Por: Humberto Fernandes

O treinador Ron Wilson, hoje no San Jose Sharks, se lembra muito bem do Detroit Red Wings. Era Wilson quem treinava o Anaheim Mighty Ducks em 1997, quando os Red Wings varreram a então equipe da Disney. Também era ele quem chegou às finais da Copa Stanley com o Washington Capitals em 1998, para ser novamente varrido pelo Detroit.

Wilson espera escrever um capítulo diferente em sua história pessoal contra esse rival, a quem ele odeia desde criança. O menino Ron nunca gostou dos Red Wings e odiava Gordie Howe, porque ele torcia para o Toronto Maple Leafs. A arena Joe Louis certamente não é o lugar onde ele escolheria para se divertir em um momento de folga do trabalho.

Chegou a hora da vingança.

O treinador acredita que pode vencer o Detroit, principalmente porque os Sharks já fizeram isso na temporada regular. Por três vezes. E duas por goleadas impiedosas (segundo o Professor Pasquale, isso não é uma redundância). Então a maneira de Wilson preparar seus comandados para o confronto que se inicia na quinta-feira não poderia ser outra: os jogadores foram reunidos para assistir momentos das três vitórias, com destaque para os gols marcados.

A "sessão de cinema" deve ter durado uma eternidade, porque os Sharks fizeram muitos gols nos Wings. Foram 18 em quatro jogos, com destaque para a noite de 4 de janeiro em San Jose, quando marcaram nove gols seguidos, sendo seis em vantagem numérica, e venceram por 9-4. Na visita anterior os Wings haviam sido derrotados por 5-1. Em Detroit, uma vitória e uma derrota, ambas por um gol.

Os Red Wings carregam para o confronto o peso da lembrança desses jogos contra os Sharks. Mesmo que o último tenha acontecido há mais de três meses, é impossível apagar da memória como a equipe foi amplamente dominada pelo adversário quando se enfrentaram. Antes mesmo da primeira disputa de disco, o Detroit já entra em desvantagem psicológica na série.

Não é segredo a forma de jogar do San Jose: rolando as quatro linhas de ataque, balanceadas com muita força, talento e velocidade. Contra o Nashville Predators a linha com menor tempo de gelo atuava em média por 11 minutos por jogo e a maior por cerca de 20. Wilson confia que um de seus atacantes decidirá a partida a seu favor, não importa qual. Ele conhece muito bem o material humano que tem em mãos.

Sempre que Joe Thornton estiver no gelo, Nicklas Lidstrom estará lá para marcá-lo. O sueco sabe que reduzir o espaço de jogo é o segredo para neutralizar os grandes atacantes da liga. Foi assim que ele impediu que Jarome Iginla fosse um fator na maior parte da série contra o Calgary Flames. Mas os Sharks não dependem apenas de Thornton, embora ele seja o melhor jogador do time. Patrick Marleau e Ryane Clowe, por exemplo, marcaram três gols cada na primeira rodada.

E assim os Sharks vão pressionar os Wings, atacá-los e agradecer a cada penalidade sofrida, para marcar gols em vantagem numérica. Porque eles são maiores, mais fortes e mais rápidos.

O que o Detroit pode fazer é manter a simplicidade. Não abrir mão do ataque e metralhar o goleiro Evgeni Nabokov, se possível — Nabokov não tem um bom histórico contra os Red Wings. A essas alturas, alterar o estilo de jogo da equipe custaria caro, até porque seria adotado outro esquema, diferente do que os jogadores estão acostumados a desempenhar. É melhor manter o que deu certo na primeira rodada e em toda a temporada. E ficar longe do banco de penalidades.

Do Oceano Pacífico vem a inspiração para os Wings: por incrível que pareça, os polvos são predadores de tubarões. Na natureza é assim, como demonstra esse vídeo.

O maior tentáculo de Detroit terá de ser Dominik Hasek. Ele alternou bons e maus momentos contra os Flames, o que seria imperdoável contra os Sharks. A defesa fez o seu papel, matando penalidades com perfeição na maior parte das vezes. Lidstrom, Mathieu Schneider, Danny Markov e o veteraníssimo Chris Chelios provaram que podem manter o time na partida. Mike Babcock e todo o elenco confiam em Hasek. Mesmo aos 42 anos o goleiro transpira confiança, mas dessa vez ele será muito mais exigido e precisará elevar seu nível de jogo ao ponto de roubar jogos.

O grande Todd Bertuzzi é um fator de desequilíbrio, porque ninguém jamais, nunca e em tempo algum se atreveu a desferir um tranco no atacante. Ele é capaz de prender o disco e criar jogadas de ataque, além de atrapalhar o goleiro adversário com todo o seu tamanho. Os Wings precisarão aproveitar as oportunidades de gol surgidas de rebotes e de preferência correr sempre à frente do placar. O fato de abrir a série com dois jogos em Detroit pode aumentar a confiança do time e definir o famoso "momentum" a seu favor.

Independente do resultado, a série entre Red Wings e Sharks será observada não só pelos fãs das equipes, mas por todos os admiradores do esporte. É a primeira vez em muito tempo que o favoritismo não está do lado do Detroit e será interessante acompanhar como a equipe se comportará diante de um adversário claramente superior, desde sempre favorito ao título da Copa Stanley guiado por Thornton.

Humberto Fernandes voltou a ser blogueiro.
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Não importa quem seja, é um tubarão e dos grandes! O San Jose Sharks não é o time de um único jogador.
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Página publicada em 25 de abril de 2007.