Por: Marcelo Constantino

Série estranha. Não exatamente por cada time prevalecer jogando em casa, com a natural exceção do derradeiro jogo 6. Mas sobretudo pela forma como cada time prevaleceu.

Quando o jogo era em Detroit, os Wings sobravam, dominavam amplamente, arrasavam os Flames, que simplesmente apagavam. A tal ponto que, no jogo 5, o time canadense perdeu a cabeça e começou apelar para lances característicos de frustração, bisonhas de tentativa de criar confusão — cujo auge foi a patética aparição do goleiro Jamie McLennan na série.

Porém, quando o jogo era em Calgary não era exatamente o inverso, os jogos eram equilibrados. Esqueça a quantidade de disparos a gol que os Wings realizaram, a maioria expressiva deles não eram chances reais de gol. Os jogos eram equilibrados simplesmente porque os Flames jogavam. Fora de casa os Flames eram tão patéticos que acabou ofuscando qualquer análise sobre se os Wings pioravam ou não ao jogarem em Calgary. Eu não sei. Achei que no jogo 4 os Flames efetivamente demonstraram mais garra que os Wings, mas essa talvez tenha sido a única vantagem dos canadenses na série.

Eu vejo muita gente dizendo que série foi fácil para os Red Wings, e geralmente fazem isso diante do desequilíbrio absoluto de disparos a gol. Não foi bem assim. Em metade dos jogos realmente os Wings dominaram amplamente — claro, os três jogos em Detroit —, a outra metade não. Você há de perguntar: mas nem o jogo 6? Ok, o Detroit foi superior no jogo 6 em Calgary, mas não de forma ampla como nos jogos na Joe Louis Arena, o domínio real de jogo esteve muito abaixo da disparidade entre os chutes a gol.

O principal resultado da série para cada um é bastante simples, do meu ponto de vista. Para os Flames fica o karma de atuarem pavorosamente fora de casa. É algo que vem da temporada normal e que permaneceu, de forma superlativa, nos playoffs. Eles simplesmente se apagam, sei lá. Aquele time dos Flames que joga fora de casa não é time de playoffs, é time para jogar contra o Columbus. O contraste em relação ao que jogam dentro de casa é absurdo — e não por jogarem uma barbaridade em casa, porque não jogam.

Para os Red Wings o principal resultado, claro, foi espantar o fantasma de uma nova eliminação precoce. Ainda que muitos tivessem apostado — eu inclusive — em mais um fracasso prematuro, era uma série de um primeiro colocado contra um oitavo. E de um primeiro colocado que por muito pouco não foi primeiro geral da NHL contra um oitavo que por muito pouco não ficou de fora dos playoffs.

A vitória dos Wings serviu também para que Pavel Datsyuk espantasse o fantasma de não marcar gols em playoffs, o que certamente deu não apenas tranqüilidade, mas também confiança ao central russo, que por várias vezes foi visto desferindo trancos nos defensores do Calgary — algo inimaginável dada sua estatura e seu histórico.

Servirá também para que todos possam ver um pouco mais de Todd Bertuzzi com a camisa vermelha e branca de Detroit. Ele está longe de ser aquela força toda que ficou famosa nos tempos de Vancouver Canucks (mas, veja lá, o antigo fiel companheiro de linha Markus Naslund também está bem distante daqueles tempos áureos), mas evoluiu visivelmente a cada jogo nesses playoffs. Se Bertuzzi não foi aquele cara que abre espaço para si em meio aos defensores adversários, o espaço que era dele ao redor da área adversária dificilmente foi tomado pelos defensores dos Flames, mesmo o ótimo Djon Phaneuf — com quem ele viveu às turras durante a série, protagonizando a única briga realmente penalizada entre dois jogadores. Bertuzzi tem ainda uma habilidade incomum aos atacantes dos Wings, que é a de dominar e proteger o disco na zona de ataque, perto do gol adversário, mas fora das bordas. Tomas Holmstrom também faz isso, mas com bem menos habilidade na hora de controlar o disco e de passá-lo. Como os Wings estrearão a série contra o San Jose Sharks sem Holmstrom — resultado de uma tacada no olho, desferida por Craig Conroy em plena prorrogação do jogo 6, que foi penalizada com quatro minutos em que, claro, o time de vantagem numérica dos Wings não conseguiu marcar — esperem por um papel ainda maior de Bertuzzi na equipe.

Bom também para o técnico Mike Babcock, que certamente não seria mantido em caso de uma nova eliminação. O desafio agora é muito, mas muito superior: o San Jose Sharks é tido como um dos favoritos do Oeste e nem tomou conhecimento do Nashville Predators na primeira fase. Pela primeira vez em vários anos os analistas de hóquei não apontam os Red Wings como favoritos numa série de playoffs. E com toda razão.



Na segunda-feira assisti ao jogo 7 entre Dallas Stars e Vancouver Canucks. Um jogão, sobretudo pela atmosfera proporcionada pelos torcedores do Vancouver e pela pressão que o time canadense exerceu sobre os Stars depois de tomarem o primeiro gol. Empurrados pela torcida, os Canucks encurralaram o time norte-americano até conseguirem empatar e virar o jogo. E o Dallas não mostrou o mesmo poder de reação quando precisou. Duas observações me chamaram a atenção na série: como Marty Turco finalmente espantou o estigma de não ser goleiro de playoffs e como o ataque do Vancouver foi anêmico. Ou talvez uma coisa tenha sido causa/conseqüência da outra.

Marcelo Constantino sempre considerou o judiciário brasileiro uma piada e está na platéia assistindo ao desnudamento da formação de quadrilha no STF.

Jeff McIntosh/AP
Com Mathieu Schneider, Johan Franzen comemora o gol com que fechou a série na prorrogação do jogo 6, marcado por ele, Franzen — justamente o jogador havia tomado uma tacada na barriga do goleiro Jamie McLennan, no jogo anterior. Justiça vingativa?

Jerry S. Mendoza/AP
Duelo de capitães. Nicklas Lidstrom foi escalado para marcar Jarome Iginla durante todos os jogos e todas as situações de jogo. E fez bem, ainda que Iginla tenha conseguido escapar algumas vezes. Num dado momento do jogo 5 eles chegaram a se encarar, como mostra a foto. Iginla foi o melhor jogador de linha dos Flames e Lidstrom o melhor jogador dos Wings na série.
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Página publicada em 25 de abril de 2007.