Por: Igor Veiga

Quando chegou a Calgary para assumir o comando dos Flames nesta temporada, o técnico Brent Sutter não esperava que as coisas ficassem tão complicadas como agora estão. Para um time que começou a temporada muito bem — foram 19 vitórias e apenas oito derrotas no tempo regulamentar nos primeiros 30 jogos —, explicar aos torcedores o motivo da atual queda de rendimento deve ser mais do que complicado. Os Flames chegaram a perder nove jogos seguidos — há 24 anos isso não acontecia com a franquia —, venceram apenas duas das últimas 14 partidas (três delas por shutout) e já correm o risco de ficar de fora dos playoffs. Um time com a cara daquele que foi humilhado por 9-1 pelos Sharks, em San Jose, em meados do mês passado. Após essa derrota, o clima ficou tão pesado que o jornal local The Calgary Sun, chegou a publicar uma manchete com os dizeres "Quem precisa sair?", onde as fotos de Jarome Iginla, Dion Phaneuf, Miikka Kiprusoff, Robin Regehr e Daymond Langkow estavam estampadas.

Devido a esse péssimo desempenho e visando uma mudança, até um certo ponto, radical, esta semana a diretoria do Calgary Flames marcou presença no noticiário da liga, ao trocar, em menos de 24 horas, dois dos seus principais jogadores. New York Rangers e Toronto Maple Leafs foram os outros dois protagonistas. Todos ficaram impressionados com o que viram, não só os que acompanham a liga, como também alguns dos jogadores das três equipes envolvidas. 

A primeira grande troca aconteceu no último dia de janeiro, envolvendo os Maple Leafs. Os Flames trouxeram os atacantes Niklas Hagman, Matt Stajan e Jamal Mayers, e o defensor Ian White. Em troca, mandaram para Toronto os defensores Dion Phaneuf e Keith Aulie, e o atacante Fredrik Sjostrom. 

As se desfazerem de Phaneuf, os Flames se livraram do peso que o jogador significava para a sua folha salarial (US$ 6,5 milhões), mas pagaram o preço de perder um defensor ainda jovem, de muita habilidade, de excelente jogo físico e ótimo chutador. Sem dúvida, uma troca pra lá de estranha, até porque poucos jogadores têm o talento e o futuro promissor do canadense. Dos quatro que chegaram a Calgary, nenhum tem a estatura e qualidade de Phaneuf, mas, para uma equipe que tem uma das piores médias de gols por partida de toda a liga, a chegada de Hagman, Stajan e White são uma boa alternativa para tentar mudar esse panorama. Uma outra estratégia por trás dessa troca pode ser explicada pelo fato de que, ao fim da temporada, Stajan e Mayers serão agentes livres irrestritos, enquanto White será um agente livre restrito. Isso significa que, caso as novas caras do time não correspondam à altura, pelo menos os Flames não terão muitas dificuldades de renovar o elenco durante as férias.

Nessa troca com os Leafs, os destaques ficam por conta dos atacantes Matt Stajan e Niklas Hagman. O primeiro é um central de boa qualidade, ótimo passador e pode ser muito bem aproveitado nas duas primeiras linhas do time de Calgary. Seu estilo de jogo lhe dá boas condições de jogar ao lado de Iginla. Ele vem com bons números nesta temporada (16 G, 25 A) e tem um salário que não compromete as despesas. Já o segundo é um ala muito rápido e de boa pontaria que poderá levar mais velocidade aos contra-ataques de sua nova equipe, mas terá o peso de justificar o alto salário (US$ 3 milhões, o maior entre os quatro). Jamal Mayers, o mais experiente dos quatro, é um daqueles jogadores raçudos, capazes de dar mais pegada às linhas três e quatro. Seu pedido em deixar os Leafs foi atendido, e espera-se que ele dê de tudo na nova equipe, já conhecida pelo forte jogo físico. Para o defensor Ian White, a troca significa uma nova chance de mostrar serviço na liga. Se continuar jogando o que vinha jogando este ano em Toronto, tem muitas chances de dar a volta por cima.

A outra grande troca ocorreu no primeiro dia de fevereiro, envolvendo os atacantes Olli Jokinen e Brandon Prust, que foram para os Rangers. Do time de Nova York, vieram os atacantes Ales Kotalik e Christopher Higgins.

Jokinen, central finlandês, foi sem dúvida a grande contratação da NHL na última temporada. Vindo dos Coyotes como a grande esperança de levar os Flames ao título, formou uma boa linha ao lado de Jarome Iginla e Michael Cammalleri, mas acabou caindo junto com a equipe logo na primeira rodada dos playoffs, frente aos Blackhawks. Em 2008-09, ele fez 25 partidas pelos Flames, onde marcou apenas 10 gols (20 pontos). Ficou devendo. Esta temporada, vinha com números razoáveis (35 pontos em 56 partidas), mas muito longe de ser aquele jogador que foi no Florida entre 2005 e 2008. Seu alto salário (US$ 5,5 milhões), seu desempenho aquém do esperado e sua incompatibilidade em jogar ao lado de Iginla acabaram pesando na decisão de trocá-lo.

Dos que chegam dos Rangers, o ponta tcheco Ales Kotalik é o principal nome. Ele tem um bom chute e pode cair com uma luva para ajudar a equipe de vantagem numérica dos Flames, que ficou enfraquecida com a saída de Phaneuf. Seu salário não é o dos mais baratos (US$ 3 milhões), por isso, não estranhe caso a diretoria dos Flames pegue em seu pé ao fim da temporada caso ele não produza o suficiente. Já Christopher Higgins é aquele típico jogador da AHL que conseguiu se firmar na NHL. Sua única temporada decente foi pelo Montreal, em 2007-08, quando marcou 52 pontos em 82 jogos, e mais nada além disso. Quem sabe os novos ares de Calgary não lhe ajudem? Difícil, mas não impossível.

Errado ou não, o mais importante em todo esse rebuliço foi ver que a gerência dos Flames não ficou de braços cruzados perante à queda de produção do elenco. E, para o técnico Brent Sutter, gostem ou não, alguma coisa tinha que mudar. "Nós fizemos uma tentativa. Tínhamos um monte de caras aqui que não estavam jogando bem. O que você faria nessa situação?"

Mas, com o elenco em decadência ou não, o que não deve ser encoberto é que Sutter parecia estar encontrando dificuldades em aproveitar todo o talento que tinha em mãos. É claro que não se deve culpar o treinador por todos os fracassos do time, até porque quem decide mesmo são aqueles que estão dentro do gelo, mas quando as constantes reclamações do técnico sobre o fraco desempenho do time não surtem efeito algum, fica a impressão de que alguma coisa está errada. Com o elenco agora reformulado e com a saída de importantes peças, o grande desafio de Sutter não é a apenas provar que é capaz de comandar uma grande equipe da NHL rumo aos playoffs, mas sim comandar uma grande equipe da NHL durante os playoffs. E a responsabilidade aumenta quando essa grande equipe não vence uma série de playoffs desde 2004.

Igor Veiga está esperando pelo grande clássico de sábado, entre Everton e Loserfool. "Go, Toffees!"
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Dion Phaneuf já faz parte do passado dos Flames. Parabéns aos Maple Leafs!

Tony Gutierrez/AP
O finlandês Olli Jokinen chegou ao Calgary durante a última temporada rodeado de expectativas, mas deixa o time sem deixar muitas saudades.
(27/01/2010)

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Niklas Hagman, uma das esperanças do novo ataque dos Flames, fez sua estreia na última segunda-feira, diante dos Flyers.
(01/02/2010)

Jeff McIntosh/AP
Jamal Mayers já chegou ao novo clube cheio de disposição. Aqui, ele tenta esmagar Arron Asham, dos Flyers, nas bordas do Pengrowth Saddledome.
(01/02/2010)

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Página publicada em 3 de fevereiro de 2010.