A grande dúvida que muitos tinham quanto ao Detroit Red Wings era sobre
qual time estaria no gelo nesta série contra o Calgary Flames. Não quanto
à formação, elenco, não. Quanto ao espírito do time. Seria o mesmo das
últimas três decepcionantes eliminações precoces ou seria um time com
uma cara nova, com vontade, determinação e empenho incessantes?
Passados três jogos da série ainda não há uma resposta definitiva. Ou
melhor, até há: é algo intermediário. Se não é um time com aquela raça
que caracteriza um time batalhador e de sucesso em playoffs —
como o Edmonton Oilers do ano passado, ainda que não tenha sido campeão
—, é verdade que o time está longe daquela apatia e falta de sangue
demonstrados nas últimas eliminações.
Se o jogo 1 foi completamente desequilibrado, com os Wings mandando
e desmandando no jogo, o jogo 3 já foi bem diferente, mas não o inverso.
Foi uma partida equilibrada.
Discordo dos analistas que identificaram uma disparidade ainda maior
em favor dos Wings no segundo jogo do que no primeiro. Talvez digam
isso em função do diferencial ainda maior de disparos a gol, mas isso
não reflete o jogo — historicamente os Wings chutam a gol de tudo
quanto é maneira.
No jogo 1 pode-se dizer que simplesmente mal houve momentos de grande
pressão dos Flames no ataque. No jogo 2 eles já melhoraram nesse aspecto,
chegando a equilibrar a partida em alguns momentos, mas sem poder de
conclusão, sem finalizar as jogadas em que conseguiam alguma forma de
pressão.
Já no jogo 3, com a ressalva de que só assisti a partir do final do
primeiro período, o equilíbrio foi predominante. Eu não vi como foi
o desperdício de quatro inteiros minutos de VN por parte dos Wings no
primeiro período, mas nem precisaria ver: li que eles sequer chutaram
a gol durante todo aquele tempo. Precisa dizer mais alguma coisa?
Aliás, até o momento eu vejo dois fatores diferenciais na série, que
a levaram até o placar atual de 2-1 para os Wings: a péssima apresentação
dos Flames nos dois primeiros jogos e a deficiência do time de vantagem
numérica (VN) dos Wings.
Você eventualmente haverá de perguntar: "Deficiência do time de vantagem
numérica dos Wings?!" Sim, exatamente isso. Não é porque o time marcou
dois gols nessa situação que podemos concluir que está satisfatória.
Porque não está. Os Flames entregaram o jogo 2 logo no começo, quando
tomaram várias penalidades consecutivas, ficando praticamente uns dez
minutos apenas matando penalidades — inclusive com desvantagem
de dois homens algumas vezes. Durante todo aquele tempo em que se alternavam
jogadores dos Flames no banco de penalidades, o time de VN dos Wings
marcou apenas um gol. Dizer que "ao menos marcou um" é pensar pequeno
diante do oceano de oportunidades que surgiam.
Cansei de ver o disco rolar de taco em taco, apenas para serem disparados
de longe, sempre por Nicklas Lidstrom e Mathieu Schneider. Estivesse
em vantagem de um ou dois homens, essa era a saída principal. E não
há dúvidas, eles chutavam várias vezes. E bem, como ótimos jogadores
que são. Mas é pouco, como se mostrou no fim das contas.
Isso facilita sobretudo o ótimo time de matar penalidades dos Flames,
que já sabe que o disco irá para um dos dois bater. Aliás, como ambos
os defensores são canhotos, quando um está no ponto ideal para bater,
o outro não está — ou seja, até nisso o trabalho dos Flames é
facilitado. Raras foram as vezes em que Pavel Datsyk ou Henrik Zetterberg
tentaram bater de mais perto, ao lado do gol, ou ainda cruzar um disco
em direção ao gol para o sempre atarefado Tomas Holmstrom tentar cavar
um gol.
E isso falando apenas da linha principal de VN do time. A segunda linha,
a de Robert Lang, inexiste — com ou sem vantagem numérica, embora
eu discorde de parte dos analistas e entenda que ele tem feito um bom
trabalho defensivo.
Se o time de VN dos Wings não pune devidamente os Flames, o mesmo não
se pode dizer do time de VN dos Flames em relação aos Wings. Porque
eles converteram suas chances nos três jogos e duas vezes no jogo 3.
E mais: neste último caso com relativa facilidade.
Um conjunto de fatores mudou nos Flames para o jogo 3. Seja isso resultado
de trabalho do treinador, dias melhores na vida de cada um ou um espírito
diferente quando jogam em casa, o fato é que eles entraram no gelo na
Saddledome com outra disposição. Não permitiam que os Wings jogassem
livremente, não cometeram penalidades a esmo, alvejaram Todd Bertuzzi
toda vez que ele aparecia no gelo (foi a estréia do jogador nesses playoffs
e ele esteve um pouco acima do apagado) e sobretudo marcaram muito e
bem os Wings, inclusive forçando mais os defensores a passarem o disco
mais rapidamente.
A disposição dos Wings? Relativamente a mesma, mas chutaram bem menos
a gol — em parte como resultado da melhor marcação dos Flames
— e tiveram bem menos oportunidades reais de gol. E, claro, mantiveram
a ineficiência da VN.
Melhorar o time de VN é algo que se consegue com um bom treinamento
entre as partidas. Até porque eu duvido que os Flames retornem ao branco
em que estiveram nos dois primeiros jogos. É até possível que mantenham
o histórico da temporada e joguem mal fora de casa, mas daí a atuar
daquela forma pavorosa vai uma longa distância.
Todos adoram números na NHL e, ainda no jogo 2, a CBC nos informava
sobre quantas poucas vezes um time que sai perdendo a série de 0-2 consegue
virar. Esse histórico vale muito pouco para os Wings. Eu me lembro de
pelo menos duas ocasiões recentes (contra Avs e Kings) em que eles abriram
2-0 na série apenas para perderem todos os jogos seguintes. Esta contra
os Flames é para seis ou sete jogos e, no momento, ela está equilibrada.
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Jeff McIntosh/AP |
Captura The Slot.com.br Você sabia que o momento inesquecível de playoffs para Sidney Crosby é aquele clássico gol de Steve Yzerman contra o St Louis Blues na prorrogação do jogo 7 da série em 1996? Num intervalo do jogo 3 a CBC entrevistou Yzerman ao vivo e colocou um vídeo do craque dos Pens falando daquele gol. |