Por: Marcelo Constantino

O que faz de um jogador como Kirk Maltby ter o anuncio de sua aposentadoria com relativo destaque na mídia esportiva dedicada à NHL? Mais que isso: o que faz um jogador como ele permanecer num mesmo time por longas 14 temporadas consecutivas, até se aposentar?

Certamente não são os seus números acumulados durante a carreira na grande liga. Melhor dizendo, não é sua produção ofensiva que faz dele um jogador com esse relativo destaque. 128 gols e 260 pontos em 1072 jogos não enchem os olhos de ninguém. Também não é a quantidade de troféus de destaque individual que ele recebeu ao longo da carreira na liga, apesar de ter sido reconhecidamente um bom jogador defensivo: nenhum.

Eu diria que Maltby é amplamente conhecido ao redor da NHL por algumas poucas razões: em primeiro lugar, quatro Copas Stanley. Somente isso já seria mais do que suficiente. Mas há um charme maior, no caso específico dele. O camisa 18 do Detroit nunca foi um grande jogador, não tem absolutamente nada que chame a atenção, nunca foi brilhante em qualquer aspecto do jogo -- exceto, talvez, e, ainda assim, anos atrás, por irritar adversários. Ainda assim, ele foi uma das peças da engrenagem que fez o Detroit Red Wings conquistar quatro Copas Stanley em 12 anos. Somente ele, Nicklas Lidstrom, Thomas Holmstrom (reserva em 1997), Kris Draper e Darren McCarty (este dois últimos, seus tradicionais companheiros de linha) conquistaram as quatro Copas. Somente Maltby, Draper e Lidstrom conquistaram as quatro Copas como titulares e permanecendo no time durante todo esse tempo.

Carreira
Apesar de ter pontuado mais no começo dos anos 2000, para mim a melhor temporada de Maltby foi a de 1997-98. Ele havia “surgido” no ano anterior para a NHL, especificamente nos playoffs de 1997, quando desandou a marcar alguns gols -- cinco gols ao todo, seu recorde (marcar cinco gols em playoffs é sonho que muito jogador melhor do que ele não conseguiu realizar). Justo Maltby, que apenas compunha a quarta linha do time e que exercia um papel primordialmente defensivo. Lembro-me de alguns belos gols que Maltby marcou em 1997-98, alguns deles típicos de “highlights”. Pudera, foi uma temporada em que chegou a ser promovido para jogar ao lado de Steve Yzerman em algumas partidas na temporada. Mas seu lugar cativo mesmo era na quarta linha do time.

Mas aquela quarta linha não era qualquer linha, era a famosa Grind Line, que praticamente brotou nos playoffs de 97, que viria a ser o carro-chefe da longa carreira de todos os seus integrantes e também uma das peças mais importantes da engrenagem de três das quatro Copas conquistadas. Inicialmente composta por Maltby, Draper e Joey Kocur em 1997 e 1998, a linha ganhou a presença de Darren McCarty logo a seguir com a aposentadoria de Kocur.

Era uma linha feita para defender, para marcar. Uma clássica “checking line”, para usar o termo no original. Mas eles faziam mais que isso, eles marcavam gols. E gols importantes, vide o gol histórico de Kocur na final de 1997, ou mesmo o hat-trick de Darren McCarty nas finais de conferência de 2002. A linha não apenas defendia e surpreendia com gols, ela também irritava (serviço de Maltby) e intimidava (cortesia de McCarty).

Maltby era um dos guerreiros da linha. Bloqueava chutes, desferia trancos, provocava adversários, matava penalidades. Seu papel era defensivo, mas eventualmente surpreendia ofensivamente. E a verdade é que ele era muito bom nisso -- ninguém permanece tanto tempo num time como o Detroit se não for. Outro ponto importante a lembrar da carreira de Maltby: ele marcou dois gols da vitória em prorrogações. Um contra os Avs em 1999, outro contra os Oilers em 2006. Gols na prorrogação valem ouro.

Kirk Maltby foi também personagem de destaque no imortal jogo de 26 de março de 1997. Irritou como nunca os adversários, brigou, entrou nas confusões, desferiu trancos sempre que pôde.

Como ele chegou
O Detroit queria livrar-se do defensor Dan McGillis durante a temporada de 1995-96. Inicialmente o Edmonton Oilers, time com quem a franquia negociava, enviaria uma escolha média em troca, ou mesmo uma escolha condicional. Mas o Detroit topou receber Maltby na troca. E deu no que deu. Ele havia sido recrutado em 1992 (65º geral) pelos Oilers e jogara três temporadas na NHL pelo mesmo time.

Kirk Maltby anunciou sua aposentadoria no último dia 12. Ele poderia seguir jogando hóquei aos 37 anos de idade no Grand Rapids Griffins, time da AHL afiliado aos Red Wings. Ele havia assinado um contrato com o Detroit que representava uma última tentativa de permanecer na NHL. Não conseguiu, foi enviado para a liga menor e preferiu encerrar a carreira depois de 16 temporadas. Maltby será olheiro do Detroit.

Sem exageros, não é exatamente o fim de uma era. Draper está prestes a se aposentar também. Lidstrom e Holmstrom idem. É apenas mais um capítulo numa história que não tem fim.

Marcelo Constantino agradece e parabeniza também o grande Rod Brind’Amour pela carreira.

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Página publicada em 17 de outubro de 2010.