Por: Alessander Laurentino

O Montreal Canadiens foi o primeiro colocado na Conferência Leste na temporada regular, enquanto o Philadelphia Flyers foi apenas o sexto, mas isso não quer dizer muita coisa quando o assunto é playoffs.

Na primeira partida da série, em Montreal, novamente o Bell Centre estava lotado de fanáticos torcedores de Quebec, mas, ao contrário do que se esperava, não se viu um passeio ou mesmo uma predominância do Montreal durante a partida. Na verdade, quem brilhou foram Martin Biron e seus colegas da Filadélfia.

É bem verdade que os Habs quase saíram na frente no primeiro período, quando Brisebois e Koivu acertaram a trave de Biron aos cinco e aos dez minutos de jogo, mas foram os visitantes que saíram na frente no placar. Aos 13:15, R.J. Umberger colocou os Flyers na frente no placar e três minutos depois eles abriram 2-0 com um gol de Jim Dowd.

Do outro lado do gelo, quando Biron não chegava no disco, a trave estrava lá para impedir que os Habs tirassem o seu zero do placar.

No segundo período, foi a vez de os Habs responderem, tanto ofensivamente como com grandes defesas de Price, impedindo que os Flyers abrissem maior vantagem na partida. Aos 9:44, Andrei Kostitsyn marcou o primeiro gol do Montreal e seu quarto nos playoffs. Em seguida foi a vez do craque da noite, Alex Kovalev, empatar a partida para os donos da casa, aos 16 minutos, aproveitando-se de um contra-ataque em desvantagem numérica, e levou a torcida aos delírio, afinal, melhor do que marcar aquele gol da vitória ou de empate nos segundo finais, somente marcar em desvantagem numérica.

Os Habs dominaram o segundo período, empataram a partida que perdiam por 2-0 e deram 13 chutes a gol contra 9 dos Flyers. Contaram ainda com boas defesas de Price e algumas chances desperdiçadas no ataque.

Porém, mal começou o terceiro período, e Lupul recolocou os Flyers na frente, ao marcar o terceiro gol dos visitantes com menos de 20 segundos. O domínio foi invertido até a metade do período, com os Flyers tendo chances reais de abrir uma maior vantagem, mas esbarrando no esforço defensivo dos Habs e nas defesas de Price. Depois dos 15 minutos, o time da Filedélfia deixou que, pouco a pouco, os Habs tomassem maior iniciativa no ataque e, quando a vitória parecia certa, os Flyers viram-se em desvantagem numérica devido à penalidade cometida por Mike Richards quase aos 19 minutos. Os Habs não desperdiçaram a chance e, com dois homens a mais no gelo (um pela penalidade dos Flyers e outro pela saída de Price em troca de um atacante extra), o time de Montreal chegou ao heróico empate, novamente com gol de Alex Kovalev, aproveitando o faceoff vencido por Koivu e disparando um chute indefensável para Biron, que, quando procurou o disco, este já estava no fundo do seu gol.

Os Flyers pareciam não acreditar que os donos da casa tinham arrancado o empate nos segundos finais e foram para a prorrogação visivelmente abatidos. E pagaram caro pelo descuido. Com apenas 48 segundos, Tom Kostopoulos deu a fantástica vitória ao seu time, por 4-3, com assistência de Markov. Com os dois gols marcados na partida, sendo um em desvantagem numérica e outro nos segundos finais e que valeu o empate, Alex Kovalev foi, sem dúvida alguma, o nome da noite em Montreal. Agora os Habs tinham a vantagem de 1-0 na série.

Na segunda partida da série, novamente os Flyers saíram na frente e abriram 2-0 no jogo, com gols de Umberger e Jeff Carter. Mesmo o Montreal buscando mais o ataque não conseguiu chegar ao esperado empate, principalmente quando o capitão Koivu aproveitou oportunidade de vantagem numérica e descontou para os donos da casa aos 16:18 do primeiro período.

A decepção da noite foi mesmo a trágica atuação de Price. Ele não apenas tomou um frango como mostrou-se inseguro e nervoso em alguns instantes, transmitindo essa insegurança aos seus companheiros no gelo. A torcida também percebeu a péssima atuação do seu jovem e ainda promissor goleiro.

No segundo período, os Flyers ampliaram a vantagem para 3-1 na partida quando Daniel Brière marcou seu primeiro gol nos playoffs contra o time que ele rejeitou. Talvez por isso ele tenha sido vaiado cada vez que tocou no disco nessas duas primeiras partidas em Montreal.

Sem conseguir apoio defensivo e não conseguindo fazer o disco passar por Biron, os Habs foram ficando nervosos na partida, deixaram a tática um pouco de lado e partiram para um jogo mais físico e emocional. Parecia que daria resultado quando, com apenas 1:26 no terceiro período, Andrei Markov diminuiu para 3-2, mas os Habs deram apenas sete chutes a gol no período final, mesmo precisando empatar a partida.

Por outro lado, o time da Filadélfia tinha viva na memória a catástrofe da partida anterior. Desta vez, eles não repetiram o mesmo erro, e Umberger tratou de garantir a folga necessária no placar aos 17:39, marcando seu quarto gol nos playoffs, em uma jogada considerada interferência por Price, mas considerada normal pelos árbitros. Price reclamou em vão da jogada, obviamente. E o interessante é perceber que o jovem goleiro conseguiu explicar todos os gols tomados como exclusivamente obras do acaso, não reconhecendo que pelo menos dois deles ele deveria ter evitado.

Com a vitória sacramentada, os Flyers trataram de segurar os Habs e matar o tempo. A estratégia deu certo, e a série estava empatada em 1-1, seguindo agora para os jogos 3 e 4 na Filadélfia, onde os Flyers se tornariam os donos da casa com apoio de sua torcida, desesperada por um título que não vem há mais de 30 anos. Com a importante ausência de Brisebois, contundido, a estrela da noite foi mesmo Martin Biron, que parou 34 dos 36 chutes a gol do Montreal.

No primeiro período do jogo 3 ninguém conseguiu marcar um gol, mas não por falta de chance. Só de penalidades, podemos contar oito, sendo cinco contra os Flyers e três contra os Habs. Mesmo quando Saku Koivu teve uma chance sozinho, frente a frente com Biron, o gol não veio: o goleiro mais uma vez defendeu uma grande oportunidade dos Habs. Pouco a pouco, ele ia escrevendo seu nome na série e nos playoffs.

Foi no segundo período que a coisa realmente ficou feia para o time de Montreal. Os Flyers deram apenas sete chutes a gol no período intermediário, mas a catástrofe começou aos 7:04, quando Scottie Upshall abriu o placar para os donos da casa. Aos 15 minutos, quando os Canadiens estavam em vantagem numérica, Mike Richards conseguiu enterrar os Habs na crise, quando marcou o segundo gol dos Flyers.

Mais uma vez, Price mostrava-se inseguro na partida e nervoso, deixando rebotes demais e tendo dificuldade em manejar o disco de forma adequada, até mesmo em lances mais fáceis. Os Flyers então aproveitaram a oportunidade e, aos 18:19, Umberger marcou o terceiro gol do time. Sim, foram três gols em apenas sete chutes, e Price teve boa parte do seu crédito debitado nesse período. Tanto que no terceiro período o técnico do Montreal, Guy Carbonneau, sacou Price e colocou o goleiro reserva para começar o terceiro período.

Pela primeira vez vendo a ação da pós-temporada do lado de dentro do gelo, o também jovem goleiro Jaroslav Halak não teve muito trabalho. Os Flyers se limitaram a apenas dois chutes a gol em todo o terceiro período.

Do outro lado, crescia um mito: Martin Biron. Os Habs simplesmente não conseguiam furar esse paredão, e ficava claro a cada lance que os jogadores do Montreal perdiam a paciência com a incrível capacidade do goleiro, não apenas ao defender os chutes mas, principalmente, ao não deixar rebotes.

A sorte dos visitantes pareceu mudar quando Derian Hatcher cometeu uma penalidade sem propósito ao agredir Francis Bouillon, o que inclusive resultou em um corte acima do olho no jogador dos Habs. Hatcher recebeu uma penalidade maior, de cinco minutos, junto com a expulsão por atitude antidesportiva.

Os Habs aproveitaram os cinco minutos de vantagem numérica e finalmente conseguiram tirar seu zero do placar: aos 7:29, Tomas Plekanec fez o primeiro gol dos visitantes e, logo depois, aos 8:41, ainda na vantagem numérica, foi a vez de Koivu diminuir a vantagem dos Flyers para apenas um gol. Os Habs bem que tentaram o empate, de quase todas as maneiras possíveis, mas sempre esbarravam na brilhante atuação de Martin Biron.

Neste ponto, caro leitor, tenho de reconhecer que errei. Na matéria sobre a prévia da série na semana passada, falei que não seria muito inteligente da parte dos Flyers não obedecer o sistema defensivo, sobrecarregando Biron, mas, depois de três partidas, posso dizer que errei. Na verdade, essa parece ser a melhor tática para os Flyers avançarem nos playoffs: não precisam defender, preocupam-se apenas em marcar gols, porque lá atrás Martin Biron tem sido simplesmente espetacular, a razão pela qual os Flyers venceram o jogo 3 e abriram 2-1 na série, de virada. Apenas no terceiro período os visitantes deram 17 chutes a gol e só conseguiram marcar durante a vantagem numérica de cinco minutos.

Sem falar que o estrago estava feito em Montreal. Sem conseguir vencer Biron e com seu próprio goleiro derretendo na série, os Habs viam-se em um beco sem saída. O que mudar para conseguir vencer o jogo 4?

O técnico de Montreal respondeu curto e grosso: Price está fora. E o até então titular do gol canadense foi para o banco, dando a vez para Halak. Carbonneau deixou bem claro que o time precisava de mudança, que Price tinha falhado, é jovem e ainda precisa amadurecer, principalmente em relação a sua atitude como goleiro profissional e nos playoffs.

Feito isso, os Habs começaram o jogo 4 de ânimo novo e tratando de ir para cima dos Flyers. Mas novamente esbarravam na fantástica atuação de Biron, para delírio da torcida da Filafélfia e desespero dos montrealenses e seus jogadores. Mesmo com duas oportunidades de vantagem numérica e períodos de verdadeiro bombardeio aos gol defendido por Biron, os Habs não saíram do zero nem no primeiro nem no segundo períodos. Os Habs deram 14 chutes a gol em cada um dos dois primeiros períodos, mas todos foram defendidos por Biron.

Pelos Flyers, a história foi um pouco diferente. Umberger novamente marcou nos playoffs (ele fez gols em todos os jogos contra o Montreal até agora nestes playoffs) e colocou os Flyers na frente aos 7:47 do segundo período.

O terceiro período começou, e a história não mudou. Os Habs partiam ao ataque, disparavam chutes de todas as formas e todos os cantos, mas não parece ser possível marcar um gol em Biron. O goleiro do Philadelphia, na verdade, parecia ser uns três goleiros na frente daquele gol, tamanha a dificuldade de se conseguir vencê-lo. O time de Montreal foi sentindo o golpe, e a frustração de não conseguir empatar a partida aumentava, até que os Flyers deram o golpe de misericórdia.

Aos 6:47 do período final, os Flyers aproveitaram um passe errado dos Habs no meio do gelo e partiram para o ataque. Halak fez a defesa inicial, mas, sem ajuda da defesa, não conseguiu evitar o gol no rebote. Assim, o time da casa abriu 2-0 com o gol de Hartnell, parecendo colcocar os Habs definitivamente fora da briga.

O Montreal mais parecia um boxeador a ponto de ser nocauteado, já cambaleando e esperando o golpe final que o levaria ao chão para não mais levantar. O abatimento era notável no banco dos visitantes, inclusive na expressão facial do seu técnico. Afinal de contas, sem contar com seu então menino-prodígio no gol e com seu ataque incapaz de marcar em Biron, o que fazer?

Os Habs já estavam fazendo tudo certo, mas não esperavam encontrar um goleiro em fase tão fantástica como Biron. Então continuaram dedicados ao ataque, afinal uma hora a sorte teria que mudar. E pareceu mudar quando finalmente conseguiram vazar Biron. Aos 13 minutos, Plekanec diminuiu a desvantagem dos visitantes, e o impossível aconteceu apenas 37 segundos depois, quando Koivu empatou a partida.

Mas o sonho dos Habs não durou muito: pouco depois, os Habs colocaram-se em desvantagem numérica, e Brière não perdoou, aproveitando-se de um rebote sem marcação e recolocando os Flyers na frente, aos 16:22.

Mais uma vez, os Flyers venciam por apenas um gol e, nos segundos finais, os Habs partiram para o tudo ou nada, sacando o goleiro Halak e colocando um atacante extra. Mas a tática, que funcionara no jogo 1, não deu certo no jogo 4. Faltando apenas um segundo para o apito final, Umberger afundou o Montreal, com o quarto gol dos Flyers, fazendo a série retornar para Quebec com os Habs enfrentando a eliminação em sua própria casa e de forma precoce. Nem o mais otimista dos torcedores dos Flyers esperava que seu time conseguisse abrir 3-1 na série.

Alessander Laurentino assistiu a todas as quatro partidas da série ao vivo pela internet.

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Página publicada em 30 de abril de 2008.