Por: Thiago Leal

Há alguns anos atrás, essa seria uma situação perfeitamente normal. Hoje causa um grande estranhamento. Quem diria que o Dallas Stars seria considerado uma surpresa ao eliminar, de cara, Anaheim Ducks e assumir ampla vantagem sobre o San Jose Sharks na pós-temporada? Acostumados a reinar no Pacífico, os Stars eliminam seus rivais costumeiros sem grandes dificuldades e mostram que ainda são os donos da banca, mandando na série contra o San Jose.

Este colunista palpitou contra o Dallas tanto na série contra o Anaheim quanto contra o San Jose. Não quero sair pela tangente, mas em ambas, especialmente nesta última, fiz uma ressalva chamando atenção para a possibilidade dos Stars virarem o jogo. Ainda não mordi a língua, mas estou prestes a fazê-lo. E, caso a final de Conferência seja Detroit x Dallas, sigo a apostar contra os texanos — mesmo com todo o retrospecto que eles já construíram até aqui.

A princípio, esses Stars podem dar a mesma impressão que o Florida Panthers deu em 1996, ou o Anaheim Ducks em 2003. Uma grande zebra que, sem nada a perder, entrou como franco atirador e, com a garantia de um goleiro sensacional protegendo a cozinha, consegiu se sobrepor a adversários tecnicamente mais fortes. Quem tiver essa visão, sugiro que vá aos torrents buscar cada jogo dos Stars durante essa pós-temporada. O buraco aqui é mais embaixo. Os Stars podem não ser favoritos e podem estar causando uma certa surpresa. Mas estão longe de serem as "zebras" da temporada. Zebra seria se os Capitals alcançassem a final no Leste. O Dallas não está fazendo nada a mais do que é capaz de fazer. Basta olhar a temporada regular, tanto a última, encerrada há algumas semanas, quanto as passadas. O Dallas não mudou tanto em estilo de jogo, desde seu título em 1999. Eu poderia defini-los como "New Jersey Devils do Oeste", mas isso seria imprudente, porque não é o mesmo estilo de jogo, embora seja tão forte quanto e, às vezes, possa parecer tão chato quanto. O ponto é que eles estão onde sempre jogam para estar. Não é estranho o Dallas chegar até aqui agora, em 2008. Estranho é ter ficado tão longe destes dias desde 2003.

Não há como negar que duas séries domésticas favoreceram os Stars nesta pós-temporada. Esses hepta-campeões do Pacífico sempre mandaram muito bem dentro da sua própria divisão, mesmo estando numa posição, geograficamente, um pouco mais complicada que os demais — afinal, mesmo para jogar dentro de sua própria chave, os Stars têm de trilhar distâncias mais longas que Ducks, Kings, Sharks e Coyotes. Já citei o fator retrospecto da temporada regular que favorecia os Stars sobre o Anaheim e o deixava em pé de igualdade com o San Jose.

Na série de quartas-de-final, contra os Ducks, os Stars contaram com dois fatores a seu favor. O primeiro é o próprio retrospecto em si, completamente a favor do Dallas. O segundo foi uma atuação irreconhecível da defesa do Anaheim, presente em campo praticamente apenas nos jogos 3 e 5, coincidentemente os únicos que o Anaheim venceu. Mas a série não se decidiu apenas por esse fator.

Coletivo de estrela: constelação
Se tem uma coisa que tem funcionado bem para os Stars nessa pós-temporada, chama-se coletividade. Mike Ribeiro, Mike Modano, Jere Lehtinen, Steven Ott, Brad Richards e, principalmente, Brenden Morrow. As linhas ofensivas dos Stars têm funcionado tão bem que assustam. Me pergunto se Nicklas Lidstrom e Brian Rafalski serão capazes de parar a troca de assistências rápidas que foram capazes de deixar Chris Pronger e Scott Niedermayer tontos.

Foi assim que os Stars deram um golpe acachapante nos Sharks no terceiro período do jogo 2. Depois de vencer o jogo 1 por 3-2 na prorrogação, onde Morrow foi a estrela maior, os Stars deram uma falsa impressão de cansaço na segunda partida. Os Sharks trilhavam o caminho natural. Saíram perdendo por 1-0, viraram para 2-1. Vencer o jogo 2 era uma questão vital. Mas aí vieram aqueles 20 minutos finais... com 30 segundos, Richards voltou a ser aquele que ajudou o Lightning a conquistar a Copa Stanley em 2004 e marcou o gol de empate. Esse mesmo Richards encontrou três assistências e os Stars venceram o período por 4-0. O jogo por 5-2.

Mais que nunca, Marty Turco foi importantíssimo. Fechou, como de costume, o gol nos dois primeiros jogos. O ataque limitava-se a produzir o necessário. No primeiro jogo, foram apenas 18 chutes, e três gols. Tudo funciona muito bem.

O que os Sharks poderiam fazer na série, então?

Esse é um Dallas ainda melhor que aquele que atropelou o Anaheim. Não depende tanto da vantagem numérica para fazer seus pontos e o ataque flui com mais facilidade. Stéphane Robidas, Matt Niskanen e os demais defensores têm papel fundamental nesse papel que vem sendo tão bem desempenhado pelo clube texano. Os defensores têm subido com regularidade, forçam a marcação além de sua linha azul e são rápidos na ligação de contra-ataque. E agora têm Sergei Zubov de volta.

Outro fator importantíssimo que tem sido determinante pode ser constatado a partir do jogo 3 da série. O trabalho é sempre progressivo e os Stars não se abalam, mesmo quando estão atrás no placar. Se os Sharks quisessem alguma longevidade, precisavam liqüidar o jogo 3, depois de estarem vencendo por 1-0, gol de Marleau — foi exatamente o que os Ducks conseguiram no seu jogo 3, fator que permitiu a série ser arrastada até o jogo 6. Aqui, foi diferente. Os Sharks não têm jogador capaz de decidir, com exceção de Joe Thornton e, um pouco, pelo próprio Marleau.

Com tranqüilidade, os Stars empataram no terceiro período e definiram a vitória na prorrogação. Gols, respectivamente, de Zubov e Mattias Norstrom, dois defensores. Mas o nome do jogo foi Mike Ribeiro.


Série volta a San Jose
E eu pergunto... e daí? A rigor, foi importante para os Sharks vencerem esse jogo e diminuirem a série para 3-1. Mas não vejo como essa série ir além do jogo 6 — e até acredito que ela irá ser definida mesmo no jogo 5, em plena San Jose. As circunstâncias em que a vitória vieram, saindo atrás no placar para empatar em desvantagem numérica e virar o jogo no último período não contribuem para um "revival" dos Sharks.

Os Stars abriram o marcador com Jere Lehtinen no segundo período, cinco minutos antes de Marleau passar por Zubov para marcar, em desvantagem numérica, como já citado, o gol de empate.

Milan Michalek aproveitou, pela primeira vez na série, uma vantagem numérica e garantiu uma pequena sobrevida aos Sharks. Mas hoje foi um momento em que tivemos um Dallas "dormente", como aconteceu em alguns momentos na série com o Anaheim. Turco teve mais uma boa atuação, mas com o rendimento inferior, os Stars acabaram caindo.

O problema para os Sharks é que não há nenhum retrospecto que prove que os Stars manterão esse jogo morno pelas partidas seguintes e facilitem uma virada histórica para a franquia californiana. Esses momentos "preguiçosos" dos Stars podem dificultar uma série que estava quase ganha, mas a julgar pelo seu desempenho contra os Ducks, em que essa situação se repetiu, não há muito o que se temer no Texas.

Principalmente porque, novamente hoje, Thornton e Marleau trabalharam mais que o restante do time. Tudo bem que, diferentemente dos jogos 1, 2 e 3, houve maior participação de Craig Rivet ou de Brian Campbell, mas não há, nem de longe, o trabalho coletivo conciso que existe em Dallas. Hóquei é quase totalmente decidido na coletividade e nesse fator, os apagados Stars de hoje, são superiores como um todo.

Não faz a menor diferença que a série volte a San Jose. Não acredito que o Dallas "sinta o peso" da derrota, porque contra o Anaheim esse fator também não se manteve presente. É tarde para mudar palpite, mas os Stars levam a série. Só não posso afirmar com certeza que isso aconteça no jogo 5, que é o que acredito, ou no jogo 6.

Tem feito alguma diferença para o San Jose jogar em casa? Esperemos a quinta partida para tirar qualquer conclusão. Mas, nas palavras de quem já viu esse filme se repetir há dez jogos... creio que eu deva comentar, no próximo artigo sobre como Morrow, Ribeiro e Richards decidiram essa série a favor dos Stars.

Thiago Leal pretende apresentar o projeto de Anatomia de uma Derrota ao fundo de incentivo à cultura do goverdo do estado.
Christian Petersen/Getty Images
Mike Ribeiro, melhor jogador do time nas séries contra Anaheim e San Jose...
(25/04/2008)
Marcio Jose Sanchez/AP
... Brad Richards, sempre com gols e assistências decisivos...
(27/04/2008)
Christian Petersen/Getty Images
... Jere Lehtinen, o homem dos tiros de longa distância...
(27/04/2008)
Paul Sakuma/AP
... e Brenden Morrow, sempre comemorando com muita vibração: Dallas na rota da classificação.
(25/04/2008)
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Página publicada em 30 de abril de 2008.