Série estranha. Não exatamente por cada time prevalecer jogando em
casa, com a natural exceção do derradeiro jogo 6. Mas sobretudo pela
forma como cada time prevaleceu.
Quando o jogo era em Detroit, os Wings sobravam, dominavam amplamente,
arrasavam os Flames, que simplesmente apagavam. A tal ponto que, no
jogo 5, o time canadense perdeu a cabeça e começou apelar para lances
característicos de frustração, bisonhas de tentativa de criar confusão
— cujo auge foi a patética aparição do goleiro Jamie McLennan
na série.
Porém, quando o jogo era em Calgary não era exatamente o inverso, os
jogos eram equilibrados. Esqueça a quantidade de disparos a gol que
os Wings realizaram, a maioria expressiva deles não eram chances reais
de gol. Os jogos eram equilibrados simplesmente porque os Flames jogavam.
Fora de casa os Flames eram tão patéticos que acabou ofuscando qualquer
análise sobre se os Wings pioravam ou não ao jogarem em Calgary. Eu
não sei. Achei que no jogo 4 os Flames efetivamente demonstraram mais
garra que os Wings, mas essa talvez tenha sido a única vantagem dos
canadenses na série.
Eu vejo muita gente dizendo que série foi fácil para os Red Wings, e
geralmente fazem isso diante do desequilíbrio absoluto de disparos a
gol. Não foi bem assim. Em metade dos jogos realmente os Wings dominaram
amplamente — claro, os três jogos em Detroit —, a outra
metade não. Você há de perguntar: mas nem o jogo 6? Ok, o Detroit foi
superior no jogo 6 em Calgary, mas não de forma ampla como nos jogos
na Joe Louis Arena, o domínio real de jogo esteve muito abaixo da disparidade
entre os chutes a gol.
O principal resultado da série para cada um é bastante simples, do meu
ponto de vista. Para os Flames fica o karma de atuarem pavorosamente
fora de casa. É algo que vem da temporada normal e que permaneceu, de
forma superlativa, nos playoffs. Eles simplesmente se apagam, sei lá.
Aquele time dos Flames que joga fora de casa não é time de playoffs,
é time para jogar contra o Columbus. O contraste em relação ao que jogam
dentro de casa é absurdo — e não por jogarem uma barbaridade em
casa, porque não jogam.
Para os Red Wings o principal resultado, claro, foi espantar o fantasma
de uma nova eliminação precoce. Ainda que muitos tivessem apostado —
eu inclusive — em mais um fracasso prematuro, era uma série de
um primeiro colocado contra um oitavo. E de um primeiro colocado que
por muito pouco não foi primeiro geral da NHL contra um oitavo que por
muito pouco não ficou de fora dos playoffs.
A vitória dos Wings serviu também para que Pavel Datsyuk espantasse
o fantasma de não marcar gols em playoffs, o que certamente deu não
apenas tranqüilidade, mas também confiança ao central russo, que por
várias vezes foi visto desferindo trancos nos defensores do Calgary
— algo inimaginável dada sua estatura e seu histórico.
Servirá também para que todos possam ver um pouco mais de Todd
Bertuzzi com a camisa vermelha e branca de Detroit. Ele está longe de
ser aquela força toda que ficou famosa nos tempos de Vancouver Canucks
(mas, veja lá, o antigo fiel companheiro de linha Markus Naslund também
está bem distante daqueles tempos áureos), mas evoluiu visivelmente
a cada jogo nesses playoffs. Se Bertuzzi não foi aquele cara que abre
espaço para si em meio aos defensores adversários, o espaço que era
dele ao redor da área adversária dificilmente foi tomado pelos defensores
dos Flames, mesmo o ótimo Djon Phaneuf — com quem ele viveu às
turras durante a série, protagonizando a única briga realmente penalizada
entre dois jogadores. Bertuzzi tem ainda uma habilidade incomum aos
atacantes dos Wings, que é a de dominar e proteger o disco na zona de
ataque, perto do gol adversário, mas fora das bordas. Tomas Holmstrom
também faz isso, mas com bem menos habilidade na hora de controlar o
disco e de passá-lo. Como os Wings estrearão a série contra o San Jose
Sharks sem Holmstrom — resultado de uma tacada no olho, desferida
por Craig Conroy em plena prorrogação do jogo 6, que foi penalizada
com quatro minutos em que, claro, o time de vantagem numérica dos Wings
não conseguiu marcar — esperem por um papel ainda maior de Bertuzzi
na equipe.
Bom também para o técnico Mike Babcock, que certamente não seria mantido
em caso de uma nova eliminação. O desafio agora é muito, mas muito superior:
o San Jose Sharks é tido como um dos favoritos do Oeste e nem tomou
conhecimento do Nashville Predators na primeira fase. Pela primeira
vez em vários anos os analistas de hóquei não apontam os Red Wings como
favoritos numa série de playoffs. E com toda razão.
Na segunda-feira assisti ao jogo 7 entre Dallas Stars e Vancouver Canucks.
Um jogão, sobretudo pela atmosfera proporcionada pelos torcedores do
Vancouver e pela pressão que o time canadense exerceu sobre os Stars
depois de tomarem o primeiro gol. Empurrados pela torcida, os Canucks
encurralaram o time norte-americano até conseguirem empatar e virar
o jogo. E o Dallas não mostrou o mesmo poder de reação quando precisou.
Duas observações me chamaram a atenção na série: como Marty Turco finalmente
espantou o estigma de não ser goleiro de playoffs e como o ataque do
Vancouver foi anêmico. Ou talvez uma coisa tenha sido causa/conseqüência
da outra.
Jeff McIntosh/AP |
Jerry S. Mendoza/AP Duelo de capitães. Nicklas Lidstrom foi escalado para marcar Jarome Iginla durante todos os jogos e todas as situações de jogo. E fez bem, ainda que Iginla tenha conseguido escapar algumas vezes. Num dado momento do jogo 5 eles chegaram a se encarar, como mostra a foto. Iginla foi o melhor jogador de linha dos Flames e Lidstrom o melhor jogador dos Wings na série. |