Por: Alessander Laurentino

No meio dos anos 1990, a NHL estava em plena expansão nos Estados Unidos, o que fez surgir times de hóquei no gelo em várias regiões inusitadas da América, como Flórida, Nashville e Arizona. A franquia sediada na região de Phoenix, na verdade, teve como origem a realocação de uma franquia canadense, o Winnipeg Jets. Pois bem, desde que a franquia chegou a Phoenix, já teve diversos proprietários, mas ninguém conseguiu fazer dela um negócio bem sucedido e lucrativo. Por quê?

Existem várias justificativas alardeadas para isso, como o fato de um time de hóquei no gelo em pleno "deserto" não ser exatamente uma forma inteligente de gerar interesse suficiente para dar lucro. Outras desculpas repetidas à exaustão seria o fato de não ser um esporte típico na região, e poderíamos ficar semanas aqui na brincadeira de arranjar desculpas e respostas para a falta de sucesso da franquia do Arizona.

Entretanto, franquias em mercados também considerados atípicos deram certo, como os exemplos das franquias da Califórnia, o Carolina Hurricanes e até mesmo o Tampa Bay, que ganhou uma Copa Stanley, enquanto os Coyotes já comemoram quando raramente conseguem chegar aos playoffs. Em seus quase 15 anos de existência, a franquia já perdeu mais de 300 milhões de dólares e a sangria não parou por aí.

Cansado de perder dinheiro e não ver uma ajuda real por parte da gerência da liga, o antigo proprietário resolveu vender seu time para quem pagasse mais, e foi aí que a confusão começou. Sem o aval da NHL, Jerry Moyes não conseguiu vender sua franquia para Jim Balsillie, o presidente da companhia proprietária da Blackberry. A razão é muito simples: briga de egos. Gary Bettman, comissário da NHL, não gosta de Balsillie, e não suporta a sua ideia de comprar uma franquia e mudá-la para Hamilton, Ontário. Sem muitas opções e vendo sua fortuna ir pelo ralo, Moyes apelou. Ele resolveu declarar falência perante a justiça americana, pensando que assim conseguiria vender o time para Balsillie e receber uma boa grana.

Mas a gerência da liga não aprovou e topou a briga na justiça. Depois de muitos meses de confusão jurídica, a liga conseguiu a vitória na justiça, algo que lhe dava o poder de decidir quem poderia comprar uma franquia. Com Balsillie fora da jogada, a própria liga comprou a franquia, pensando que conseguiria saneá-la financeiramente e revendê-la em seguida. E foi aí que o buraco ficou mais profundo.

O problema da franquia de Phoenix é muito mais sério do que uma simples questão de falta de interesse local. Na verdade, em raríssimas ocasiões o time foi realmente competitivo, deixando o torcedor local permanecer desinteressado em relação ao esporte. Com exceção do período inicial em Phoenix, a franquia praticamente não tem comparecido nos playoffs e não sabe o que é vencer uma série de playoffs há muitos anos. Sem um produto capaz de gerar interesse, e com uma péssima arena com sérios defeitos estruturais para abrigar jogos de hóquei, a franquia partiu para uma parceria com a cidade de Glendale, surgindo daí a Jobing.com Arena. O que parecia ser o começo da solução, na verdade, apenas agravou o problema.

O acordo de aluguel da arena é absurdamente desvantajoso para a franquia, uma vez que sua lotação é constantemente baixa e as taxas a serem recolhidas ao município são proporcionalmente exorbitantes. A solução? Vender a franquia. Foi o que Moyes tentou fazer, porém da maneira errada. Agora é a NHL que não consegue achar um comprador para a franquia, porque a liga impõe como condição que o futuro proprietário se comprometa a manter a franquia no Arizona.

A pedido da liga, três possíveis compradores já mostraram interesse, mas em todos os casos o negócio não foi adiante por causa de problemas com a cidade de Glendale, que tem se mostrado bastante relutante em abrir mão de alguns dólares para incentivar a manutenção da franquia na região. Baseando-se no histórico da franquia, qualquer comprador em potencial tem exigido uma certa garantia contra perdas financeiras, chegando um dos compradores a exigir que a cidade cobrisse qualquer prejuízo que a franquia pudesse dar nos primeiros anos, independentemente do valor. Outros já exigiram que a cidade e/ou a liga deveria cobrir prejuízos de até 30 milhões de dólares nas primeiras temporadas — que é o valor estipulado de prejuízo anual dos Coyotes.

A NHL se negou veementemente a cobrir qualquer prejuízo, assim como a cidade também o fez, o que resultou nas retiradas das duas principais propostas de compra já apresentadas até agora. Vendo-se frente a uma situação potencialmente desastrosa que seria ter uma arena cara e sem uso, a cidade resolveu chamar de volta à mesa de negociações um dos possíveis compradores. Mas as boas notícias não duraram muito e além do fato dos compradores não terem conseguido comprovar que têm os recursos necessários para a compra, a cidade insiste em não abrir mão de muita coisa para ajudar a manutenção do time.

O que é difícil de entender é: seria melhor ter um time gerando menos impostos devido aos incentivos concedidos, ou simplesmente não ter geração alguma de impostos e arcar com todos os custos de manutenção de uma arena subutilizada depois da saída da franquia de Phoenix?

Em meio a todo esse caos, o time foi uma das grandes surpresas da última temporada, voltando aos playoffs e dando trabalho, sendo eliminado apenas no jogo 7 da primeira fase. O sucesso do time parecia que daria um novo fôlego para a franquia e suas finanças, mas as incertezas sobre o futuro falaram mais alto e os Coyotes não conseguiram fidelizar a sua clientela, mantendo suas perdas milionárias e dificultando um possível interesse real por parte de um novo comprador.

O fato de qualquer interessado exigir que a cidade cubra possíveis perdas — dadas como certas — dificulta a aprovação de qualquer nova proposta, afinal de contas seria dinheiro dos contribuintes. O que torna a situação um pouco mais dificil de digerir é o fato de uma das maiores cidades americanas ser incapaz de manter uma franquia da NHL de forma lucrativa. Apenas a cidade de Phoenix tem quase 1,6 milhão de habitantes, sem contar a região metropolitana. O que dá mais de duas vezes a população de Columbus, mais de três vezes a população de Denver, Nashville e Atlanta, e mais de quatro vezes a de St. Louis.

Infelizmente para os torcedores dos Coyotes em Phoenix, até mesmo a paciência da NHL tem limite e o próprio Gary Bettman declarou recentemente que existe um prazo para resolver a situação. A liga tem trabalhado arduamente para manter a franquia no Arizona e evitar que seu comissário tenha que passar a vergonha de admitir que a situação já era sem solução. Realocar o time seria uma derrota pessoal para Bettman, mas também seria uma derrota para o Arizona, para Phoenix e principalmente um grande prejuízo para a cidade de Glendale.

Pelo que temos visto até o momento, sem uma boa contribuição por parte da cidade de Glendale e do seu conselho municipal, manter o time no Arizona seria praticamente inviável, do ponto de vista financeiro, e como comprar um time é um negócio, não existe muita gente disposta a comprar um time sabendo que vai perder 30 milhoes por ano apenas para fazer um favor e agradar a alguém.

Uma vez que a própria gerência da liga parece ter se cansado da situação e praticamente dado um ultimato, parece que o relógio não para e a situação da franquia no Arizona se torna cada vez mais difícil de se sustentar.

E então, Glendale, vai ou fica? O relógio está andando. Tic-tac, tic-tac....

Alessander Laurentino tem ingressos para três jogos da NHL até o fim de novembro.

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Página publicada em 17 de outubro de 2010.