Por: Thiago Leal

A varrida que não aconteceu

Tudo se encaminhava para uma varrida dos Ducks sobre o Wild, até que a franquia de Minnesota resolveu acordar. Com Bryzgalov no gol nas três primeiras partidas dos playoffs — Giguere fora afastado alegando "razões pessoais" —, os Ducks dependeram basicamente de um bom desempenho de Scott Niedermeyer, François Beauchemin e Chris Pronger, e sempre com um placar simples (2-1, 3-2 e 2-1), fecharam as três primeiras partidas da série de quartas-de-final. A situação levava a acreditar que os Ducks já estavam nas Semifinais de Conferência e teriam pela frente Vancouver Canucks, San Jose Sharks ou Nashville Predators. Até, pelo menos, 18 minutos e três segundos do segundo período deste jogo 4, em Minnesota. Pierre-Marc Bouchard pode ter assinalado o gol mais importante do Wild desta temporada.

Com gol de Pronger, o Anaheim levava para o terceiro período a vantagem que lhe garantiria classificação antecipada. O gol de Bouchard, depois de um rebote de Bryzgalov — que muito me lembrou Giguere... — acordou a fanática torcida de St. Paul e reacendeu o ânimo da franquia local. Depois de quase ter a série fechada numa varrida patética (sempre resultados com um mísero gol de diferença), o Wild tinha oportunidade de virar o jogo.

Em vantagem numérica — situação que já havia favorecido aos Ducks três vezes nessa série, incluindo uma nesta mesma noite —, o Wild virou o jogo com pouco mais de três minutos no terceiro período. Gaborik, assistido por Demitra e Rolston virou a partida. Sempre superior no jogo, o Wild dominou a última etapa e aumentou sua vantagem num espaço pouco maior que um minuto. Aos nove, Demitra novamente assistiu Rolston, que ampliou o placar. Aos dez foi a vez de Nummelin assistir Parrish e o Minnesota sacramentar sua primeira vitória na série. Giguere entrou no gelo pela primeira vez nesses playoffs para impedir que uma derrota moral maior abatesse o Anaheim. Mas com um ataque dormente e uma defesa aberta a chutes, não deu para novas alterações no quatro, e a partida ficou mesmo nos 4-1, sensacionais para o Wild.

O Minnesota vinha merecendo esta vitória desde que trouxe a série para casa, tendo uma atuação melhor no jogo 3 e o azar de, melhor num jogo que perdia por 1-0, sofrer um segundo gol aos dez minutos, esfriando time e torcida. Com os Ducks vencendo por 2-0 e se concentrando em defender, o Wild não teve mais condições de buscar resultado. Diminuiu o placar a 30 segundos do fim da partida em vantagem numérica, mas não foi suficiente para um empate.

O problema da franquia californiana neste jogo 4 pode ter sido justamente a ausência de François Beauchemin. O defensor foi quem mais atuou nas três partidas anteriores da primeira rodada. No jogo 3, Beauchemin sofreu um ferimento no queixo causado por um chute desferido por Parrish, que resultou em alguns pontos e na ausência do defensor nesta noite de terça-feira.

A importância de Beauchemin na série vai além de sua longa resistência no gelo. O franco-canadense foi responsável pela vitória dos Ducks no jogo 2, que levou o time com tranqüilidade para Minnesota a fim de protagonizar a já anunciada varrida que acabou não acontecendo nesta terça-feira. Mas é atrás que o rapaz faz diferença, e uma possível volta para o jogo 5, nesta quinta-feira, será providencial para aliviar a vida dos já atarefados Scott Niedermeyer e Chris Pronger e facilitar o trabalho do Anaheim.

Outra boa pergunta é... quem estará debaixo dos paus? Creio que, desta vez, a melhor escolha seja Giguere. Os Ducks já provaram que têm dois goleiros a quem podem recorrer, e sempre que um goleiro "se queima", como Bryzgalov nesta noite de terça, é bom que seja poupado para jogos mais à frente e deixe a "batata quente" nas mãos do homem mais experiente. No caso, o Giguere, que certamente será o titular nesta quinta.

Do lado de Minnesota, a torcida pode (e deve) confiar na sua linha um, que fez um trabalho excelente nesta terça-feira, principalmente pela atuação de Marian Gaborik e Pavol Demitra. O que chamou atenção neste jogo 4 foi também a atuação dos demais atacantes do Wild, especialmente Parrish, Radivojevic e Rolston. A esperança de uma vitória no jogo 5, que pode ser crucial para uma virada, mora na eficiência do rodízio de linhas no ataque, e continuidade da funcionalidade dessas mesmas linhas.

Claro, isso sem subestimar Brent Burns e Petteri Nummelin, grandes responsáveis pelas boas atuações do Minnesota em casa. Principais defensores da equipe que também tem em Nick Schultz um nome forte, os dois anularam Selanne, Getzlaf, McDonald e Kunitz, impediram boa parte dos chutes do Anaheim e facilitaram o trabalho de Backstrom. Isso faz muita diferença no placar.

Nesse patamar, o jogo 5 adquire uma característica curiosa — presente também no jogo 5 das Finais de Conferência na última temporada, entre Ducks e Oilers. Se os Ducks voltarem a ter o rendimento dos jogos 1 e 2 (em Anaheim), com uma atuação massiva no ataque e defensores mais atentos em proteger o gol, certamente a série se encerra e o time carimba seu ingresso para as semifinais. Mesmo apresentações inspiradas como o Wild teve nos dois últimos jogos podem ser insuficientes, uma vez que o Anaheim tem, de fato, um time superior. No entanto, se a ex-franquia da Disney repetir suas atuações dos jogos 3 e 4 e encontrar pela frente Gaborik & cia. com o mesmo nível dos jogos em Minnesota, a coisa complica. A série certamente cairá para 3-2 e o Minnesota pode ganhar confiança para uma virada heróica e histórica.

Vimos nesta terça-feira o perigo de uma varrida anunciada, principalmente quando a franquia em questão não justifica o favoritismo jogando no gelo adversário. Quinta-feira todas as questões aqui levantadas terão resposta: Beauchemin, Giguere, linha titular do Wild e, principalmente, qual será a situação desta série. É por isso que, em pós-temporada de NHL, um 3-1 pode se tornar bem divertido — ou bem chato.

Thiago Leal tem encontrado dificuldades para que as pessoas aceitem seu verdadeiro time de futebol: o glorioso Huddersfield Town, tricampeão de 1924-25-26, atualmente na terceira divisão inglesa.
Fonte: Wild.com
Gaborik, assistido por Rolston (12) e Demitra (38), vira o jogo 4 e mantém o Wild vivo na série. Notem na torcida um sujeito com a camisa dos saudosos North Stars.
Fonte: AnaheimDucks.com
Beauchemin comemora um de seus dois gols no jogo 2. O rapaz fez falta no jogo 4...
Fonte: Wild.com
Gaborik e Demitra, os dois eslovacos da linha titular do Wild, essenciais para uma possível virada na série.
Fonte: Wild.com
A barulhenta torcida de Minnesota. Acordá-la pode trazer conseqüências irreversíveis no gelo.
Arquivo TheSlot.com.br
Giguere, ainda nos tempos de "Mighty" da temporada 2002-03. O goleiro terá de repetir as atuações desse período para ajudar os Ducks.
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Página publicada em 18 de abril de 2007.