Por: Humberto Fernandes

Uma breve análise das trocas que movimentaram a NHL nos últimos dias.

Em tempo: o título deste texto é a resposta para a pergunta da capa.


Calgary Flames: Dion Phaneuf, Fredrik Sjostrom e Keith Aulie
Toronto Maple Leafs: Matt Stajan, Niklas Hagman, Ian White e Jamal Mayers

Para ficar bem claro: você não troca um jogador como Phaneuf por nada no mundo, em hipótese alguma, não importa se a fase dele é boa ou ruim, se o momento do time é positivo ou negativo, se o elenco só tem ele e mais dez porcarias.

Phaneuf é jogador de franquia, é aquele que passa a carreira inteira no time, desde o recrutamento até a aposentadoria. É a pedra fundamental, a base para a construção da equipe. Um defensor grande e forte, que joga duro, chuta absurdamente bem, competente defensivamente, naquilo que é primário para a sua posição, e também no ataque — desde o locaute, nenhum defensor marcou tantos gols quanto ele (75).

Em vez de negociar um jogador como Phaneuf, você constrói o time ao redor dele. E se isso não der certo, você demite o técnico, troca o gerente e manda o time todo embora quantas vezes for necessário, até que funcione.

Phaneuf é intocável. Ou deveria ser, pelo menos. Mas o Calgary achou que não.

Diante disso, o melhor seria trocá-lo por outra estrela (Ilya Kovalchuk, por exemplo), nunca por um pacotão-do-mal, que nada mais é do que diluir o talento. O que mais desapontou na negociação foi o fato de que o Calgary não conseguiu nenhum grande jogador em troca. Hagman e Stajan são atacantes razoáveis e White é um bom defensor — Mayers é um bonde e não entra na equação —, mas eles não serão tão decisivos quanto um craque. O conceito de sinergia ("o todo supera a soma das partes") não se aplica aqui.

O Calgary era um time desequilibrado, com excesso de defensores e escassez de atacantes. O gerente geral Darryl Sutter, em uma medida desesperada, trocou o que ele tinha de mais pelo que tinha de menos, justamente pensando no time como um todo. Agora ele tem mais profundidade ofensiva e menos qualidade defensiva, porém perdeu o melhor defensor do time, um jogador de 24 anos para quem o céu era o limite.

Menos mal que ele tenha envolvido White na negociação, trazendo um defensor para, pelo menos, recompor o sexteto.

Hagman é o único dos recém-chegados com contrato para mais duas temporadas. Os demais estão no último ano de seus vínculos. Stajan e Mayers serão agentes-livres irrestritos, enquanto White será agente-livre restrito. Assinando com três deles, os Flames já gastarão mais do que gastariam com Phaneuf.

O Toronto, por sua vez, terá um defensor de primeira grandeza no elenco. Alguém para dar cara ao time, alguém com a cara de Brian Burke, o gerente geral.

Burke é a NHL que faz troca, é ele quem quebra a monotonia na liga. Negociar jogadores deve ser sua diversão e moldar o time ao seu estilo a sua missão. Phaneuf tem todas as qualidades que Burke admira e exalta, a começar pela sua presença física. Um negócio como esses ele nunca deixaria passar, porque não é todo dia que um ex-finalista do Troféu Norris tão novo está disponível.

Não há dúvida de que os Maple Leafs fizeram um ótimo negócio. Não importa quem vai marcar os gols que o time precisa para vencer alguns jogos até o fim da temporada, o time não vai se classificar de qualquer jeito. Até abril eles vão jogar apenas para piorar a escolha no recrutamento, que pertence ao Boston Bruins. Se desse esforço nascer um time, ótimo, já será a base para 2010-11. Com Phaneuf, as chances disso acontecer serão maiores.

Os Leafs também receberam na negociação o atacante Sjostrom, praticamente inofensivo, e o prospecto Keith Aulie, de 20 anos, de quem ouve-se falar muito bem. Aulie pode ser titular da defesa, no futuro, e aí esta troca penderá ainda mais para o lado do Toronto.


Anaheim Ducks: Jean-Sebastien Giguere
Toronto Maple Leafs: Jason Blake e Vesa Toskala


Com dois goleiros de primeiro nível no time, o Anaheim precisava escolher qual seria o seu número um. Isso ficou claro quando Jonas Hiller renovou seu contrato por mais quatro temporadas. Era Giguere quem estava sobrando e, no dia seguinte, ele foi negociado com o Toronto.

Os Ducks não receberam nada em troca, porque Blake e Toskala são ex-jogadores em atividade. Toskala, aliás, nem o rótulo de "ex" merece porque, na verdade, ele nunca foi um jogador, exceto por um breve período com o San Jose Sharks em um passado distante. Blake, a quem devemos respeitar por ter superado um câncer, é um atacante de números modestos, que nunca foi capaz de repetir o desempenho de 2006-07, quando marcou 40 gols.

O que, de fato, o Anaheim consegue com a negociação é abrir US$ 2 milhões no teto salarial da próxima temporada, trocando os US$ 6 milhões de impacto de Giguere pelos US$ 4 milhões de Blake, além de resolver o imbróglio que se desenhava ao ter dois goleiros e só poder escalar um por jogo. Toskala será agente-livre irrestrito e não terá seu contrato renovado para o ano que vem, logo os Ducks precisarão contratar um goleiro reserva, mas ainda assim a conta será favorável a eles.

No gelo, o time não fica melhor com Blake. Ele não é um atacante que vai dar ao Anaheim mais poder de fogo. E é melhor rezar para a saúde de Hiller, porque se Toskala, dono do pior percentual de defesas da liga entre os goleiros com mais de 18 jogos, assumir o time, adeus, playoffs.

Se o Anaheim não recebeu nada em troca, o Toronto pagou menos ainda.

Não dá pra acreditar que Burke conseguiu se livrar de Blake e Toskala e, ainda por cima, trazer Giguere.

Mesmo que seja o Giguere das últimas duas temporadas, de 90% de defesas, e não aquele do Troféu Conn Smythe de 2003 e da Copa Stanley de 2007, já será um aprimoramento tremendo na posição de goleiro do time. De 2005-06 a 2008-09, nessa ordem, o percentual de defesas dos goleiros dos Maple Leafs foi de 89,7%, 89,1%, 89,6% e 88,7%. Na atual, está em 88,8%. Giguere, com as mãos amarradas, faz melhor do que isso.

Os dez gols e 26 pontos de Blake não farão falta para um time que está longe da briga pelos playoffs. Sua saída vai abrir espaço para a promoção de algum jovem talento do time, ainda que não sejam tantos assim.

No curto prazo, o Toronto aliviou o teto salarial em US$ 2 milhões, abrindo espaço para mais negociações até o dia-limite. Burke pode receber escolhas do recrutamento como recompensa por abrigar os despejados de outros times na reta final. Espaço para isso ele terá.


Calgary Flames: Olli Jokinen e Brandon Prust
New York Rangers: Ales Kotalik e Christopher Higgins

É difícil dizer o que predomina nesta troca, se é a vontade do Calgary de se livrar de Jokinen ou o desejo dos Rangers de adquiri-lo, ou ainda a oportunidade para o time de Nova York se livrar de Kotalik e Higgins.

Em resumo, são dois times se livrando de "problemas", na esperança de que os restos do outro sejam mais úteis.

Quem termina com o melhor jogador na negociação é os Rangers, mas isso não significa muito, porque Jokinen tem sido um fiasco desde que deixou o Florida Panthers, com seu estilo desligado.

Grande nome do mercado no dia-limite de trocas da temporada passada, Jokinen foi a aposta dos Flames à época. Setenta e cinco jogos depois, o finlandês já está a caminho de sua terceira equipe em duas temporadas. Isso para quem diz que: "Definitivamente, é um tapa na cara ser trocado." Haja tapa!

Os Rangers apostam que ele pode reencontrar o seu melhor jogo ao lado de Marian Gaborik e Vinny Prospal. Se rolar a química, o time terá uma boa primeira linha de ataque. Motivação não lhe falta, afinal, ele joga por seu próximo contrato — será agente-livre irrestrito ao fim da temporada.

Prust, o intimidador que o acompanha pela segunda troca consecutiva, é só isso, um brucutu.

De qualquer forma, independentemente do sucesso ou do fracasso de Jokinen em Nova York, os Rangers já se deram bem na negociação, simplesmente se livrando dos outros dois anos de contrato de Kotalik.

O que os Flames viram nele e em Higgins é um mistério. Juntos, eles somam -27 no saldo de +/- na temporada.

Tanto Kotalik quanto Higgins se promoveram graças a uma temporada destoante, acima da média, em suas carreiras. Para Kotalik, foram os 62 pontos em 2005-06 com o Buffalo Sabres. Para Higgins, foram os 27 gols em 2007-08 pelo Montreal Canadiens. E nada mais.

Kotalik entrou na descendente ainda no Buffalo, teve uma passagem ridícula pelo Edmonton Oilers e fracassou nos Rangers, onde era barrado com frequência. Higgins virou moeda de troca para adquirir Scott Gomez.

Azar do Calgary, que vai pagar US$ 3 milhões por ano para Kotalik até 2012. Teria sido muito melhor esperar pelo frenesi do mercado no dia-limite de trocas para despachar Jokinen.

Da forma como foi feito, os Flames não receberam nada em troca e ainda vão pagar por isso. Foi um roubo.

Humberto Fernandes recomenda o baile de formatura da UFV.

AP
Dion Phaneuf, o grande. De Calgary para Toronto, causando inveja nos outros 28 times da liga que adorariam contratá-lo.
(02/02/2010)

AP
Não adianta se arrepender agora, Darryl Sutter. A merda já está feita.
(31/01/2010)

Abelimages/Getty Images
Em sua estreia pelo Toronto Maple Leafs, Jean-Sebastien Giguere defendeu 30 chutes e conquistou um shutout.
(02/02/2010)

Harry How/Getty Images
Olli Jokinen balança em seu primeiro jogo com o New York Rangers: derrota e saldo de -2.
(02/02/2010)

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Página publicada em 4 de fevereiro de 2010.