Por: Eduardo Costa

"Pior do que tá não fica"

O slogan utilizado pelo deputado federal mais bem (?) votado pelos paulistas nessa última eleição também foi usado em Edmonton ao final da última temporada. A lanterna da NHL foi o saldo de uma temporada desastrosa, que começou com um "não" cinematográfico de Dany Heatley, passou pelas apostas caras que continuaram a render pouco, chegando à incrível marca de 531 jogos perdidos por seus atletas devido às contusões.

Porém, ao contrário do nosso congresso nacional que agora está ainda mais circense — literalmente —, a equipe de Edmonton tem tudo para tornar essa tenra temporada bem mais atraente para sua torcida do que as anteriores. Mesmo que a a equipe termine novamente nos porões da tabela, seus seguidores poderão observar a reconstrução que a maioria desejava.

A limpeza foi profunda. O gerente geral Steve Tambellini passou o rodo (?). Quarto pior ataque, pior defesa, equipe especiais risíveis? De treinador, Pat Quinn foi "promovido" a uma função fantasma na organização. Agora é o ex-Rangers e ex-Canucks Tom Renney que comanda o banco. A já mencionada ciranda clínica? O chefe da equipe médica foi pro ralo. O maior salário da linha azul Sheldon Souray foi fazer companhia a Wade Redden na AHL.

Mas a mudança mais significativa foi o modelo a ser seguido pela organização. Parece que a sanha consumista do dono Daryl Katz, que tentou, sem sucesso, atrair grandes estrelas desde que adquiriu a franquia — notadamente Marian Hossa e Heatley — cessou até segunda ordem.

O modo de operação escolhido é o mesmo dos últimos dois campeões da Copa Stanley, Pittsburgh Penguins e Chicago Blackhawks. Ambos os times se tornaram potências na liga após boas colheitas nas altas altitudes de recrutamentos não tão distantes. Mesmo que o sucesso demore um pouco a chegar, a torcida pelo menos terá como passatempo observar atletas com técnica acima da média dar as primeiras patinadas na NHL com a camisa da gota (?) solitária.

Ausentes dos playoffs desde o fatídico jogo 7 das finais da Copa Stanley de 2006, os Oilers já começaram a colher os frutos dessa fase sombria. Três atletas em especial animam os petroleiros. Três atacantes que, se confirmarem as expectativas, recolocarão os Oilers novamente no caminho da respeitabilidade.

A peça principal é Taylor Hall, primeira escolha geral do último recrutamento. O asa esquerdo foi por muito tempo unanimidade entre os olheiros. Na reta final, vimos a ascensão de Tyler Seguin, mas o ponta-esquerda que brilhou pelo Windsor Spitfires acabou mesmo sendo o eleito por Tambellini e sua trupe.

A julgar pelo que mostrou nas ligas juniores e em inúmeras competições pela seleção de base canadense, Hall é mesmo um atleta especial. Imparável na transição, um explosivo definidor de jogadas com recursos ilimitados e dono de um perfil ideal para liderar um time. Chama a responsabilidade e não foge do contato físico.

Hall foi o primeiro atleta a ser eleito o jogador mais valioso da Copa Memorial — curto torneio que reúne os melhores times das três principais ligas juniores do Canadá — de forma consecutiva. Sempre que foi colocado sob holofotes não decepcionou.

A questão da vez em Edmonton há poucas semanas foi respondida quando a gerência resolveu não guardar a fera. Hall pulou etapa. Ao invés de ser testado contra adultos na AHL, já pode ser visto usando a camisa dos Oilers na NHL, tendo contabilizado seu primeiro ponto na liga em sua segunda partida — uma assistência na vitória de 3-2 sobre o Florida Panthers. Vem falhando ao tornar seus turnos mais longos que devido, mas é compreensível em se tratando de um atleta que quer mostrar serviço.

Se atuar contra adultos era uma novidade para Hall, o mesmo não pode ser dito sobre o sueco Magnus Pääjärvi-Svensson, a décima escolha geral no recrutamento de 2009. Com 16 anos e cinco meses ele se tornou o quarto atleta mais novo a atuar pela Elitserien (principal liga de hóquei da Suécia). Suas atuações pelo Timrå IK renderam convocação para a seleção de seu país. Atuando diante de muitas feras já consagradas, Pääjärvi fez parte da seleção ideal do mundial desse ano, na Alemanha — o trio ofensivo de destaque do torneio foi completado por Pavel Datsyuk e Evgeni Malkin.

Sua velocidade e faro de gol foram evidenciados logo em seu primeiro jogo preparatório pelos Oilers. Marcou três vezes e venceu com facilidade a marcação quando era preciso acelerar, mas na temporada regular ainda está em branco, não tendo pontuado nos três jogos disputados até agora.

Mas nada que o tempo não resolva, aqui mesmo na TheSlot.com.br demoramos seis anos até obtermos a 50.ª página visitada.

Tom Renney conversou nessa semana com nosso correspondente em Alberta, Jim Matheson — que ainda não sabe que, além de trabalhar para o Edmonton Journal, colabora com TheSlot.com.br, de graça, óbvio:

"Ainda é cedo para preocupações com a performance de Pääjärvi. Acredito que ele consiga lidar com esse ritmo imposto na temporada regular. Ele precisa obter a posse do disco enquanto acelera. Necessitamos, como equipe, de usar o que ele tem de melhor," disse Renney sobre o sueco que vem atuando ao lado de Andew Cogliano, também um "velocista", e Gilbert Brule na terceira linha petroleira.

Quem está rendendo bem nesse começo de carreira na NHL é Jordan Eberle, que já possui imenso cartaz no Canadá devidos aos seus gols pontuais pela seleção júnior do país. Foi o 22.º jogador a ser recrutado em 2008, mas seu valor foi multiplicado após as duas últimas edições do mundial sub-20 de seleções. Assim como Pääjärvi, Eberle participou do mundial adulto de 2010.

Apesar de não ter um físico avantajado, ele tem boa produção nas áreas mais habitadas, próximo à meta adversária. Foi assim que marcou, com 5,4 segundos restando no cronômetro, um dos tentos mais celebrados — sem exagero — da história recente do hóquei canadense (naquele país os mundiais sub-20 tem audiência televisiva superior aos mundiais adultos). Não satisfeito em forçar uma prorrogação contra a Rússia naquela edição de 2009, ele também marcou o gol que deu a vitória na semifinal durante a disputa de pênaltis. Os canadenses venceríam os suecos na final, garantindo o quinto mundial sub-20 consecutivo.

O hexa foi negado no ano seguinte, mas Eberle carregou sua seleção durante a final contra os americanos, marcando duas vezes e empatando uma partida que perdiam por 5-3, com pouco mais de três minutos para o final do tempo regulamentar. Se o ouro escapou na prorrogação, Eberle pelo menos confirmou sua fama de jogador de momentos decisivos e tentos importantes.

Assim como os outros dois jovens valores citados, Eberle também teve sua estreia na NHL nesta temporada contra o rival eterno dos Oilers. E que atuação frente ao Calgary Flames. Vitória por 4-0 com um tento de rara beleza feito por Eberle durante uma vantagem numérica do oponente.

Se lembrarmos que os Flames venceram todos os seis jogos contra os Oilers na última temporada — a primeira varrida nos 29 anos de história da batalha de Alberta —, ficamos com a certeza que os novatos dos Oilers deixaram uma ótima primeira impressão junto aos torcedores no Rexall Place.

Porém, foi apenas a primeira imagem passada. São três atletas que ainda vão ter que buscar conciliar a orientação ofensiva que possuem com os deveres defensivos que a NHL exige.

E vão encontrar um grupo de apoio apenas modesto na primeira fase dessa missão.

Há três temporadas o central Sam Gagner chegou com boas credenciais. Números respeitáveis na base e dono de um hóquei virtuoso, o central obteve 40 ou mais pontos em cada uma delas. Com apenas 21 anos, Gagner ainda tem tempo para provar que pode ser um dos pilares da equipe. Distribuidor da principal linha do time, Gagner torce para que o habilidoso ponta-direita Ales Hemsky permaneça saudável. O tcheco teve uma média de um ponto por jogo na última temporada. Pena que passou 60 embates no estaleiro.

Já Dustin Penner atuou durante toda a temporada, obteve seus melhores números na carreira, mas seguiu vítima da inconsistencia. É outro atleta que pode se beneficiar a médio prazo dos novos companheiros.

E na posição mais importante de um time de hóquei temos o mais tarimbado membro do time. Nikolai Khabibulin é um arqueiro quase quarentão vindo de uma cirurgia nas costas. E ainda pode ser enjaulado por ter sido pego dirigindo mamado no Arizona há poucos meses. Caso drible a justiça e corra da departamento médico, será o diferencial desta campanha.

Vaga nos playoffs parece não passar de um sonho no momento. Mas se se a fórmula atual do sucesso exige doses cavalares de paciência, que assim seja. O ingrediente da juventude com talento já está sendo adicionado. Se funcionou para os outros, por que não para os Oilers?

Eduardo Costa deseja uma ótima temporada de hóquei a todos.

Jason Franson/CP
Sem medo de tráfego pesado, Taylor Hall, a primeira escolha do ano, enfrenta a defesa dos Flames.
(07/10/2010)

Dan Riedlhuber/Reuters
Jordan Eberle foi um constante tormento para Miikka Kiprussoff no primeiro clássico da temporada. Com sua equipe em desvantagem numérica, ele marcou um dos mais belos gols do ano.
(07/10/2010)

Christopher Pasatieri/Getty Images
Magnus Pääjärvi-Svensson recebe a carga de Adam Pardy durante a batalha de Alberta. Apesar da tenra idade, o sueco foi um dos melhores atacantes do mundial da Alemanha.
(07/10/2010)

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Página publicada em 17 de outubro de 2010.