Por: Thiago Leal

A troca de Vesa Toskala por Jean-Sebastian Giguere é mais um capítulo de uma história bem complicada que se desenrola por anos a fio: a relação entre o Toronto Maple Leafs e os goleiros.

Ao todo, desde a saída de Félix Potvin, em 1998, já passaram pelo gol dos Leafs nada mais, nada menos que 16 goleiros. Isso mesmo. Dezesseis. E nessa conta não estou incluindo Glenn Healy, pois ele já estava no time após a saída de Potvin. Desse tempo para cá, nenhum goleiro conseguiu se sustentar mais que quatro temporadas consecutivas com a franquia azul. Curtis Joseph, o substituto imediato de Potvin, jogou cinco temporadas com os Leafs entre 1998 e 2009, mas não foram de forma consecutiva. O goleiro retornou em 2009 após ter vestido a camisa dos Leafs entre 98 e 2002. O recorde é de Sébastien Centomo que jogou uma partida pelos Leafs. Alguém lembra de Centomo?

É interessante perceber o quanto os Leafs já investiram em goleiros badalados sem que estivessem necessariamente na melhor forma de sua carreira. Esse fato, que se repete agora, com a aquisição de Jean-Sebastien Giguere, é tradição na casa: desde os tempos mais remotos, goleiros que tinham cara de outras franquias apareciam em Toronto, fosse ele Jacques Plante e sua eterna máscara de Canadien; Grant Fuhr, longe de seus melhores anos no Edmonton Oilers; ou um Ed Belfour bem abaixo do que rendia no Chicago Blackhawks. Gerber nunca foi grande estrela, mas sua chegada em Toronto confirmou a suspeita de que a franquia adora um goleiro que pode render bem menos que aparenta. CuJo, em particular, teve um belo rendimento nos Leafs, embora tenha chegado com a cara do St. Louis Blues. No final das contas, CuJo foi o único a não ficar na sombra de Potvin, o último grande goleiro que, pode se dizer, realmente tinha a cara desse time. Até acho estranho que Dominik Hasek não tenha passado pelos Leafs. Vai ver é porque, mesmo velho, Hasek ainda pega muito. Bom, ainda dá tempo...

Não é preciso ser muito esperto para se entender que, na NHL, todo grande time começa com um grande goleiro — principalmente em uma campanha vencedora. Patrick Roy foi três vezes eleito para o Troféu Conn Smythe. O jogador mais valioso do Detroit em 1998 foi Mike Vernon. Em 2006, Cam Ward foi o premiado nas finais pelo Carolina Hurricanes (eu ainda acho que Cory Stilman foi o melhor, mas deixa pra lá), enquanto a contusão de Dwayne Roloson foi um dos motivos para a derrota do Edmonton Oilers. O próprio Giguere foi o herói dos Ducks em 2003, mesmo sem Copa Stanley. E a campanha surpreendente de 2006 foi impulsionada por Ilya Bryzgalov, hoje no Phoenix Coytes. Quantos apostam que Chris Osgood teria sido o MVP caso os Wings tivessem conquistado a Copa ano passado?

Mesmo quando o jogador mais valioso não é o goleiro, a posição é decisiva em qualquer grande campanha. O Pittsburgh Penguins deve sua Copa a uma bela defesa de Marc-Andre Fleury no último lance do jogo. Roberto Luongo é considerado o principal jogador do Vancouver Canucks hoje em dia. Steve Mason ofuscou Rick Nash em Columbus.

E olha que nem falei em nome de santo (Martin Brodeur).

Desde Potvin os Leafs procuram um goleiro que responda por essa história. CuJo e Belfour tiveram seus momentos — especialmente o primeiro, claro. Mas até agora nada, e nas temporadas mais recentes, junto com a defesa inteira, o gol tornou-se uma grande dor de cabeça.

Não entendo o problema dos Leafs para fixar goleiro, a posição mais delicada e muitas vezes a mais decisiva do esporte. O único time que vejo se comparar a eles, nesse sentido, é o New York Islanders, e mesmo assim os motivos são diferentes: a franquia nova-iorquina paga o preço por ter apostado tanto num goleiro que está sempre machucado, que é Rick DiPietro. Os Isles vão apenas remendendo o buraco que DiPietro deixa. Sempre que se abre, novamente fica exposto, alguma solução de emergência é contratar um goleiro apenas para prestar alguns serviços. Nos Leafs parece que essa ordem impera desde a saída de Belfour. E mesmo antes de sua chegada, o cargo já não era muito constante, com vários reservas se revezando.

Giguere é a alternativa definitiva para acabar com esse problema. Junto com Jiggy chega Dion Phaneuf para manter a defesa segura ao lado de Luke Schenn. Assim como fez no Anaheim Ducks, Brian Burke quer começar a arrumar o time pela defesa. É um bom caminho. Giguere estreou com um shutout de 3-0 nos Devils. Jiggy também busca por recuperação em sua carreira e vida pessoal. Talvez o casamento com Leafs/reconciliação com Burke dê certo. Mas com o histórico de goleiros recentes no Toronto Maple Leafs, é preciso ver para crer.

Só por curiosidade, abaixo uma lista dos 16 goleiros que assumiram a posição desde a saída de Potvin.

Jean-Sébastien Aubin
Tom Barrasso
Ed Belfour
Sébastien Centomo
Scott Clemmensen
Martin Gerber
Jonas Gustavsson
Curtis Joseph
Trevor Kidd
Joey MacDonald
Justin Pogge
Andrew Raycroft
Corey Schwab
Mikael Tellqvist
Vesa Toskala
E, agora, Giguere

Thiago Leal torce para que Jean-Sebastien Giguere funcione nos Leafs.
Arquivo TheSlot.com.br
Félix Potvin, o último goleiro com a cara do Toronto Maple Leafs.

CBS Sportsline
Curtis Joseph, o último a ter algum brilho.

CBS Sportsline
Ed Belfour chegou a ter bons momentos.
The Canadian Press
Agora é com Jean-Sebastien Giguere.
(02/02/2010)
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Página publicada em 4 de fevereiro de 2010.