Por: Daniel Novais

Temporada chega, temporada termina e em Ottawa o dilema de um goleiro titular continua sem solução. Boa parte dos colunistas da NHL já apontou este eterno defeito do time da capital canadense como o grande responsável pelo talentoso grupo que atuou na franquia ao longo da última década não chegar à Copa Stanley. Bem, isso e a eterna falta de jogadores "cascudos", obviamente.

Não é necessária uma investigação tão profunda para ver de onde vem tal acusação. Fazendo um (não tão) breve retrospecto dos goleiros que passaram por Ottawa, isso só se confirma.

1992-93
Daniel Berthiaume
Peter Sidorkiewicz

Conhece algum dos dois? Nem eu. Combinaram para 345 gols sofridos em 89 aparições (sim, isso deve incluir algumas substituições entre eles no meio do jogo, especialmente com esse volume de gols sofridos).

1993-94
Craig Billington
Darrin Madeley

Ficou na mesma? Eu também. O destaque vai para o fenômeno Berthiaume (sim, o mesmo da temporada anterior!), que atuou em apenas uma partida, durante um minuto, sofrendo dois gols e fazendo nenhuma defesa, para a espetacular média de 120 (!) gols sofridos por jogo.

1994-95
Don Beaupre

Na temporada cortada pelo locaute, Beaupre assumiu a meta da equipe na maior parte da temporada, sem apresentar grandes números.

1995-96
Damian Rhodes
Don Beaupre
Mike Bales

Dividindo as atividades quase igualitariamente, Beaupre e Bales continuavam a saga de atuações medíocres. Rhodes surgia como luz no fim do túnel, sendo o primeiro goleiro a postar um percentual de defesas superior a 90%.

1996 a 1999
Damian Rhodes
Ron Tugnutt

Durante os primeiros anos de sucesso na NHL, os Senators rodaram ambos os goleiros buscando encontrar seu número um. Nenhum dos dois foi capaz de se estabelecer no período como claro titular do time. O destino deles foi semelhante: acabaram em franquias de expansão, com Rhodes encerrando a sua carreira com os Thrashers em 2001-02 e Tugnutt nos Jackets, vindo ainda a ser reserva nos Stars antes de se aposentar.

1999-2000
O experimento Tom Barrasso

Na esperança de finalmente chegar mais longe nos playoffs — àquela altura, já eram três aparições e apenas uma série vencida —, os Sens contratam Barrasso em troca por Tugnutt e o defensor Janne Laukkanen com os Penguins. O destino seria ainda pior. Barrasso falhou em três das quatro derrotas frente aos arquirivais Leafs, demonstrando que seus anos de glória já estavam no passado (remoto, por sinal), quando ajudou os Penguins na conquista de duas Copas Stanley.

2000 a 2005
A constância de Patrick Lalime

Os Sens viveram seus melhores anos no período em que Lalime foi dono absoluto da meta da franquia. O que não se converteu em sucesso, exceto por uma frustrante derrota nas finais de conferência de 2003 frente aos Devils nos minutos finais do jogo 7. Esta série demonstrou claramente a diferença de um goleiro de elite, onde Brodeur acabou se tornando o destaque e levou o Troféu Vezina naquela temporada.

2005-06
O experimento Dominik Hasek

Trazendo um goleiro considerado "velho" para a liga, os Senators resolveram apostar sua ficha numa nova cara. Murray e Muckler passar a comandar a equipe, e Hasek seria o goleiro para ajudar a equipe a mudar a sua história de fracassos. Seria. Após uma estranha contusão nos Jogos Olímpicos de inverno, Hasek não mais voltou a atuar, deixando o time nas mãos do inexperiente Ray Emery, culminando em mais uma derrota prematura.

2006 a 2008
O dueto Martin Gerber e Ray Emery e a teoria de "quem ganha, joga"

Murray e Paddock tentaram fazer de Gerber um verdadeiro número 1, mesmo depois de perder o posto de titular nas duas franquias em que atuou anteriormente, Ducks e Canes — curiosamente, ambas as franquias acabaram campeãs com seus novos número 1. Não funcionou, e Gerber acabou superado por Emery com o passar do tempo.

Emery parecia ser a solução definitiva para os problemas de goleiro em Ottawa, especialmente após participar da equipe de 2007-2008 que ficou a três jogos da Copa. Porém, após a cirurgia no pulso no período entre as temporadas, as atitudes de Emery fora do gelo passaram a ter mais destaque do que a sua atuação, levando de volta Gerber ao gol.

Com uma franquia esmigalhada pelos problemas fora do gelo, Gerber volta a assumir o posto de número 1, sendo parte do vergonhoso fim de temporada 2007-2008, com os Sens quase ficando de fora dos playoffs e sendo varridos e dominados pelos Penguins na primeira fase.

Toda essa história nos leva aos dias atuais. Já são 17 temporadas completas e os Sens só tiveram um goleiro de elite durante metade de uma temporada regular, em Hasek. Não à toa, essa é uma posição que sofre uma pressão ainda maior, especialmente numa cidade e com um elenco que todos já esperavam que já tivesse uma Copa a essa altura.

Gerber começou com mais uma chance de levar o posto de número 1 e finalmente, aos 36 anos, mostrar que pertence à elite da liga. Infelizmente, mais uma vez, foi incapaz de se manter na posição. Com gols questionáveis sofridos em todo os jogos que atuou, Gerber parece condenado a ter como seu grande feito histórico a atuação brilhante pela equipe da Suíça nos Jogos Olímpicos de inverno de 2006, quando fez nada menos do que 49 defesas frente ao Canadá dando a vitória para o seu país natal por 2-0.

Agora, Alex Auld assume o posto de titular provisoriamente na capital canadense. Até agora, tem justificado a confiança. Com o quarto melhor percentual de defesas e a terceira menor média de gols sofridos por partida, o experimento tem sido um sucesso. Não à toa. Tudo o que os Senators precisam é de um goleiro que consiga defender as tacadas de longe e defensáveis, sem mágica. Com uma defesa que conta com dois dos maiores bloqueadores de tacadas da liga em Smith e Volchenkov, mais um dos melhores defensores defensivos em Chris Phillips, isso é suficiente. Usando seu corpanzil de mais de 2,00 metros de altura, Auld tem estado à altura (trocadilhos a parte) do posto.

Para consolo e esperança dos torcedores, podemos citar aqui o último campeão da Copa. Com um sistema bem estabelecido, jogadores disciplinados e talentosos, o goleiro pode se tornar peça secundária na conquista da Copa Stanley. Como nos Sens esses quesitos ainda parecem um pouco distantes de ser alcançados, só Roberto Luongo salva. Ou Henrik Lundqvist. Ou até, quem sabe, Tomas Vokoun. Droga, realmente os Sens devem ser a equipe com o goleiro número 1 menos confiável em toda a liga.

Se você torce para uma equipe que tem um claro número 1, se anime. Não são todos que podem dizer isso.

Se você torce pros Senators, também se anime. E aproveite a boa série de jogos de Auld. Pode não durar muito tempo.

Daniel Novais torce para os Sens e, apesar dos últimos bons resultados, ainda está bem pessimista para a temporada.
Edição Atual | Edições anteriores | Sobre TheSlot.com.br | Comunidade no Orkut | Contato
© 2002-08 TheSlot.com.br. Todos os direitos reservados. Permitida a reprodução do conteúdo escrito, desde que citados autor e fonte.
Página publicada em 5 de novembro de 2008.