Por: Humberto Fernandes

Quando o treinador John MacLean confirmou a escalação do New Jersey Devils para o jogo contra o Pittsburgh Penguins em 11 de outubro, ela parecia incompleta. Onde estava a quarta linha de ataque?

"Foi muito estranho ver apenas três linhas na planilha antes do jogo," disse o defensor Alex Golikoski dos Penguins. "Eu não acreditei que era de verdade".

Era apenas o terceiro jogo da temporada e os Devils não conseguiam escalar um time completo, graças às contusões de Brian Rolston e Anton Volchenkov e à suspensão de Pierre-Luc Letourneau-Leblond. Sem espaço no teto salarial, a equipe começou sua campanha carregando apenas 20 jogadores, o mínimo necessário para montar um time. Com três desfalques e sem peças de reposição, apenas 15 patinadores vestiram o preto e vermelho contra os campeões da Copa Stanley de 2009.

Naquela noite, em que buscava a sua primeira vitória, o banco de jogadores dos Devils estava muito semelhante às cadeiras do ginásio Prudential Center, ambos repletos de espaços vazios.

A origem do problema está no péssimo planejamento do teto salarial pelo gerente geral Lou Lamoriello. Ao renovar o contrato de Ilya Kovalchuk por US$ 100 milhões, Lamoriello sacrificou todo o espaço disponível, elevando sua folha de pagamentos ao máximo permitido pela liga. Muito se especulou antes do começo da temporada que os Devils se livrariam de algum jogador para ter uma folga no orçamento, mas isso nunca aconteceu de fato. Lamoriello arriscou e não demorou muito para ser obrigado a pagar o preço de sua audaciosa negligência.

Um time escalar jogadores em número abaixo do mínimo não é novidade na NHL. O caso mais notório é o do Calgary Flames de 2009.

No dia-limite de trocas daquele ano, os Flames se reforçaram com Olli Jokinen e Jordan Leopold visando a uma longa corrida nos playoffs. Jokinen era considerado o melhor jogador disponível no mercado e a equipe não se importou em espremer até a última gota do teto salarial para contratá-lo. Pouco depois, a defesa da equipe começou a sofrer baixas por contusão. Então os Flames foram obrigados a disputar cinco partidas seguidas com menos jogadores do que o ideal, inclusive uma vez com apenas 15 patinadores, exatamente como os Devils.

Se, naquela ocasião, o mundo do hóquei já torceu o nariz, imagine agora. Embora a situação seja a mesma, o momento é completamente diferente. Os Flames estavam a poucos jogos do fim da temporada regular, o que diminuía consideravalmente o risco. Os Devils estão nos primeiros jogos da campanha.

E se mais jogadores se contundissem? Qual o número aceitável de atletas para disputar uma partida? Com 15 dá pra jogar, mas e com 12?

E se um goleiro se contundisse? Porque você pode jogar com 17 patinadores, mas não com apenas um goleiro.

A NHL e a NHLPA deveriam olhar com atenção para o precedente aberto pelos Flames em 2009 e escancarado pelos Devils neste ano. Parte da imprensa cobrou uma punição ao time, mas isso não vai acontecer porque, neste caso, a regra não é clara.

O Acordo Coletivo de Trabalho determina que as equipes escalem 18 patinadores e dois goleiros para disputar um jogo, exceto em situações de emergência. O que o ACT não determina é o conceito de emergência. Para o Dicionário Aurélio, emergência é uma situação crítica, um acontecimento perigoso ou fortuito, um incidente. A situação dos Devils era crítica, mas não tinha nada de imprevisível, afinal contusões acontecem a todo momento. Rolston e Volchenkov se machucaram dias antes do jogo. Definitivamente não era uma emergência.

Depois da derrota para os Penguins, os Devils conquistaram sua primeira vitória na temporada, contra o Buffalo Sabres. Nesse jogo, o time entrou com 16 patinadores, com a contratação de Adam Mair, que já treinava informalmente com a equipe. Dois dias mais tarde, na derrota para o Colorado Avalanche, os Devils voltaram a contar com quatro linhas de ataque e três pares de defesa, embora muitos dos nomes fossem de completos desconhecidos.

O que salvou a equipe, pelo menos momentaneamente, foi a gravidade da contusão de Rolston. Pelo tempo que vai ficar afastado do gelo, o atacante foi colocado na reserva por contusão, o que permite à gerência ultrapassar o teto salarial no valor de seu salário. Quando Rolston voltar, os Devils estarão encurralados novamente.

No ano em que eram tidos como um dos favoritos ao título da Conferência Leste, os Devils se destacam não pelo desempenho do time, mas pela miopia de seu gerente, incapaz de administrar seu orçamento.

Humberto Fernandes participou da greve dos funcionários do Banco do Brasil.

Christopher Pasatieri/Getty Images
Em New Jersey, o vazio das cadeiras do Prudential Center foi visto também no banco de jogadores dos Devils.
(11/10/2010)

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Página publicada em 17 de outubro de 2010.