Por: Eduardo Costa

Muitos apostaram que a série entre San Jose Sharks e Nashville Predators seria a mais intensa e brutal dessas quartas-de-final de conferência. Os resquícios da inimizade herdada nos playoffs de 2006, somados com a qualidade do elenco atual de ambas as franquias e a ótima campanha feita por eles nessa temporada, justificariam essa previsão.

Após os os "rounds" iniciais desse embate, essa aposta vem se transformando em certeza.

Os dois primeiros jogos no Tennessee foram impetuosos e polêmicos. Dois atletas dos Sharks conheceram intimamente o gelo do Gaylord Entertainment Center enquanto se contorciam de dor. Isso deu início à trocas de acusações entre os treinadores. Ron Wilson acredita ferozmente que Barry Trotz venha usando violência como estratagema. Já Barry Trotz, cuja estância em Nashville pode ter um fim caso não vença essa série, também usou a mídia para expor seu desagrado com o comportamento de Wilson e seus comandados. Já a TheSlot.com.br poderia agir como uma publicação paladina da paz, mas nada disso. Não somos tão nobres. Tal como um abutre sem escrúpulos, torcemos para que essa desarmonia dure longos e memoráveis sete jogos. Vamos então a uma brevíssima análise das contendas já realizadas.

Jogo 1: Decisão em duas prorrogações confirma o prognóstico

Todos os ingredientes que fazem da pós-temporada da NHL uma competição à parte, sem iguais no cenário esportivo, estiveram presentes nesse jogo. Com os times se alternando no comando da partida e o marcador mostrando um empate de 2-2 no meio do segundo período, Scott Hartnell colidiu, joelho com joelho, com Jonathan Cheechoo. Enquanto o homem-gol dos Sharks lidava com suas mazelas, Hartnell recebia uma penalidade de cinco minutos e era expulso da partida. Foi a senha para o início do ardil. A partir desse lance, cada tranco passou a carregar uma porcentagem maior de malícia, cada palavra trocada entre os adversários passou a conter um grau maior de cólera.

Enquanto tentava aniquilar a vantagem numérica de cinco minutos, o defensor Greg Zanon fez o desfavor de cometer uma interferência que deu ao time da Califórnia uma vantagem de dois homens no gelo. O ex-Habitant Craig Rivet capitalizou. Ainda no segundo período Milan Michalek mostrou toda sua classe e marcou o quarto de sua equipe. Michalek foi um dos motivos pelo qual me inclinei a favor dos Sharks na edição com os palpites das séries iniciais desses playoffs. O tcheco deixou de ser uma promessa, e silenciosamente vem se transformando em um atleta de impacto na liga. Nos 16 últimos jogos, incluindo pós-temporada, somou 22 pontos. Mas parece que os Preds não sabiam dessa seqüência positiva e deixaram Michalek sozinho diante de Vokoun.

A vantagem de dois gols durou até os 13 minutos do período final. Aí começaria a aparecer a figura hábil e astuta de Alexander Radulov. O jovem russo recebeu o disco em sua zona de defesa, engatou a quinta marcha e em poucos segundos transformou Kyle McLaren em um qualquer, com uma finta humilhante e depois empalou o cazaqui Evgeni Nabokov. Gostaria de descrever a beleza do gol de Radulov, mas seria como colocar no papel a sensação de alguns goles de uma autêntica Stolichnaya. É impossível. Mas temos um bom amigo que pode nos ajudar. O glorioso Youtube tem os melhores momentos dessa partida, inclusive essa traquinagem do russo.

Esse gol deu aos Preds a crença necessária para buscar o empate. Que viria nos últimos segundos.

Shea Weber soltou o braço e o disco desviou em seu companheiro J.P. Dumont para vencer Nabokov. Tudo igual. Primeira prorrogação da história dos Predators. E as condições desse empate, com 51 segundos restando fez com que os Predators honrassem o nome no tempo extra, encurralando os Sharks. Os locais tiveram várias oportunidades para vencer a partida. Jordin Tootoo, nosso amigo Inuit desperdiçou a mais clara delas. Radulov também teve sua quota de desperdícios. E quem não faz...

Já na segunda prorrogação, Patrick Marleau deu um passe perfeito para o norte-americano Patrick Rissmiller, que vazou Vokoun com notável frieza. Quinta vitória seguida dos Sharks sobre os Predators em jogos de pós-temporada.

Jogo 2: Sangue ruim...

Em época de playoffs os membros dessa publicação dividem suas atenções. É interessante para a revista, já que assim uma quantidade maior de jogos podem ser analisados e depois ganhar precisas (ou não) observações em edições futuras. Mas, no momento em que o disco foi ao gelo para a segunda partida da série entre San Jose e Nashville, isso não foi possível. Simultaneamente aconteciam outros embates, mas os olhares, blocos de anotações e garrafas de Heineken estavam concentrados em apenas uma sala do complexo editorial Sloteano — mais especificamente na ala "Jari Pekka Kurri". Todos esperavam para ver como seria o segundo "round" dessa série. E como todos que estão acompanhando atentamente esses playoffs sabem, foi um jogo ímpar.

Após a já citada derrota na contenda inicial, Nashville sabia que esse era o momento justo. Só a vitória importava. Largar perdendo dois jogos dentro de casa, para depois ter que se recuperar frente a participativa torcida dos Sharks seria uma missão deveras complicada. Era imperial vencer, e os Predators triunfaram.

Assim que os homens de zebra deram início à partida, deu pra ver que o incidente envolvendo Hartnell e Cheechoo não passaria batido pelo lado californiano. Ryane Clowe acertou Paul Kariya com uma cotovelada. E era apenas o começo.

Felizmente não foi apenas esse lado viril do jogo que foi visto. A velocidade e a virtuosidade de certos atletas fizeram a torcida levantar de seus assentos diversas vezes. Dois desses virtuosos deram a resposta ao Sharks, após esses abrirem o placar. Primeiro foi Alexander Radulov. Fazendo apenas seu segundo jogo de pós-temporada na NHL, o russo vencia Nabokov pela terceira vez nessa série. Depois foi Peter Forsberg, que usou toda sua experiência para bater o promissor Marc-Edouard Vlasic e depois fazer o mesmo com Nabokov.

Mas logo a desordem voltaria a dar o tom. E a grosseria partiu logo de um dos virtuosos citados acima.

Radulov acertou uma cotovelada faraônica (?) em Steve Bernier. O atleta caiu com a face no gelo. E ali ficou, sem se movimentar, por alguns minutos. Muita confusão e o russo foi expulso do jogo, deixando de herança uma penalidade de cinco minutos desfavorável para sua equipe. Bernier precisou da ajude de seus companheiros para sair do gelo, e não voltou mais para partida. Pela segunda partida consecutiva Ron Wilson perdia um de seus homens após entradas impetuosas dos adversários do Tennessee.

E além de ter perdido Bernier, eles também perderam uma grande oportunidade dentro da própria partida ao desperdiçarem a vantagem numérica de cinco minutos. Insatisfeitos com isso, foram além. Mesmo com seu companheiro Ryan Suter no banco de castigo, J.P. Dumont fez o terceiro do time local. Como se diz naquele jargão popular, os Preds estavam vencendo no pau e no disco.

Os Sharks mudaram esse panorama, embora apenas no que se refira a bater. Com a vingança em andamento, uma vantagem de dois homens caiu no colo dos adversários e Dumont fez seu segundo gol na partida e quarto na série. Já no período final Clowe diminuiu a fatura, mas apenas seis tacadas de San Jose no período não foram o bastante para ameaçar. A meta dos Sharks chegou a ficar vazia, mas isso só serviu para que Peter Forsberg fechasse a conta. Mas isso se tratando de gols. Pro resto, faltava a saideira.

Ryane Clowe, Mike Grier e Scott Hannan por parte dos Sharks e Scott Hartnell, Jordin Tootoo e Jerred Smithson no lado dos Predators, resolveram suas diferenças no braço. O saldo de toda a partida foram consideráveis 141 minutos de penalidades, seis penalidades por brigas e seis expulsões.

Quando tudo isso acabou, a guerra de palavras entre as duas franquias apenas começou. Gostaria de traduzir alguma dessas declarações, mas como o curso de Inglês que eu freqüentava teve sua atividade suspensa devido a ilegalidades diversas, não vou arriscar. Apenas digo que as promessas de retaliação partiram de ambos os lados. Joe Thornton preferiu mandar um recado para o "disciplinador-chefe" Colin Campbell, dizendo que se é isso — violência desmedida — que a liga quer, isso é o que a liga terá. Colin Campbell respondeu suspendendo Radulov por uma partida. Ron Wilson achou pouco; Barry Trotz, um exagero.

Bem, tudo isso deu a entender que o próximo jogo no HP Pavilion seria uma continuação do que aconteceu no minuto final do jogo 2.

Jogo 3: Passeio no tanque

Todos esperavam algo parecido com as duas contendas anteriores. Bem, não aconteceu. Por isso mesmo serie mais breve do que nunca aqui.

Os Sharks contaram com o recuperado Steve Bernier. Seu algoz, Alexander Radulov, suspenso, fez falta ao anêmico ataque de Nashville, que fez com que Nabokov participasse ativamente da partida em apenas 20 ocasiões. Patrick Marleau e Milan Michalek brilharam. Joe Thornton foi um operário do disco, fazendo o trabalho sujo. A equipe de vantagem numérica dos Sharks, uma das melhores da temporada regular, continua podre nessa série. O placar adverso de 3-1 significou mais uma frustrada tentativa dos Preds de vencer uma partida de pós-temporada longe de seus domínios. E o jogo 4 vai acontecer daqui a pouco e esse é o motivo de isso ter sido tão pouco, tão breve...

Eduardo Costa ainda está com os punhos cerrados comemorando o título russo obtido pelo Metallurg Magnitogorsk no último final de semana.
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Tomas Vokoun é vazado por Craig Rivet. Vitória dos Sharks na segunda prorrogação do jogo 1.
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Steve Bernier caído apos levar uma cotovelada de Alexander Radulov: série com ares de guerra.
Bruce Bennett/Getty Images
Paul Kariya comemora. O inesquecível jogo 2 da série acabou com vitória dos Preds.
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Página publicada em 18 de abril de 2007.