Sharks e Ducks começaram o que podemos considerar, pelo menos por enquanto, a melhor série desta primeira fase de playoffs. Tivessem os Ducks vencido o jogo 3, o primeiro da série em Anaheim, colocariam uma mão na vaga e seriam o principal assunto dessa primeira semana de pós-temporada. A vitória em casa não aconteceu. Mas só em ter vencido as duas primeiras partidas em San Jose, os Ducks já deixaram muita gente boquiaberta, especialmente com as atuações heróicas do goleiro Jonas Hiller. Agora os torcedores dos Ducks vislumbram a possibilidade de viver o mesmo fenômeno de 2003 e 2006, quando, impulsionado por grandes atuações de um goleiro até então desconhecido, surpreenderam a todos e avançaram nos playoffs. Já os fãs dos Sharks temem que o retrospecto de eliminações pré-maturas siga fazendo parte da realidade da franquia. Confira as ondas que rolaram na série californiana.
Anaheim Ducks, o time de Jonas Hiller
Só no caso dos Ducks passem da primeira fase e adentrem de vez nesta pós-temporada, poderemos dizer isto com mais afinco. Mas foi impossível assistir aos jogos 1 e 2 da série contra os Sharks e não lembrar imediatamente de Jéan-Sébastien Giguère em 2003 e de Ilya Bryzgalov em 2006 ao ver a atuação do goleiro reserva Jonas Hiller. O Queijo Suíço atuou bastante na temporada atual, assumindo muitas vezes a responsabilidade no lugar de Giguère que simplesmente sumiu. Mesmo sem a possibilidade de Jiggy atuar, principalmente por motivos pessoais, a torcida não confiava em Hiller e qualquer fã torcia o nariz quando o camisa #1 era chamado ao gol, tanto na condição de titular como substituindo Giguère durante as partidas. E olha que em alguns momentos Jiggy se afastou oficialmente da equipe, sendo colocado na lista de contusões e exigindo que o goleiro David LeNeveu fosse chamado do Iowa Chops, time filiado dos Ducks na AHL.
Doa em quem doer, Hiller vem sendo o goleiro titular do Anaheim nas últimas partidas, uma vez que vem tendo atuações melhores que Giguère. E assim foi nas três primeiras partidas de pós-temporada.
Existem duas formas de se analisar o jogo 1. A primeira é olhando pelo lado dos Ducks, o que abre novamente a duas possibilidades. Uma, analisando o time como um todo. E é óbvio o quanto os Ducks melhoram com François Beauchemin no gelo. Depois de longa ausência, o defensor voltou. Foi o melhor patinador do Anaheim seguido de Ryan Whitney, outro defensor. E podemos dizer que, pelo jogo 1, basta. No ataque Bobby Ryan esteve bem e foi só. No geral os Ducks resistiram a uma grande pressão dos Sharks graças ao trabalho de Beauchemin e Whitney. E, claro, temos a outra possibilidade, que é analisar o trabalho de Jonas Hiller. O Queijo Suíço foi a única razão que os Ducks teve para comemorar. Parou 35 chutes, garantiu para os Ducks um shutout por 2-0 e foi a estrela da noite.
Então vamos analisar o jogo 1 da segunda forma: pelo lado dos Sharks. E o time de San Jose confirmou aquilo que se temia a seu respeito. Rob Blake, Dan Boyle e Devin Setoguchi foram bem, esforçados no gelo e foram os únicos jogadores com alguma coerência para marcar os gols que não aconteceram. Mas lembra daquele papo dos jogadores decisivos sumirem? Joe Thornton simplesmente sumiu. Foi bem marcado no gelo, era alvejado o tempo todo e não pôde jogar. O mesmo se aplicou a Patrick Marleau e a Jonathan Cheechoo. Podemos considerar o jogo 1 como uma partida trágica para os Sharks — exatamente uma estreia que um time recalcado não quer.
Um pouco diferente dos Sharks do jogo 2. Thornton, Marleau e Cheechoo apareceram com mais liberdade. Milan Michalek foi o melhor patinador no rinque ao lado de Joe Pavelski, que devem ser os jogadores decisivos para os Sharks nessas séries. Cheechoo, aliás, contribuiu com um gol com assistência de Thornton. E Ryane Clowe foi o autor do outro gol dos Sharks da noite. Mas para marcar esses dois tentos o time teve que chutar a gol simplesmente 44 vezes. Logo, Hiller, mais uma vez em noite inspirada, parou 42 chutes dos Sharks. À sua frente havia a proteção de Chris Pronger em grande atuação. Bobby Ryan, Andrew Ebbett e o surpreendente Drew Miller marcaram para os Ducks e garantiram aos patos a vitória no jogo 2 por 3-2. Novamente a estrela foi Hiller.
O jogo 1 e 2 deu a falsa impressão de que os Ducks fechariam a série sem dificuldades. Impressionou também a facilidade com que a franquia de Anaheim matou suas desvantagens numéricas, jogando num nível que não existia na temporada regular. Mike Brown, Todd Marchant, Ryan Getzlaf e George Parros foram parte importante desse processo, com um jogo físico de alto nível. Mais um ponto que se esperava acabou se confirmando: os Sharks foram intimidados pelo excesso de jogo físico dos Ducks, que levaram a série para casa com vantagem de 2-0.
O nome mais importante nisso tudo, de qualquer forma, foi o de Jonas Hiller e suas 77 defesas.
San Jose Sharks, o time de Dan Boyle e Rob Blake
Se existem dois caras que podem responder à altura ao tipo de jogo imposto pelos Ducks, esses dois são os defensores Dan Boyle e Rob Blake. Quando a série veio para Anaheim, comentei com alguns amigos que ela deveria voltar empatada a San Jose. Podemos dizer que o jogo 3 foi o primeiro jogo "normal" da série. Sem exageros, os Sharks dividiram bem seu jogo, ao invés de concentrá-lo em Thornton, Pavelski, Michalek, Mike Grier ou Travis Moen. Boyle e Blake se apresentaram ao ataque mais que de costume e foram os responsáveis por três dos quatro gols dos Sharks — dois de Boyle, um de Blake.
Ah, e lembra-se das críticas a Marleau por sumir em momentos decisivos? Foi dele o gol vencedor dos Sharks, quando o jogo estava em 3-3, durante power play. Aliás, os Sharks conseguiram dois gols em vantagem numérica. Os trancos foram constantes, principalmente por parte de Douglas Murray. Os Sharks finalmente apareceram como uma franquia realmente superior no gelo e venceream merecidamente.
Ironicamente, isso aconteceu exatamente na melhor partida do Anaheim na série até aqui. Os Sharks foram bem superiores, mas os Ducks foram bem também. Bobby Ryan, finalista do Troféu Calder, só para não perder o costume, esteve infernal, e James Wisniewski mostrou porque tem sido um dos principais jogadores do Anaheim pós Dia Limite de Trocas. Nem o esforço deles, em conjunto com Miller, Pronger e Sheldon Brookbank foi suficiente para parar os Sharks. É isso que se espera da série.
O jogo 3 mostrou uma evolução não de Sharks ou Ducks, mas da série em si. Esse vem sendo o melhor confronto do Oeste e, quem sabe, da pós-temporada até aqui. O jogo 4 deve indicar as diretrizes.
Até o presente momento vejo os Sharks como favoritos, mesmo perdendo a série por 2-1. Por tudo que apresentaram no jogo 3, devem empatar a série no jogo 4 e levar tudo equilibrado para casa, quando deve voltar a ser melhor no gelo e assumir de vez as rédeas. Mas com todos os fatores apresentados e com a forma física como vem jogando — e, claro, pela vantagem até aqui, os Ducks estão completamente de pé, fazendo frente ao rival de forma parelha.
Em três jogos, já tivemos duas reviravoltas. A única coisa que se pode dizer é que essa série vai ser mais longa e equilibrada do que se acreditava — e isso vale tanto para os que viam os Sharks como francos favoritos quanto para os que os consideravam eliminados após começarem perdendo a série em casa.
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![]() Douglas Murray e Dan Boyle, importantíssimos na reação dos Sharks no jogo 3. (21/04/2009) |
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![]() Patrick Marleau: finalmente uma atuação decisiva. (21/04/2009) |