Por: Igor Veiga

Medalhistas de prata em Turim 2006, os finlandeses não chegaram a Vancouver como favoritos a repetir o feito. Na verdade, muito consideravam que um quinto lugar já estaria de bom tamanho. Afinal, com Rússia, Canadá e Suécia levando elencos fortíssimos para os Jogos, e com outras equipes de ponta deixando claro que levariam a sério o torneio, tudo levava a crer que desta vez a seleção de Koivu e cia. não teria muitas chances de levar uma medalha para casa.

Dos 23 jogadores do elenco de 2010, quinze fizeram parte da seleção de quatro anos antes, e apenas oito não jogavam em clubes da NHL. Como sempre acontece em convocações de grandes torneios, o técnico Jukka Jalonen acabou sendo questionado sobre os motivos que o fizeram deixar de fora jogadores como Jussi Jokinen, a mais controversa das ausências, Ville Leino e Tuukka Rask, por exemplo. Porém, lá estavam o capitão Saku Koivu, o mito e quase "quarentão" Teemu Selänne e os bons goleiros Miikka Kiprusoff, que ficou de fora do último torneio olímpico, Nicklas Backstrom e Antero Niittymaki, que quatro anos antes foi eleito o melhor de sua posição. Outras peças importantes como os irmãos Ruutu, os atacantes Oli Jokinen e Valtteri Filppula, e os defensores Kimmo Timonen e Sami Salo também carregariam a responsabilidade de honrar a camisa de uma da mais tradicionais equipes do hóquei mundial.

Pela frente, no Crupo C do torneio, a Finlândia teria que encarar Bielorrússia, Alemanha, e a arquirrival Suécia. Portanto, o objetivo inicial de ficar com uma das quatro vagas que garantiria a passagem direta para as quartas-de-final não estava tão longe de ser alcançado, uma vez que apenas um adversário na fase de grupos era capaz de arrancar pontos e piorar o saldo de gols do elenco azul e branco. Logo na estreia, uma goleada sobre os Bielorrussos por 5-1, com dois gols de Niklas Hagman, o grande destaque daquela partida. Kiprusoff praticamente não trabalhou, defendendo 11 dos 12 chutes contra o seu gol, enquanto o ataque finlandês desferiu 45 chutes contra o gol do bielorrusso Vitali Koval. A partida seguinte, contra a Alemanha, não foi diferente. Novamente a Finlândia dominou o jogo inteiro, fazendo prevalecer o talento de seus jogadores frente aos alemães. O time de vantagem numérica, que na partida anterior havia marcado dois gols, desta vez saiu do gelo com quatro gols! Três gols foram marcados por defensores, Kimmo Timonen (2) e Joni Pitkanen, enquanto cada um dos irmãos Ruutu saíram do gelo com um gol cada. Niklas Backstrom foi o goleiro naquela partida, ficando com um shutout após fazer 24 defesas. No final, 5-0 para a Finlândia.

Mas o grande destaque daquele jogo e merecedor deste parágrafo foi o momento especial protagonizado por um dos maiores ídolos do hóquei finlandês e mundial, o "Finnish Flash" Teemu Selanne. Quando fez uma assistência para o segundo gol de Timonen, o terceiro dos finlandeses na partida, Selanne tornou-se o recordista olímpico em pontos de todos os tempos. Aquele foi o seu 37º ponto em Olimpíadas (20 gols, 17 assistências), contando as cinco edições em que ele esteve presente desde 1992. "Não sou um cara de grandes números, especialmente enquanto ainda estou jogando, mas talvez um dia eu olhe para trás," disse Selanne após a partida. "Venho jogando há um bom tempo, e com grandes jogadores que me ajudaram a tornar isso possível. É uma grande honra." Dessa forma, ele deixou para trás Valeri Kharlamov, da Rússia, Vlastimil Bubnik, da ex-Tchecoslováquia, e Watson Harry, do Canadá.

A próxima partida seria o verdadeiro teste para o elenco finlandês. Encarar a rival Suécia de Lidstrom, Alfredsson, Henrik e Daniel Sedin, Forsberg e do grande goleiro Henrik Lundqvist não seria tarefa fácil. E realmente não foi... Lundqvist fechou o gol, enquanto Kiprusoff, que até jogou bem, teve que engolir três gols dos adversários, que dominaram o jogo inteiro, principalmente a primeira meia hora de jogo. Para piorar o panorama, numa jogada de péssimo gosto, Joni Pitkanen acertou uma cotovelada na cabeça do sueco Patric Hornqvist, no final do segundo período, e acabou tomando um jogo de suspensão. Mesmo com a derrota, os finlandeses conseguiram garantir uma das quatro vagas diretas para as quartas-de-final, como o melhor segundo colocado, deixando para trás seleções como o Canadá e a República Tcheca.

Após os confrontos da repescagem e já sabendo que teriam que enfrentar nas quartas-de-final a República Tcheca do mito Jaromir Jagr, muitas desconfianças pairavam sobre o elenco finlandês. Afinal, , quando testados, o ataque foi incapaz de fazer um gol, mesmo tendo seis oportunidades de vantagem numérica, enquanto a defesa mostrou uma certa fragilidade. Algumas figuras importantes como Selanne, Koivu, mesmo tendo marcado alguns pontos, ainda estavam devendo muito. Oli Jokinen, então, era um jogador que só se tinha conhecimento quando o seu nome aparecia nos caracteres da transmissão da televisão canadense... Poucos jogadores, como Hagman e Sami Salo, por exemplo, mostraram alguma coisa até ali. Veio a partida contra os tchecos e, após um jogo muito tenso, em que o primeiro gol só saiu aos 13min34s do terceiro período, com um gol em vantagem numérica de Niklas Hagman, Kiprusoff  parou os tchecos e saiu do gelo com o seu primeiro shutout no torneio. A Finlândia venceu por 2-0 uma República Tcheca  que vinha um pouco cansada, após brigar muito com a Letônia pela vaga nas quartas. E aplausos para o mito Jagr, que mesmo machucado foi ao gelo defender o seu país.

E não é que os finlandeses chegaram às semifinais, e pela segunda vez seguida disputariam uma medalha olímpica? A combinação de resultados da primeira fase acabou sendo prejudicial a algumas seleções favoritas ao ouro, como Suécia e Rússia, e favorável à Finlândia, é verdade. Mas torneios mata-mata são assim... E, se muitos queriam que a justiça fosse feita, ela veio logo nos primeiros 13 minutos das semifinais, quando os EUA abriram 6-0 no placar. Kiprusoff sofreu quatro gols em sete chutes e, com pouco mais de dez minutos, acabou sendo substituído por Nicklas Backstrom, que também não conseguiu milagres. Ryan Miller e cia. jogaram muito e só deixaram os finlandeses respirar quando já estavam com a vitória garantida. O placar final ficou em 6-1 para os EUA. Um verdadeiro massacre em Vancouver, talvez só não tão surpreendente quanto à vitória canadense sobre a Rússia nas quartas-de-final. E todos perguntavam: "Onde está o Jokinen?"

A verdade é que o time da Finlândia deste ano não tinha cacife para disputar uma final olímpica. E um bronze já poderia ser considerada uma grande vitória para aquele grupo de jogadores. E, na  melhor partida que fizeram no torneio, os finlandeses venceram a surpresa Eslováquia por 5-3, quando finalmente Oli Jokinen mostrou porque é dos jogadores mais badalados da atualidade. Seus dois gols vieram na hora certa, num jogo que os eslovacos venciam por 3-1 até os cinco minutos do terceiro período. Foi aí que a Finlândia acordou pro jogo (e os eslovacos dormiram...). Foram três gols em pouco menos de quatro minutos. Jokinen foi mais do que decisivo, empatando o jogo e, dois minutos depois, virando o placar para os finlandeses. Com os eslovacos em estado de choque, à Finlândia só restou garantir o placar e, em rede vazia, fechar um jogo em que mais uma vez seu time de vantagem numérica brilhou, com três gols.

Uma medalha merecida pelo conjunto da obra de jogadores como Teemu Selanne, que ganhou sua terceira medalha olímpica, e Saku Koivu, que agora também faz parte do seleto grupo de recordistas de medalhas olímpicas no torneio masculino de hóquei, com quatro medalhas (ele foi prata em 2006 e bronze em 1994 e 1998). Sortudos são os torcedores dos Ducks, que podem ver os dois juntos defendendo o seu time... Entre os destaques da Finlândia nos Jogos de Inverno estão Niklas Hagman, que marcou quatro gols e duas assistências nas quatro partidas que disputou no torneio, Miikka Kiprusoff, que, apesar da má fase nos Flames, foi muito bem em Vancouver, e os defensores da primeira linha Sami Salo e Kimmo Timonen. E para quem acha surpreendente a medalha finlandesa, é bom lembrar que das últimas sete edições das Olimpíadas de Inverno, em apenas duas a Finlândia ficou de fora do pódio.

O elenco da Finlândia nos Jogos de Vancouver 2010 você pode conferir aqui.

Igor Veiga torce pela Finlândia no hóquei internacional e ficou muito feliz em poder novamente assistir a uma partida (na verdade, várias!) de hóquei no gelo na televisão da sala.
Vancouver2010.com
Apesar de todas as dúvidas e desconfianças, os finlandeses subiram ao pódio mais uma vez.
(27/02/2010)

Vancouver2010.com
Teemu Selanne entrou para história do hóquei olímpico, ao tornar-se recordista em pontos na história do torneio.
(27/02/2010)

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O capitão Saku Koivu não ficou atrás do seu colega de Ducks e agora faz parte da lista dos maiores medalhistas olímpicos no hóquei masculino.
(27/02/2010)

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Oli Jokinen: apagado durante o torneio, mas decisivo no momento em que sua equipe mais precisou.
(27/02/2010)

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Miikka Kiprusoff encarou o desafio e liderou os finlandeses na caminhada rumo ao bronze.
(27/02/2010)

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Página publicada em 5 de março de 2010.