escreve para o blog Red Wings Brasil.
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Página publicada em 2 de abril de 2010.