Por: Eduardo Costa

Além de seus reflexos ímpares, da soberba colocação e do controle de disco que o transforma muitas vezes no terceiro linha azul de sua equipe, Martin Brodeur impressiona pela resistência. Uma durabilidade que dava a Kevin Weekes o melhor assento para se assistir a um jogo de hóquei na América do Norte.
 
Vencedor de quatro dos últimos cinco Troféus Vezina e dono de três Copas Stanley em 15 anos de titularidade, Brodeur havia perdido apenas oito embates por contusão em sua carreira na NHL. Esteve em 70 ou mais jogos em cada uma das dez últimas temporadas. Dono também da menor média de gols sofridos (2,20) da era moderna.
 
Até que um inimaginável pesadelo atingiu o gerente geral Lou Lamoriello e sua trupe com a força de uma tormenta.
 
A vitória de 6-1 sobre o Atlanta Thrashers não evocará boas lembranças ao New Jersey Devils. O embate contra a equipe da Geórgia era o 51.º consecutivo em que Brodeur entrava como titular. Ao tentar defender com a luva um chute, durante o segundo período, o goleiro acusou o golpe.
 
O diagnóstico foi cruel. Era necessária uma cirurgia no cotovelo esquerdo para reparar um problema no bíceps. Lamoriello foi o mensageiro da notícia que os torcedores do time de Newark não queriam escutar: terão que ver sua equipe sem Brodeur por um período de três a quatro meses.
 
A séria contusão chega logo em uma temporada onde o franco-canadense tinha grandes chances de obter dois recordes fenomenais, que sacramentariam seu nome no topo da posição. Se a recuperação for bem sucedida, os oito triunfos necessários para ultrapassar Patrick Roy na lista de maior vencedor de todos os tempos devem ser obtidos ainda nessa campanha. Mas acumular mais seis jogos sem sofrer gol parece uma tarefa árdua até mesmo para ele. Dono de 98 jogos "perfeitos", ele deve ultrapassar Terry Sawchuk apenas no segundo semestre de 2009.
 
Mais do que perder seu símbolo, os Devils ficam sem seu maior diferencial. Sem o atleta que manteve o time vencedor mesmo quando todos apostavam na curva descendente da franquia.
 
Não foram poucas as vezes que anunciaram a queda do time rubro-negro. No íntimo, muitos gostariam que o sistema conservador e pouco atraente, que é a marca da franquia, afundassem junto com o time na tabela. Mas os Devils seguiram firmes, amparados de forma fundamental nos recursos infindáveis do goleiro mais regular de sua geração.
 
Lembram do forte grupo de defensores? Scott Stevens e seus trancos demolidores só podem ser vistos em gloriosos videoteipes e nas memórias ricas de quem pôde presenciá-lo em atividade. Scott Niedermayer preferiu uma proposta financeira inferior para ser campeão da Copa ao lado do seu irmão, Rob, no Anaheim Ducks. Brian Rafalski também seguiu o caminho do coração (?) e hoje defende os Red Wings, equipe de seu estado natal, Michigan.
 
Também não foram poucos os que associavam as ótimas estatísticas do goleiro ao sistema defensivo já citado e aos também lembrados nobres nomes presentes na linha azul.
 
Agora vejam os defensores do time nas últimas temporadas. Quando seu linha azul mais talentoso é Paul Martin, é bom mesmo ter o melhor homem disponível entre as traves. Os Devils tiveram a quarta defesa menos vazada da última temporada e estão entre as oito na atual. Não foi por acaso que os Troféus Vezina chegaram em bom número nos últimos anos.
 
Mas, e agora, como sobreviverão sem seu principal pilar? A herança pesará para Kevin Weekes e Scott Clemmensen?
 
Quem terá que tirar truques da cartola é o treinador Brent Sutter. A perda de Brodeur afetará não apenas a tarefa de impedir os tentos adversários, mas também iniciar a busca por eles. Brodeur possui um passe e um controle de disco superiores a muitos atletas de linha da liga — alguém aí disse Andreas Lilja? Habilidades que não encontram paralelo em nenhum outro arqueiro. A equipe terá que aprender a jogar sem seu "terceiro" defensor.
 
"Quando você tem Marty Brodeur como seu goleiro e ele estará fora por um bom tempo, certamente é como um soco no estômago, mas você tem que seguir adiante," disse Sutter. "Estou confiante e acredito que os atletas aqui irão fazer o que é necessário para seguir brigando."
 
Ainda é cedo para saber como o elenco reagirá. A única coisa certa é que isso contribuirá para públicos ainda menores no belo Prudential Center. Sem o chamariz essencial, os dois últimos públicos, somados, não encheria o United Center, arena do Chicago Blackhawks.
 
No gelo, a primeira grande prova após saber da gravidade da contusão de Brodeur foi contra o Tampa Bay Lightning. A vitória ganharia muita importância devido a um personagem de muita fama e pouco gabarito. Barry Melrose no ano passado "alertou" os torcedores que fossem ao Prudential Center que tomassem cuidado com seus pertences. Trocando em miúdos (?), ele qualificou a área como reduto da ladroagem. Depois assumiu que sequer conhecia pessoalmente a área e seus comentários tinham como base as imagens de transmissões. Era apenas Melrose sendo o estúpido de sempre.
 
Tendo Brodeur atuando como torcedor de luxo, e também sofrendo com desfalques em outros setores, o time obteve o sucesso contra os Bolts nos tiros livres. Weekes? Basta dizer que parou o especialista em penalidades máximas Jussi Jokinen. A vitória deixou a equipe na quinta posição na Conferência Leste. Óbvio que a verdadeira face desses Devils sem Brodeur será vista nos próximos confrontos. No horizonte mais próximo estão os Red Wings. Algumas noites depois o clássico contra os Rangers.

Por muitos embates Brodeur manteve o time competitivo. O elenco agora tem a dura tarefa de fazer com que seu máximo expoente tenha a chance de, daqui a alguns meses, reassumir a nau com reais possibilidades de playoffs. Nada mais merecido para quem já fez tanto. E voltará a fazer.

Eduardo Costa teve que driblar a queda de energia para entregar esta coluna.
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Página publicada em 5 de novembro de 2008.