Por: Humberto Fernandes

A verdadeira temporada do hóquei no gelo começou na última semana, com a abertura dos playoffs. Dezesseis equipes competindo pelo mais imponente troféu de todo o mundo, a Copa Stanley.

No entanto, os confrontos seriam outros, não houvesse a chatice chamada disputa de pênaltis. Com o formato anterior de classificação, existindo empate ao fim da prorrogação, os confrontos na Conferência Leste seriam, em ordem de classificação: Ottawa x NY Rangers, New Jersey x Toronto, Atlanta x Carolina e Buffalo x Pittsburgh. Logo, os Senators teriam a primeira posição enquanto Maple Leafs e Hurricanes se classificariam aos playoffs, enquanto Tampa Bay Lightning e NY Islanders estariam jogando golfe a essa altura.

Na Conferência Oeste a única diferença seria a inversão no mando de gelo entre San Jose Sharks e Nashville Predators. O Detroit Red Wings venceria o Troféu dos Presidentes, em vez dos Sabres.

O pior é que existe gente da mídia (leia-se a mal comida Kara Yorio) querendo importar a disputa de pênaltis para decidir jogos na pós-temporada, o que acabaria com o momento máximo do hóquei no gelo: a prorrogação nos playoffs. Os verdadeiros fãs sequer pensam na hipótese e até mesmo a anta do comissário Gary Bettman descartou a idéia.

Comentários gerais sobre algumas séries

Sabres x Islanders

A única dúvida para a equipe de TheSlot.com.br era saber em quantos jogos os Sabres eliminariam os Islanders. A primeira partida desenhou uma varrida, para alegria de seis dos dez participantes do palpitão. Mas Rick DiPietro surpreendeu a todos retornando no segundo jogo, garantindo a vitória com 32 defesas. No jogo 3, os Islanders dificultaram a vida do Buffalo, mas o péssimo terceiro período impediu o eventual empate.

Os Sabres voam no gelo. Esse time é mesmo incrível e os Islanders podem se orgulhar pela partida vencida e pelo retorno de DiPietro, que provou estar totalmente recuperado e fez ótimas atuações. O mesmo não pode se dizer do capitão Alexei Yashin. O amarelão russo atuou por 30 minutos ao todo, somando os três jogos — a título de comparação, Ryan Smyth jogou 67 minutos, Jason Blake 52 e até Arron Asham 33.

Parece comum o "apagão" dos russos nos playoffs, vide exemplos recentes — e repetitivos — de Sergei Fedorov e Pavel Datsyuk, por exemplo. O caso de Yashin é mais grave: ele não faz nada também na temporada regular e tem contrato de US$ 7,6 milhões até a longínqua temporada de 2010-11.

Devils x Lightning

A série em que havia o maior abismo entre o nível dos goleiros está sendo realmente decidida pelas atuações dos homens por trás da máscara. No entanto, à exceção do primeiro jogo, Johan Holmqvist é o melhor até aqui.

O trio de ases, Vincent Lecavalier, Martin St. Louis e Brad Richards, se divertiu bastante, marcando sete dos nove gols da equipe na série, contra o temido goleiro Martin Brodeur, que teoricamente garantiria as vitórias dos Devils. Brodeur, pelo contrário, falhou em pelo menos dois gols, um no jogo 2 e outro no jogo 3.

Não fosse a péssima atuação de Holmqvist na primeira partida, a série já estaria decidida a favor do sétimo colocado. E nos últimos nove anos sempre houve eliminação do segundo colocado na primeira rodada, por seis vezes na Conferência Leste.

Os Devils já foram longe demais e eles mereciam muito menos do que isso. O esquema de jogo cretino da equipe não funcionou contra o Tampa Bay na temporada regular e não tem funcionado nos playoffs após três jogos. E esse time é tão chato que a torcida sequer nos playoffs lotou a arena. Os Devils ainda não fizeram uma partida com casa cheia em toda a temporada — e talvez nem façam, por culpa de Lecavalier.

Thrashers x Rangers

Essa série é a cereja no chantilly para atrevidos a comentaristas, como eu. Então vamos lá.

Primeiro jogo: Rangers dominam as ações, chutam 38 vezes e marcam quatro gols em Kari Lehtonen, vencendo por 4-3 ao final dos 60 minutos. Vem o segundo jogo e o que o treinador Bob Hartley faz? Barra Lehtonen, escalando o goleiro reserva, Johan Hedberg. E o que acontece? Os Rangers dominam e vencem novamente, chutando 39 vezes e marcando dois gols. E como fica Hartley? Com cara de bobo, nariz de palhaço, feito otário.

É incompreensível substituir o goleiro após uma única partida, ainda mais quando o time não ajuda. Porque o que Hartley conseguiu ao fim do segundo jogar é deixar a mensagem de que não importa quem fosse o goleiro ou o que os Thrashers fizessem, eles perderiam os jogos.

Os Thrashers não perderam o primeiro jogo por culpa de Lehtonen e também não perderam o segundo por falha de Hedberg. Hartley se precipitou e deixou a equipe em situação desfavorável mentalmente na série. E quem acompanha o hóquei sabe que nesse esporte o fator psicológico é decisivo.

Após o segundo jogo Hartley justificou sua escolha, dizendo que durante toda a temporada os Thrashers revezaram seus goleiros e que nos playoffs não seria diferente, e ainda ressaltou a qualidade de ambos. Não existe revezamento de goleiros em playoffs, isso nunca funcionou.

Para o jogo 3 Harley optou por Lehtonen, no melhor estilo Carlos Alberto Parreira de teimosia. E os Thrashers levaram ferro, porque no primeiro chute já perdiam o jogo. No começo do terceiro período, levando uma sacolada, o Atlanta viu Ilya Kovalchuk perder a cabeça e partir pra briga. Quando o seu melhor jogador faz isso, não há mais salvação e o fracasso é inevitável.

Red Wings x Flames

O retrato dos Red Wings nos playoffs: dos dez membros de TheSlot.com.br que palpitaram na edição passada, apenas dois apostaram nos Flames: dois torcedores do Detroit. Tamanha descrença vem dos anos de fiascos acumulados recentemente.

Então os Red Wings decidiram provar que não são amarelões e que sabem se impor fisicamente. Venceram o jogo 1, onde massacraram o Calgary do começo ao fim. Com menos de dez minutos já venciam por 2-0, metralharam Miikka Kiprusoff a noite toda e distribuíram trancos. Repetiram a dose no segundo jogo, ainda mais ofensivos. Kiprusoff viu 97 chutes em duas partidas, um número absurdo.

Em Calgary todo mundo sabia que seria diferente, principalmente porque os Red Wings entraram diferentes no gelo. Mike Babcock promoveu o retorno de Todd Bertuzzi, como deveria mesmo fazer, mas mexeu na linha mais quente do time, formada por Jiri Hudler, Valtteri Filppula e Johan Franzen, sacando Hudler. Consequência: o trio que surpreendia o Calgary pela velocidade e entrosamento e que marcou gol nos dois jogos foi quebrado. O Detroit, que chutava a gol a todo momento, deixou de chutar. E os Flames venceram de virada e voltaram para a disputa da série.

Dois momentos cruciais no jogo 3: no começo do primeiro período, os Red Wings tiveram seis minutos de vantagem numérica praticamente ininterruptos e não aproveitaram. Tivesse marcado um gol naquele momento os Flames se desesperariam; no primeiro minuto do terceiro período, com o jogo empatado em 1-1, Dan Cleary derrubou Dion Phaneuf com um dos trancos mais lindos que eu já vi. Mesmo sem capacete, Cleary pegou o disco e passou para Kris Draper marcar.

Com 2-0 na série, à frente no placar no terceiro período, após marcar um gol de pura raça e tirando o melhor defensor do adversário por alguns minutos da partida. Não é motivação suficiente para jamais olhar para trás e vencer a partida? Para o Detroit não. Curiosamente, Mark Giordano, ocupando o lugar de Phaneuf no time de vantagem numérica, empatou a partida quatro minutos depois. E coube ao capitão Jarome Iginla, tão questionado nos dois primeiros jogos, a honra de marcar o gol da vitória, em chute que Kiprusoff pegaria, mas que Dominik Hasek não pegou.

E assim os Flames estão vivos na série em que os Red Wings tiveram todas as oportunidades de matar em três partidas. E eu mantenho meu palpite: Calgary em seis.

Ducks x Wild

Até mesmo quando perdem um jogo, os Ducks se dão bem. Essa é a famosa "sorte de campeão".

Após Ilya Bryzgalov sofrer quatro gols no jogo 4, o treinador Randy Carlyle terá motivo para promover o retorno do titular Jean-Sebastien Giguere, que durante os três primeiros jogos da série esquentou o banco de reservas.

O recém-nascido filho de Giguere, Maxime (4 de abril), veio ao mundo com uma anomalia que poderia deixá-lo cego. O garoto não tem visão no olho direito, mas felizmente um especialista garantiu que o olho esquerdo tem visão. Abalado emocionalmente, Giguere foi deixado no banco porque essa era a melhor opção. E aí Bryzgalov não deu motivos para que Carlyle o retirasse do gol. O russo defendeu quase 95% dos chutes até o jogo 3.

O que os Ducks têm que nenhum outro time nos playoffs tem: Chris Pronger ou Scott Niedermayer no gelo por toda a noite. Os defensores atuam em linhas diferentes na maior parte do tempo e aí o exercício consiste em somar o tempo de gelo de cada um deles. Os valores encontrados variam entre 54 e 59 minutos. Ou seja, sobram cinco minutos (ou menos) para os adversários marcarem gols.

Canucks x Stars

Marty Turco entrou nos playoffs com quatro derrotas seguidas na prorrogação. E no primeiro jogo em Vancouver, prorrogação. Não uma, mas quatro. O sexto jogo mais longo da história da NHL terminou com gol de Henrik Sedin após 138 minutos de ação. A sina de Turco continuaria.

Vancouver e Dallas fizeram mais gols no jogo 1 do que nos três jogos seguintes. Após a épica batalha os Stars perceberam que poderiam derrotar os Canucks e na verdade estiveram a um chute disso, porém Roberto Luongo sempre o defendia. Turco roubou o jogo 2 ao conseguir um shutout, com a ajuda dos seus companheiros que marcaram gols no começo do primeiro e do segundo períodos. Ou seja, fizeram os Canucks correrem atrás a noite toda.

No jogo 3, nova prorrogação e vitória dos Canucks. Os Stars perderam nove das últimas dez prorrogações em playoffs, sendo seis consecutivas, todas com Turco no gol. O goleiro fez grande partida, mas não o suficiente para vencer. E a série dos placares baixos teve outro 2-1 no jogo 4.

Seis dos oito jogos entre as equipes, considerando temporada regular e playoffs, terminaram com vitória por 2-1.

Após quatro jogos, os cinco maiores goleadores do Dallas na temporada, Jere Lehtinen, Mike Modano, Philippe Boucher, Mike Ribeiro e Niklas Hagman, ainda não marcaram gols. Nessa eliminação Turco será perdoado.

Humberto Fernandes recomenda a leitura dos blog da família Kfouri: do pai Juca e do filho André.
Bruce Bennett/Getty Images
O poder de fogo do Buffalo Sabres tem superado o esforço do New York Islanders.
(16/04/2007)
Doug Benc/Getty Images
O trio de ases do Tampa Bay Lightning tem tirado o sono do até então invencível goleiro Martin Brodeur.
(16/04/2007)
Bruce Bennett/Getty Images
Não importa quem a ocupe, a rede do Atlanta Thrashers parece vazia, como a cabeça do técnico Bob Hartley.
(17/04/2007)
Tim Smith/Getty Images
A belíssima arena do Calgary Flames lotada para empurrar o time. Eu garanto que os Red Wings prefeririam jogar no Iraque.
(17/04/2007)
Chris Carlson/AP
Jean-Sebastien Giguere foi deixado no banco de reservas graças ao problema de saúde de seu filho recém-nascido. Agora chegou a hora de assumir o gol do Anaheim Ducks.
(13/04/2007)
Ronald Martinez/Getty Images
Marty Turco tem feito malabarismos, mas nós cansamos de escrever em TheSlot.com.br que o grande problema do Dallas Stars era o ataque.
(17/04/2007)
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Página publicada em 18 de abril de 2007.