Por: Dejan Kovacevic

Às 17h15, horário de Brasília, do domingo o disco iria cair entre as seleções dos Estados Unidos e do Canadá, no que pode ser a última final olímpica com o talento da NHL. A liga ainda não decidiu se participará dos jogos de Sochi, na Rússia, em 2014, com o comissário Gary Bettman falando, no início destas olimpíadas de inverno, que "há muit tempo" para se chegar a um acordo e sugerindo que ele pode esperar um bocado.

A pergunta que a liga tem pela frente é simples: por que ir?

Se for para aumentar a exposição de um esporte cujos índices de audiência nos Estados Unidos continuam abaixo dos índices do pôquer, então a liga deve mesmo considerar as decisões tomadas pela rede de televisão norte-americana NBC durante estas olimpíadas. A NBC transmitiu exatamente um jogo completo antes da final, a vitória dos Estados Unidos nas semifinais sobre a Finlândia, na sexta-feira. A decisão mais questionada foi a de transmitir as eliminatórias da dança no gelo no domingo retrasado, ao invés da surpreendente vitória norte-americana sobre os anfitriões canadenses por 5-3. A hóquei foi relegado à emissora de notícias a cabo da NBC, a MSNBC, onde alcançou o maior índice de audiência de qualquer programa na história daquele canal, a não ser pelas últimas eleições nos Estados Unidos.

Pode ser que as críticas que a NBC sofreu por isso tenham sido o único motivo por que ela transmitiu o jogo contra a Finlândia. Ou pode ser que a NBC não tenha visto nada de errado com sua escolha, já que qualquer forma de patinação artística geralmente dá uma boa audiência. De qualquer jeito, a principal razão por que a NHL deveria estar em Vancouver foi evidente naquela noite: foi hóquei em seus melhores momentos, com os Estados Unidos no gelo, uma chance de ouro para mostrar o esporte aos telespectadores de cidades que não têm a NHL, de Orlando a Omaha.

E estava passando na TV a cabo.

Bettman destacou que Sochi está "oito fusos horários distante do fuso da costa leste norte-americana" como uma preocupação a respeito das transmissões do hóquei olímpico em 2014, mas a pergunta mais pertinente parece ser: se a NBC não se preocupou em transmitir um jogo entre Estados Unidos e Canadá num horário nobre de domingo, em favor de uma dança no gelo que não valia medalha, o que faz alguém na NHL pensar que ela se preocupará em transmitir qualquer jogo de hóquei no gelo em Sochi?

Então, de novo, por que ir?

Para aumentar a média de público? Esse não é um grande problema na maioria das cidades que têm um time na liga, e nem os índices de audiência locais. Pesquisas — e o faturamento — mostram que as cidades que têm hóquei o amam, e as cidades que não têm mal sabem que ele existe.

Para fazer crescer o esporte?

Isso também parece estar acontecendo sozinho: os cadastros amadores na federação norte-americana nunca foram tantos, rinques estão surgindo ao longo do sul e lugares como Pittsburgh já não causam surpresa quando produzem uma escolha no recrutamento da NHL.

Para agradar aos jogadores?

Esta, na verdade, é a resposta mais provável. De estrelas como Sidney Crosby e Alexander Ovechkin aos jogadores de quarta linha, o apoio entre os jogadores em favor da participação é virtualmente unânime. E é por isso que a Associação de Jogadores da NHL apoia com força o bastante para considerar essa participação um item de negociação para o próximo acordo coletivo de trabalho. Isso, claro, depõe a favor dos jogadores: eles não foram pagos para ir a Vancouver, arriscam contusões que lhes custariam milhões mais para a frente, e o fazem quase que exclusivamente porque saboreiam — não, eles agarram — a oportunidade de representar seus países no maior evento esportivo do mundo.

Mas como isso ajuda a NHL?

O comprometimento dos jogadores agrada aquelas pessoas que já gostam do esporte e desses jogadores, mas como isso faz crescer o esporte se essas são as únicas pessoas assistindo? Se esses jogadores, técnicos e dirigentes em Vancouver têm um interesse genuíno em usar os jogos olímpicos para aumentar o alcance da NHL, então por que tantos deles propositalmente ignoraram um contingente de representantes da imprensa maior e mais heterogêneo do que qualquer um que veriam em um evento da liga?

Depois dos dois últimos jogos dos norte-americanos antes da final, o técnico Ron Wilson ordenou que seus jogadores evitassem a área para entrevistas à imprensa, por causa de reuniões de elenco. Depois de vitórias. Quando o tempo médio para entrevistas não é maior do que 10 ou 15 minutos. Alguns jogadores voltaram para ser entrevistados, mas não todos. E esse é o time representando o lugar onde a NHL precisa crescer.

Depois de quase todos os jogos da Rússia, a maioria dos jogadores passou lotada pela imprensa ser dar satisfações. Evgeni Malkin e Sergei Gonchar, dos Penguins, vinham sendo cooperativos na maior parte do tempo, mas mesmo eles passaram sem dar entrevistas após a eliminação na quarta-feira passada. E esse são muitos dos mesmos russos que pediram publicamente a Bettman para deixá-los ir a Sochi. Gonchar, em particular, tinha dito em uma entrevista que a NHL deve à Rússia tal autorização, por causa de "tudo que os russos fizeram pela NHL por muito tempo". Bem, aqui os russos não fizeram nenhum favor à NHL.

Para ser claro, a NHL não tem controle algum sobre a interação entre jogadores e imprensa durante as olimpíadas, ao contrário do que ocorre nos locais onde a liga é disputada. Isso fica a cargo de cada confederação nacional. Mas talvez isso suscite o argumento dominante nesta discussão: a NHL precisa de um maior controle. Acredita-se que a liga esteja brincando de gato-e-rato na questão sobre a participação em Sochi porque quer saber quão frequentemente estará na televisão, e quando e em que canal da NBC. Ela quer saber como pode se beneficiar do acordo, que, do ponto de vista financeiro, atualmente não lhe traz nada de vantagem.

Os donos de times em sua maioria opõem-se à participação em Sochi, e Bettman responde a eles. Ted Leonsis, dono do Washington Capitals, escreveu em seu blog há duas semanas: "A NHL forneceu mais de US$ 2 bilhões em contratos garantidos, em termos de jogadores nas olimpíadas. Os Capitals forneceram, em nossos seis jogadores, mais de US$ 200 milhões em talento. (…) Eu amo os jogos olímpicos, mas não temos aqui uma troca justa de valores. Pelo que vejo, o Comitê Olímpico é mais importante que governos, ligas, forças policiais, times individuais, atletas e até religiões. Eles estão com o controle total." Ao mesmo tempo, Ovechkin tem falado abertamente que ele abandonaria os Capitals no meio da temporada para jogar em sua Rússia nativa se a NHL não comparecer em massa.

Isso é que é falta de controle.

Dejan Kovacevic escreve para o jornal Pittsburgh Post-Gazette. O artigo original foi traduzido por Alexandre Giesbrecht.
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Página publicada em 4 de março de 2010.