A tal sorte de iniciante vem passando longe do Columbus Blue Jackets.
Estreante em playoffs, o time foi rigorosamente dominado nos três primeiros
jogos contra o atual campeão Detroit Red Wings. Para piorar o lado dos
Jackets, a sorte estava do lado do outro time. Os Wings dispararam da
linha azul, jogadores do Columbus tentavam bloquear o disco e acabavam
por desviá-lo exatamente para o próprio gol. Foi assim nos dois primeiros
jogos, mas não foi apenas isso.
Os Red Wings, sem precisar jogar num estilo mais aguerrido, sobram na
série, e os placares de 4-1, 4-0 e 4-1 traduzem perfeitamente cada jogo.
O time revela-se bem superior aos Blue Jackets, seja pela qualidade,
seja pela experiência. Também, pudera: há 11 jogadores com mais de 30
anos de idade no Detroit (e 44 anéis de Copa Stanley), enquanto apenas
três no Columbus.
Os times especiais do Detroit são muito superiores. No 5-contra-5, o
Detroit é superior. Há mais diversidade no ataque do Detroit, há muito
mais profundidade (a terceira linha do time foi a mais produtiva nos
jogos 1 e 2), a defesa erra menos e dá muito menos espaços e ainda realiza
a transição para o ataque com incrível maestria. Em tese, somente no
gol a vantagem seria dos Blue Jackets, mas nem isso.
Os que tinham receio e esperavam por um Chris Osgood cambaleante e vacilante,
surpreenderam-se. Osgood vem tendo belas e sólidas atuações, no mesmo
patamar em que esteve nos playoffs do ano passado.
A rigor os Blue Jackets têm sido um razoável teste para os Wings. Time
característico por passar por maus bocados em estreias de playoffs,
os Red Wings talvez estejam fazendo sua melhor estreia desde 2000. Ou
talvez o adversário seja o mais fraco desde então. Seja o que for, a
continuar do jeito que vem sendo, só um milagre catastrófico retira
os Red Wings das semifinais de conferência.
Da série, o jogo 3 foi o melhor, bem mais corrido. O Columbus tentou
impor esse ritmo mais corrido, em contraste ao estilo cadenciado dos
Wings, e até que pressionou razoavelmente após levar 1-0. O disco não
entrou e Dan Cleary puniu, ampliando para 2-0.
O jogo 3 também teve mais atrações, mais trancos. E o tranco da série
veio quando faltavam pouco mais de seis minutos para o fim do segundo
período. A vítima
foi R.J. Umberger, jogador já
escoladíssimo em levar trancos acachapantes no gelo. Umberger ficou
desorientado no gelo após encontrar o poste Brad Stuart pela frente,
mas prosseguiu no jogo e ainda marcou o gol solitário dos Blue Jackets
na partida.
Logo a seguir ao tranco, outro lance divertido: Mike Commodore tentou
dar um tranco em Cleary nas bordas, acertou parcialmente, mas voou pra
dentro do banco dos Wings. Na continuação da jogada, Henrik Zetterberg
arrefeceu os ânimos, marcando o terceiro gol dos Red Wings.
Outras séries:
Não assisti a um jogo sequer da série mais surpreendente, San Jose Sharks
x Anaheim Ducks — os jogos são tarde demais para mim. De qualquer forma,
a julgar pelos “highlights” que vejo e pelo que leio, os Sharks estão
enfrentando talvez o pior dos adversários (dentre os que não têm mando
de gelo) nesta primeira fase. Ainda assim, é evidente que aquela sombra
amarela ainda paira sobre as cabeças dos jogadores do time. Com a sofrida
vitória de ontem o panorama deve mudar, mas esta tem tudo para ser a
série mais quente desta primeira fase.
Até aqui a série que mais tem me agradado é a entre Pittsburgh Penguins
e Philadelphia Flyers. Os jogos geralmente são muito corridos, muito
disputados, mas os Pens se sobressaem. A dupla Sidney Crosby e Evgeni
Malkin sobra, sem se intimidar com o jogo físico dos Flyers. E a defesa
dos Pens, sobretudo Marc-André Fleury, vem segurando a onda dos bons
atacantes do Philadelphia. Mas esta é uma série que eu ainda acredito
em jogo 7.
Seguramente o jogo mais sensacional até aqui foi o de ontem entre New
Jersey Devils e Carolina Hurricanes. Tive a sorte de ver algumas partes
e, felizmente, os minutos finais. Um time que abre 3-0, permite ao adversário
o empate e marca o gol da vitória exatamente no último milésimo de segundo,
antes da prorrogação? Viva os Hurricanes, que ainda promoveram a ira
de Martin Brodeur, provavelmente irritado ou com o gol ou com a marcação
dos juízes — que validaram o gol da vitória após verificar se o jogo
acabara antes ou não de o disco entrar. Fora isso, a série anda equilibrada,
conforme esperado.
Outra série que está conforme o esperado é Boston Bruins x Montreal
Canadiens. Por diversas vezes eu vi os Habs frustrados em simplesmente
não conseguir fazer frente aos Bruins e apelarem descaradamente para
a provocação. Estratégia infrutífera até aqui, e só um milagre os salva
da varrida hoje à noite.
Chicago Blackhawks x Calgary Flames não está se saindo exatamente como
eu esperava. Os Flames ainda padecem dos problemas da temporada regular
e os Hawks, mesmo tendo perdido o jogo 3, estão melhores. Se a mudança
de estilo dos Flames para o jogo 3 — leia-se um time bruto e aguerrido
— for mantida, a série pode chegar ao jogo 7. Fora isso, está com cara
de Blakhawks.
Alexander Ovechkin, a despeito do que eu imaginava, tem encontrado muita
dificuldade de passar pelos Rangers, sobretudo por Henrik Lundkvist.
E os Rangers têm sido muito diferente daqueles Rangers em declínio na
temporada.
Por fim, vi quase nada de Vancouver Canucks x St. Louis Blues, mas o resultado mostra que os Blues estão no mesmo patamar dos Blue Jackets nesses playoffs.
Marcelo Constantino recomenda Chico Buarque, sempre. No momento, "Leite Derramado" (ainda que abaixo dos anteriores).