Por: Marcelo Constantino

Fala-se muito da dupla de novatos do Chicago Blackhawks — Jonathan Toews e Patrick Kane — e com toda razão: são efetivamente dois candidatíssimos ao Troféu Calder da temporada, se continuarem com a surpreendente boa performance até aqui.

Mas há outro novato no páreo, ainda que com menos destaque: o defensor Tobias Enstrom, do Atlanta Thrashers. Infelizmente os defensores têm menos divulgação quando se trata de Calder. Algumas vezes eles dão o azar de estrearem na mesma temporada de alguns grandes atacantes.

Foi assim recentemente com o ótimo Djon Phaneuf, que foi novato na NHL ao lado de ninguém menos que Sidney Crosby e Alexander Ovechkin. Foi assim também com excêntrico colecionador de Troféus Norris Nicklas Lidstrom. Em sua temporada de estréia, em 1991-92, ele deu o azar de ser novato ao lado de Pavel Bure. Nem mesmo os 60 pontos na temporada foram suficientes para tirar o Calder do famoso Foguete Russo.

Certamente isso se repetirá nesta temporada e pouco importa se é justo ou não, importa é que Tobias Enstrom já chega dizendo a que veio.

O sueco de 23 anos foi selecionado na oitava rodada do recrutamento de 2003 como a 239ª escolha geral. Isso pq ele fora eleito o novato do ano na SEL (Swedish Elite League) logo antes, imagine se não fosse. Provavelmente sua (suposta) baixa estatura (1,78m) influenciou os times, que o preteriram escolha após escolha.

Enstrom vem jogando como veterano no Atlanta. Defensor com habilidades ofensivas, tornou-se presença cativa no time de vantagem numérica (ninguém tem mais tempo que ele em VN no time), atua por cerca de 23 minutos toda noite e lidera — de longe — os defensores da equipe em pontos (tem 16 e o segundo, Niclas Havelid, tem 8). Aliás, em temos de pontos ele só fica atrás da dupla Ilya Kovalchuk e Marian Hossa. Em assistências, é o segundo do time, com 13. E é ele que tem o melhor +/- da equipe (+8), ao lado de Havelid. Além de jogar como, Enstrom tem números de veterano na frágil equipe do Atlanta.

Cassandras plantonistas até haverão de dizer que o sucesso dele fica mais em evidência devido à carência de defensores de qualidade no elenco dos Thrashers e ao mau começo do time. Nada mais falso: uma situação dessas geralmente tende a queimar um jogador novato, em vez de enaltecê-lo. E, no fim das contas, o defensor está se destacando por seus próprios méritos. Jogador de qualidade se destaca independentemente de o time ser bom ou ruim.

O suposto medo de que o tamanho de Enstrom fosse pesar negativamente até agora não surtiu grande efeito. Eu não sei exatamente de onde veio essa coisa de que um cara de 1,78m tem estatura "baixa", mas vamos lá. É evidente que uma estatura menor leva desvantagem, mas geralmente o bom jogador compensa isso de outras maneiras. Quem não se recorda, por exemplo, do defensor Larry Murphy? Ele não era baixinho, mas tinha outra deficiência grave quando aportou nos Red Wings: era lento, mas muito lento. Foi escorraçado dos Maple Leafs sobretudo por isso. Mas era um baita jogador, que compensava a falta de velocidade (natural e agravada com a idade já na casa da segunda metade dos 30) com destreza, qualidade no passe, bom posicionamento defensivo e boa produção ofensiva.

Uma carência ainda a ser sanada por Enstrom é a pouca aptidão para disparar a gol. Ainda que seja o jogador com mais tempo de jogo em VN no time, ele poucas vezes dispara contra a meta adversária: tem apenas 28 chutes a gol, é o 9º do time neste quesito.

Tanto que o técnico interino, Don Waddell, levantou essa lebre esta semana, orientando Enstrom a chutar a gol também, e não ficar buscando as armas mortíferas do time (Kovalchuk e Hossa) para fazê-lo.

"Todo mundo me diz isso, mas eu nunca fui um chutador. Eu gosto de passar", diz Enstrom, para logo a seguir meio que contradizer-se: "É bom fazer gols, não sei por que não chuto". Hein?!

Para um time com crônicos problemas defensivos, ter mais um jovem promissor — o outro é o demolidor Garnet Excelby — é um alento. Talvez num dia muito próximo os dois formem uma bela dupla de defensores. Por ora o caminho é deixar o garoto desenvolver-se.

Marcelo Constantino já ganhou presente de Natal. De Papai Joel, claro.
Bruce Bennett/Getty Images
Tobias Enstrom (39), defensor novato que já atua como veterano na NHL.
Mike Cassese/Corbis
Embora seja presença constante na VN do Atlanta, é raro o garoto marcar gols. Mas contra os Maple Leafs até ele marca.
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Página publicada em 5 de dezembro de 2007.