Por: Alexandre Giesbrecht

O ataque dos Rangers começou a temporada como motivo de piada. O time marcava gols com uma freqüência menor do que a maioria das pessoas troca o óleo do carro. Chegou a passar em branco por 18 de 24 períodos, mais uma prorrogação. E suas principais estrelas contavam gols com uma mão só — e sobravam muitos dedos.

Bem, nesse último quesito as coisas não melhoraram muito. Nenhum jogador do elenco precisa de mais que duas mãos para contar seu total de gols — e sobram no mínimo três dedos para todos, exceto Brendan Shanahan, logo ele, que precisou chutar 40 vezes para marcar seu primeiro gol e hoje tem nove. E talvez no primeiro quesito as coisas também não tenham melhorado muito. Apenas dois times têm um ataque pior que o do time de Nova York, e esses dois times têm dois jogos a menos. Os rivais municipais Islanders têm cinco gols a menos, depois de uma seqüência de 140 minutos sem marcar na última semana, enquanto os Coyotes têm dois. Ainda assim, na média, os Rangers estão atrás de todo mundo.

Então como explicar a subida meteórica dos Rangers, que assumiram a liderança de uma das duas divisões mais competitivas da NHL? É fácil, e são necessárias apenas duas palavras: Henrik Lundqvist. O time marcou cinco gols apenas duas vezes nesta temporada, na primeira e na última vitórias. Quatro gols? Só três vezes. Em compensação, passou em branco outras quatro vezes e marcou um golzinho só outras tantas.

Com números assim, só um goleiro espetacular lá atrás pode levar um time aos playoffs, como bem sabem os abençoados em ter visto gente como Martin Brodeur, Dominik Hasek e Patrick Roy defendendo o gol de seus times. É proteção desse calibre que Lundqvist tem proporcionado ao seu time. Mais impressionante ainda é que ele foi o titular em 25 dos 27 jogos dos Rangers. E não foi substituído em nenhum deles. Pobre Stephen Valiquette, que só tirou o traseiro do banco na 17.ª partida do time.

Neste instante, não dar o Vezina para este sueco é quase tão inconcebível quanto o Paulo Baier acertar um pênalti. De pouco importa as grandes temporadas que Tim Thomas, do Boston, Martin Biron, do Philadelphia, ou Martin Gerber, do Ottawa, estejam tendo: Lundqvist está dando um novo significado para a expressão "carregar um time nas costas".

Os números só comprovam o que se pode perceber ao assistir a uma partida dos Rangers. O "Rei Henrik" lidera a liga em vitórias, com 14, é o segundo em shutouts, com quatro, e o terceiro em média de gols sofridos, com 1,91, e porcentagem de defesas, com 92,8%. Em suas 25 partidas, só sofreu mais de três gols por duas vezes, uma delas na segunda-feira, em derrota por 4-0 frente aos Hurricanes. A impressão é que a maldição das nossas capas atacou mais cedo e, pesadelo dos pesadelos para qualquer jogador da NHL, veio antes mesmo de decidirmos quem estaria em nossa capa.

Há, porém, uma grande incógnita nessa situação. Que o goleiro é capaz de jogar em alto nível durante toda uma temporada não é nenhum mistério, porque isso ele já provou em 2006-07. O problema é que a carga de jogos que ele está enfrentando é insana, e não se sabe o que isso pode gerar lá na frente. Se o ataque não voltar à forma que se espera dele, uma eventual contusão de Lundqvist, dependendo da gravidade, pode afundar o time de maneira irreversível.

Por outro lado, se o ataque deixar de jogar como o América de Natal, as perspectivas em Nova York ganham contornos extremamente otimistas. Se é difícil imaginar uma solução para os problemas ofensivos — já que uma das propostas seria chutar mais, e o time já é um dos que mais chuta a gol na liga —, também é impossível que, de uma hora para outra, todas as estrelas do ataque do time tenham se transformado no Luiz Henrique. De muletas.


Não é corriqueiro um time que está entre os cinco melhores da liga punir seus jogadores com um treino puxado como o de terça-feira. O que não ficou claro foi se a punição foi pela derrota para os Canes ou pelo conjunto da obra, embora o técnico Tom Renney tenha dito que sua intenção não era punir, mas "condicionar" seus comandados: "Nós não punimos nosso time; nós damos duro."

Não é o que parece lá na frente. A quem assiste aos jogos dos Rangers, por muitas vezes parece que o único que dá duro é o goleiro.
Alexandre Giesbrecht, publicitário, acaba de receber a maravilhosa edição especial de The Hockey News, "60 Momentos que Mudaram o Hóquei".
Jim McIsaac/Getty Images
Lundqvist não está corcunda por carregar o time nas costas. Acho.
25/11/2007
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Página publicada em 5 de dezembro de 2007.