Habilidoso, veloz, surpreendente. Jogador capaz de ancorar uma defesa
e ajudar efetivamente o ataque, potuando prolificamente da linha azul.
Grande carreira nas ligas menores. Paul Coffey? Phil Housley? Bobby
Orr? Brian Leetch? Não, este jogador era ainda melhor. Em 1988-89, ele
fez 155 pontos (37 gols e 108 assistências), pelo Niagara Falls Thunder,
da OHL. Tinha um passe perfeito, enxergava o gelo como ninguém, chutava
muito forte. Um de seus ex-companheiros, Mats Sundin, chegou a dizer
o seguinte: "Bryan Fogarty podia patinar mais rápido, chutar mais forte
e passar mais precisamente estando bêbado do que o resto de nós podia
fazer sóbrio".
Fogarty foi considerado um fenômeno quando surgiu. Na temporada citada,
ele bateu o recorde das ligas menores de pontos de Bobby Orr por um
defensor. Mas, ao contrário de seu ídolo, ele jamais conseguiu ter uma
carreira regular e constante. Ele não marcou o gol da vitória de sua
equipe como Orr fez. Ao contrário, foi ele quem perdeu a batalha para
se estabelecer como um grande jogador. Em 2002, ele foi encontrado morto
em um quarto de hotel no qual tirava férias com sua esposa. O motivo
da morte? Seu coração havia crescido muito de tamanho e não agüentou.
Fogarty era um alcoólatra. Ele mesmo havia previsto isso: "Lembro-me
de olhar para aquilo e dizer, 'O que é que isso vai fazer comigo?'".
Ele disse isso antes do primeiro porre, num baile escolar, com 14 anos.
Foi o começo do fim.
Seu ex-companheiro de Quebec Nordiques (equipe que o recrutou na NHL),
Ron Tugnutt, falou o seguinte dele: "Fogie e eu vivíamos no mesmo complexo
de apartamentos que (Joe) Sakic. Uma noite nós chegamos tarde e tivemos
que colocá-lo na cama. Nós estávamos preocupados sobre como ele treinaria
na manhã seguinte. Na manhã seguinte, nós batemos na porta. Ele já estava
no rinque, assobiando e tomando café. Então ele está patinando em círculos
ao redor das pessoas. Eu pensei 'Se eu tivesse bebido como ele bebeu
na noite passada, eu não teria nem como me arrastar da cama de manhã'.
Mas não o estava afetando. Foi quando nós realmente começamos a nos
preocupar."
Sei que, após meu últimos textos, muitos deviam estar esperando algo
no mesmo nível de ironia ou imaginação, mas quando vi a carreira de
Eric Lindros e o quanto ele a desperdiçou -- em grande parte por más
decisões e com a saúde que ele tinha --, comecei a pensar em jogadores
que fizeram o mesmo. E Fogarty cai nessa categoria. Um jogador brilhante,
explosivo, tido como a próxima promessa, mas que não conseguiu chegar
nem próximo disso. Mais do que os Alexanders Daigles, Pats Falloons,
Brians Lawtons ou Aleks Stojanovs da vida, ele não teve apenas uma carreira
desgraçada, mas uma vida assim. O que mais impressiona em tudo isso,
é que ele não era uma pessoa amarga, muito pelo contrário. Seus companheiros
de equipe sempre disseram que ele era o mais doce, o mais divertido,
aquele que adorava rir.
Ia fazer um "E se..." sobre Fogarty. Mas achei o assunto sério demais
e resolvi apenas apresentar as pessoas esta pessoa extremamente insegura,
crítica de si mesmo e imatura, mas com um sorriso enorme e um coração
ainda maior, mas que não amava apenas uma única pessoa: ele mesmo.
Companheiros de equipe, especialmente Scott Pearson, e seu advogado,
Max Offenberger, sempre disseram o quanto ele tinha medo de falhar e
mesmo o quanto ele dizia não ter merecido ser escolhido com a nona escolha
geral no recrutamento. Mesmo quando ele bateu o recorde de gols por
um defensor na OHL de Bobby Orr (47 contra 39), ainda assim ele não
se achava no nível dos "grandes" (big men). O que certamente
piorou sua decepção.
Sua primeira temporada em Quebec (1989-90) não foi das melhores. Apenas
14 pontos e -47 em mais/menos em apenas 45 jogos. Por ainda não estar
acostumado ao ritmo da NHL, constantemente ele era pego fora de posição.
Além disso, a equipe canadense não era das melhores, contando com muitos
jogadores jovens, incluindo Sakic e um já veterano Paul Statsny. As
críticas, claro, caíram sobre ele. Como podia o próximo Bobby Orr jogar
tão mal?
Na temporada seguinte, os Nordiques começavam a se estruturar. Sakic
um ano mais velho e a primeira temporada de Mats Sundin e Owen Nolan
na equipe. Outra temporada decepcionante. Ofensivamente, o garoto foi
relativamente bem, com 31 pontos em 45 jogos. Mas sua instabilidade
fez com fosse sacado de vários jogos e mandado algumas vezes para as
equipes menores. Enquanto isso, em Pittsburgh, Paul Coffey, no auge,
marcava 93 pontos; em Winnipeg, Phil Housley liderava os Jets com 76
pontos; e em Nova York, Brian Leetch também liderava os Rangers com
88 pontos. Leetch havia ganho o Troféu Calder Memorial como melhor calouro
da liga dois anos antes. Como não pressionar o garoto?
O fato é que Fogarty jamais se estabeleceu em Quebec. Mesmo jogadores
de idade semelhante vinham jogando melhor. Mas quem conhece um pouco
dos meandros da mente, sabe o quanto a auto-crítica pode evoluir para
a auto-sabotagem. Uma pessoa que se critica demais, começa a querer
fugir, buscar outras soluções para sua vida. No caso de Fogarty, o álcool.
Trocado para os Pens por Scott Young, lá ele também não conseguiu se
estabelecer. Para quem tem curiosidade, ele existe no NHL 93, nos Pens.
Como sempre, ficou pulando da equipe principal para a equipe menor e
isso, sempre mexeu com ele, como atesta sua esposa, Virginia Fogarty:
"Ele não gostava de ser distinguido. Mas ele sempre foi. Ele ficava
muito embaraçado ao cometer um erro, com medo de ser diminuído. Ir da
NHL para as ligas menores — isso fez com que ele se sentisse diminuído".
E essa foi uma constante em sua carreira. Mas fica para a próxima edição.
Viewimages Bryan Fogarty em ação. |