E assim a arbitragem deu ao Pittsburgh Penguins mais uma vitória nestes playoffs. Desta vez, as malditas zebras tiveram a audácia de dar aos Flyers oito oportunidades de vantagem numérica. Simplesmente não foi justo. Não com Marc-André Fleury deslizando de um lado para o outro em sua área como se estivesse jogando hóquei dentro de uma bolha.
Os Flyers tiveram mais jogadores no gelo por cerca de 13 dos 60 minutos do jogo 4. Eles salpicaram Fleury com 16 de seus impressionantes 46 chutes a gol durante vantagens numpericas. E não conseguiram marcar em nenhuma de suas oito chances. Em nenhuma. "O goleiro ganhou o jogo para eles, disso tenho certeza", lamentou o central Jeff Carter, dos Flyers.
Mas a atuação estelar de Fleury não é o motivo por que os Flyers estão à beira de uma eliminação precoce nesta pós-temporada. Um goleiro em boa fase vai surgir e ganhar um jogo ou outro em qualquer série de playoffs. Fleury, que sofrera cinco gols apenas 48 horas antes, no jogo 3, ganhou o crédito por apenas esta vitória.
"Agora nós não temos mais nenhuma margem de erro",
decretou o técnico dos Flyers, John Stevens.
A realidade é que seu time já havia arranjado três maneiras de ficar sem margem de erro antes de Fleury roubar deles um jogo que, não fosse pelo goleiro, eles jogaram bem o bastante para vencer. Primeiro, os Flyers jogaram fora o mando de gelo com duas lamentáveis derrotas para os Rangers nos últimos jogos da temporada regular. Até uma derrota na prorrogação em qualquer um desses jogos teria valido o ponto que faltava para os Flyers receberem os Penguins em dois dos três jogos que restam nesta série. Se ganhar três jogos seguidos dos Penguins é um desafio grande como Derian Hatcher subindo nos ombros de Hal Gill, ganhar dois deles em Pittsburgh beira o impossível.
Aquele mero ponto não-ganho foi o primeiro dominó a cair na desconstrução dos Flyers. O segundo foi sua atuação apática no jogo 1. Depois da derrota de terça-feira, os Flyers falaram sobre "merecer um destino melhor" baseado em suas atuações. E há um quê de verdade nessa afirmação, apesar de gols não serem creditados a quem tem garra ou cria boas chances. "No fim do dia, se você marcar apenas um gol, vai ser difícil ganhar", lamentou Stevens. Se os Flyers tivessem jogado a primeira partida da mesma maneira que jogaram depois dela, está série poderia estar diferente.
Dar ao Pittsburgh o mando de gelo e a vitória no primeiro jogo já foi extremamente generoso. Mas não parou por aí: no jogo 2 os Flyers tinham vantagem de 2-1 no terceiro período. Carter estava com o disco na frente de um gol aberto e chutou, mas Fleury conseguiu colocar uma de suas pernas na frente. Se tivessem feito ali 3-1, os Flyers provavelmente teriam ido para casa empatados. Então esta foi a terceira maneira com que os Flyers tiraram de si mesmos qualquer margem de erro antes de Fleury apresentar seu inevitável jogo quase perfeito.
Os Flyers estavam certos ao não reclamar do primeiro gol dos Penguins no jogo 4. Foi uma daquelas jogadas em que cada vez que se assiste ao replay tem-se menos certeza do que aconteceu. A única coisa de que se tem certeza é que tudo começou com Kimmo Timonen perdendo o disco na linha azul logo no fim de uma daquelas vantagens numéricas dos Flyers. Matt Cooke, saído do banco de penalidades, deu o disco a Chris Kunitz na esquerda da zona dos Flyers. Kunitz disparou-o na direção da área adversária enquanto Sidney Crosby pressionava contra o gol. Crosby deslizou como um jogador de beisebol chegando à casa-base. O disco pareceu ter atingido a lâmina de seu taco, depois quicou em seu corpo e voou até o fundo do gol.
Crosby interferiu com Marty Biron? Ele carregou o disco para dentro do gol? Ele passou por baixo do tagdo receptor? O gol foi analisado pelos robôs de hóquei nunca vistos na Estrela da Morte da NHL, em Toronto. Ele foi mantido, mas a análise levou tempo o bastante para que se percebesse que foi difícil de se chegar a uma conclusão.
"Nós não colocamos o disco aos nossos pés e nos jogamos contra o gol, o que obviamente é permitido agora", reclamou Stevens. "A não ser por isso, acho que jagamos uma boa partida de hóquei." A frustração de Stevens — seu time deu 46 chutes a gol, mas marcou só uma vez, justamente com Dan Carcillo, enquanto os Penguins marcaram na jogada duvidosa de Crosby — era compreensível. Mas o técnico no final das contas reconheceu que a falta de gols foi o principal motivo desta derrota.
E os jogadores, incluindo Biron, praticamente não reclamaram da jogada. Eles entenderam a verdade. Eles competiram em três dos quatro jogos da série, ganharam um e perderam outro na prorrogação. Esta é uma série que os Flyers poderiam ter vencido e agora quase que certamente vão perder. "Talvez o goleiro deles não esteja tão quente na quinta-feira", torcia Timonen. Se ao menos os Flyers conseguissem esfriá-lo, teriam uma chance.